Arquivo da categoria: Memória & Consciência

Resistencia

imagesUna letra en la hoja es el comienzo. Todo se organiza a partir de este simple acto. “Zapatero a tus zapatos,” solía decir mi madre. Cada uno que se ocupe de lo que le concierne.

Esto es saludable, adecuado y justo. Justicia. Esta es la palabra que más me moviliza. Lo que es justo. Combatir lo que es injusto. Esto tiene que ver con mi historia de vida. Las heridas cicatrizadas se transforman en competencia sanadora.

Combatir el golpe de Estado desde un teclado, es relativamente cómodo. No creo que a esta altura de la vida, deba reprochármelo. Peor sería no combatirlo, estar indiferente, mientras se desmantela el sistema político brasileño para atender a los caprichos y a los intereses de la oligarquía antinacional y antisocial.

Creo que hay tiempo para cada cosa. Hubo tiempos en que salía a las calles a enfrentar la dictadura. Hoy salgo al aire a través de estos y otros escritos, sumándome a todo un movimiento vasto e intenso, de resistencia a la dictadura light que se pretende imponer en Brasil.

Esto me refuerza en el sentido de mi vida. El día viene clareando. Es el cumpleaños de mi padre. Ayer pasamos un lindo rato viendo videos de canciones. Frank Sinatra. André Rieu. Los Beatles. Vienen emociones. Sentimientos. Hoy es domingo. Día de la familia.

La familia. El tejido más tenue. Hace un ratito pensaba cómo es que me hice escritor. Fue mi familia, la que me fue trayendo a esta orilla, a este afán de hacerme un lugar en el mundo de esta manera.

También mis amigos y amigas, me fueron dando ecos, resonancias de este oficio en el que me hago al ponerme en letras. Uno se va reconociendo en las otras personas, y las otras personas se reconocen en lo que uno escribe. Así se va formando un mundo unificado.

A partir de que me fui reconociendo como parte de la escritura general de la vida, fui teniendo una paz que me sorprende y me contiene. Desde este lugar en movimiento, respiro y vivo. Las hojas van dando vueltas, el viento va pasando las páginas, y en este pasar, todo ocupa su lugar, un lugar que se intercepta con todos los demás lugares.

Renaciendo

Si todavía pudiera, al soltar una palabra sobre la hoja, volver a encontrar más fuerzas para proseguir.

Si con ese simple gesto, al volver a mi lugar, pudiera reencontrar la solidez de actuar en favor de lo que es justo. Si apenas al escribir, consiguiera barrer de mi alma toda mezquindad, toda pequeñez, toda basura de esas que nos ciegan y nos hacen actuar desatinadamente.

Si esta mañana de agosto pudiera, al venir al papel, otra vez aquí encontrar mi inocencia de niño. Y saber que en el fondo nada cambió, y todo es tan distinto, sin embargo. Los barquitos en la acequia. El lago del parque. Las montañas nevadas.

Todo está como siempre estuvo. Todo es tan igual, y tan distinto sin embargo. Han pasado ya tantos años desde aquellos días. Todo está tan vivo en la memoria, sin embargo. Ya los cantos, ya las marchas, ya las idas a los barrios. Todo está de pie. Todo está tan vivo.

Aquellos sueños brotaron con el tiempo, después de que todo pareció acabar. Los sueños crecen y aparecen. Brotan después de los inviernos. Las plantas nos dicen que podemos esperar, que hay que esperar. Esto tendré que aprender, ahora ya en mi ocaso. Esperar aquella luz inextinguible, que permanece en medio de la oscuridad.

Jornal Terra Livre: ‘o que precisamos para ter um semanário?’

Número 58 do diário comunista ‘Terra Livre’, de julho de 1955.

O jornal Terra Livre é o jornal do Partido Comunista Brasileiro (PCB) dedicado a organizar os trabalhadores rurais de todo o Brasil. Fundado em 1949, era editado em São Paulo.

“Atentando para as variadas formas de trabalho no campo, o jornal procurava falar para um grupo heterogêneo de trabalhadores, arrendatários, meeiros, colonos, posseiros e assalariados rurais, estimulando o surgimento de organizações, por meio de associações e sindicatos, e apoiando suas reivindicações locais”, comenta Carlos Leandro da Silva Esteves, que escreve sobre o tema em sua dissertação em 20071.

Para chegar a este público, a linguagem deveria ser simples. Leonilde Servolo de Medeiros comenta: “Estimulava-se sua leitura em pequenos grupos onde, quem fosse alfabetizado, deveria ler em voz alta para os demais. Eram constantes as mensagens existentes no jornal nesse sentido”2. Tratava-se naquele momento de construir uma “nova linguagem e a constituição de uma identidade e imagem de classe”3.

João Pedro Stédile, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, lembra que no auge de sua publicação, o Terra Livre chegou a ter uma circulação de impressionantes 60 mil exemplares. Deixou de existir com a instauração do golpe militar de março de 1964.4

O jornal teve como principal diretor Declieux Crispim Sobrinho, falecido em 13 de agosto de 1962 em Brasília. Declieux foi, segundo o editorial do Terra Livre de setembro de 1962, advogado e jornalista, lutador das causas sociais comunistas, dirigindo jornais que imprimiam esses ideais. Militou e foi um dos fundadores do jornal Tribuna Popular e colaborador em vários jornais cariocas e paulistas, tendo participado também das organizações de jovens lavradores e assalariados agrícolas como estudioso dos problemas do campo e ligado às lutas dos camponeses pela reforma agrária e diminuição da miséria no país.5

O editorial do número 58 do Terra Livre, de julho de 19556, fala sobre o desafio de o jornal se tornar semanal – à época saia de 15 em 15 dias. A solução é a realização de uma campanha financeira nacional com todos os lavradores do Brasil – o que hoje inglesamos para “crowdfunding”, ou financiamento coletivo. O texto é assinado por Declieux e intitulado “O que precisamos para ter um seminário”.

Terra Livre não é do tipo desses grandes jornais que são como uma casa de negócios e têm enormes lucros. O nosso jornal não dá lucro”, explica didaticamente o editor. “Nós confiamos nos nossos amigos espalhados pelo Brasil inteiro e a todos eles dirigimos este apelo: Terra Livre não pode viver sem a vossa ajuda! Se ele existe, é unicamente para servir aos interesses dos trabalhadores da roça e das usinas de açúcar. Não existe para nenhuma outra coisa.”

Ao final, reforça o objetivo do pedido: “(…) assim ele poderá publicar todas as notícias e cartas que receber e ajudará mais a luta dos homens da roça pela melhoria da sua situação”. Mesmo sem ter grande sucesso neste campanha, o semanário foi um importante instrumento de luta pela terra, até ser interrompido pela brutalidade do golpe militar. Mais tarde, o jornal ganharia um slogan: “A terra para os que nela trabalham”.

NOTAS

1 Esteves, 2007, p.117-118. Disponível em http://bit.ly/29y92l9

2 Idem.

3 Idem.

4 Stédile, “Terra Livre; o sonho continua!”, ver http://bit.ly/29yalk8

5 Enderson Medeiros, 2016, p.25. Disponível em http://bit.ly/29yafcc

6 Disponível em http://bit.ly/29yaW5c

Não será na Praça dos 3 Poderes nem na República de Curitiba que vai chegar o nosso carnaval

Mal sabíamos quão insatisfatório seria o porvir

Quando o Carnaval Chegar é a canção mais emblemática do período que vai da derrota da luta armada até a redemocratização do Brasil.

Depois que a imensa superioridade de forças do inimigo condenou ao fracasso a heroica tentativa de sairmos da ditadura pela porta da frente, só nos restou mesmo a longa espera de que ela ruísse em decorrência de suas próprias contradições.

Houve, claro, momentos fulgurantes como o do repúdio ao bárbaro assassinato de Vladimir Herzog em 1975, mas todos sabíamos que uma missa não expeliria os militares do poder que exerciam como usurpadores e déspotas.

E existia a resistência cotidiana aos abusos e atrocidades, cujo símbolo mais marcante foram D. Paulo Evaristo Arns e sua abnegada equipe, o embrião do Tortura Nunca Mais.

Um marco: a missa de 7º dia de Vladimir Herzog.

Mas, não estava em nossas mãos darmos um fim à ditadura. Sentíamos-nos exatamente como Chico Buarque descreveu: “Quem me vê sempre parado, distante, garante que eu não sei sambar/ Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”.

Lá por meados da década de 1970, quando terminou o último dos quatro julgamentos a que fui submetido em auditorias militares, eu tive de fazer minha opção: permanecer ou não no Brasil?

Ao ser libertado, ainda sob o impacto de tudo que sofrera nos porões, decidira embarcar tão-logo pudesse fazê-lo legalmente, já que não tinha como montar um esquema de fuga minimamente confiável.

Mas, aos poucos, foram-me voltando os sonhos, as elucubrações sobre o que faríamos quando, findo o pesadelo, pudéssemos finalmente reconstruir este país. “Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar / Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”.

Não saímos da ditadura pela porta da frente

Muito mais do que quando militava na VPR, tinha a noção exata do que precisava ser feito para o Brasil voltar a ser, pelo menos, uma nação civilizada. Nos bares, nosso refúgio, eu e os amigos discutíamos ponto por ponto as medidas a serem tomadas no glorioso day after.

Era nosso lenitivo para continuarmos engolindo os sapos de cada dia. “E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar / Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”.

Mas, a classe política frustrou nossas esperanças e destruiu nossos sonhos. Com a ditadura já agonizante, manobrou para que fosse rejeitada a Emenda Dante de Oliveira, que restituiria o poder a quem de direito, os cidadãos eleitores deste país.

E o maquiavélico Tancredo Neves pôde, triunfalmente, anunciar que chegara “a hora dos profissionais”. O candidato da ditadura, Paulo Maluf, não seria detonado pelo povo nas urnas, mas sim por umas poucas centenas de parlamentares no Colégio Eleitoral que se constituía num símbolo gritante da exclusão do povo na tomada das grandes decisões nacionais.

Pior: Maluf seria derrotado graças aos votos de congressistas que, como ratos, abandonaram o navio da ditadura que já fazia água, para assegurarem a manutenção dos seus privilégios na Nova República.

Os crimes da ditadura ficaram impunes

A indústria cultural, com a Rede Globo à frente, conseguiu vender a ilusão de que tanto dava a diretas-já quanto a vitória no espúrio Colégio Eleitoral. A longa agonia pública de Tancredo Neves era a peça que faltava no quebra-cabeças. A pieguice obnubilou as consciências. Os maus venceram, como quase sempre.

E tocada, entre outros, pelos que haviam sido sustentáculos da ditadura, a redemocratização ficou pela metade, como convinha à burguesia, que antes exercia o poder por meio dos fardados, depois passou a exercê-lo por meio de civis safados.

Nem sequer foram punidos os assassinos seriais da ditadura. Nem sequer foram devolvidos os corpos de companheiros martirizados. “Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar”. E não adiantou esperar o carnaval, pois ele não chegou.

Gato escaldado, nunca mais acreditei que a redenção dos males brasileiros pudesse provir das tempestades em copo d’água da política oficial. Sabia/sei que a chegada do carnaval não depende da desgraça momentânea do Eduardo Cunha, do Renan Calheiros, do Maluf, do Sarney, do Lula, do Collor, da Dilma, dos mensaleiros, dos vilões do petrolão, da máfia das estatais como um todo, etc.

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Esses senhores nunca determinaram os acontecimentos, apenas cumprem/cumpriram determinadas funções dentro do sistema de exercício e sustentação do poder burguês. Então, enquanto as funções em si não forem extintas, suas agruras só servirão para jogar poeira colorida nos olhos do povo.

Historicamente, os surtos moralizantes eram apenas uma espécie de sacrifício ritual para servir como catarse aos de fora. Ao tombar algum desses espantalhos, a indústria cultural criava a ilusão de que a justiça tinha sido feita e as instituições haviam funcionado. Mas, saíam uns, entravam imediatamente outros e a podridão seguia sendo a mesma.

Mesmo agora que criminosos da política e dos negócios estão sendo sentenciados à prisão em escala nunca dantes vista neste país, dá para se perceber que em algum ponto antes da conclusão da faxina a escalada justiceira vai ser detida.

Freud não explica o Brasil. O Lampedusa, sim…

Por um motivo muito simples: a corrupção é tão abrangente e suprapartidária que, se apurada até as últimas consequências, os poderes Executivo e Legislativo esfarelarão de vez; e isto não convém aos interesses do poder econômico, aquele que manda e desmanda sob o capitalismo, movimentando os cordéis por trás das cortinas,  enquanto são encenadas tempestades de som e fúria significando nada (Shakespeare).

E o que virá depois? Presumivelmente, corruptores e corrompidos que saberão esconder melhor as pistas e provas de suas maracutaias, não deixando as digitais nelas impressas nem papagaiando tão ingenuamente com interlocutores que os podem estar gravando.

O carnaval que redimirá o Brasil só vai chegar quando nossa gente assumir a iniciativa de ela própria colocá-lo nas ruas, sem se deixar iludir pelo jogo-de-cena dos três Poderes, cujo sentido maior foi decifrado por Giuseppe di Lampedusa na sua frase célebre: “Se queremos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude”.

O fascismo não me impressiona

Jornal O Dia, 3 de abril de 1964: “Fabulosa demonstração de repulsa ao comunismo”.

É importante esclarecer: o fascismo e mesmo ideias neonazistas, longe de ser um anacronismo histórico, não deveria impressionar. Combater, mas não impressionar. Muito menos perder nosso tempo em inutilidades.

Hoje, a Polícia Militar – forma mais visível do regime militar – ainda opera sem comando civil em muitos casos, sendo responsável por 20 a 25% dos assassinatos no Rio (http://bit.ly/1OuqFvZ) e em São Paulo (http://glo.bo/1OuqHUq). Como os fascistas envergonhados reagem? Que absurdo, tem que investigar, não deveria acontecer – e acabou por aí, todos felizes porque não é comigo. E os fascistas honestos? Era bandido, um a menos.

Podemos, assim, entender como acontecia no regime militar. Sumiu? Foi torturado? Assassinado? Era “comunista”, não merecia mesmo viver, alguma coisa ele fez. É só não se meter em “confusão” que não morre.

Essa lógica continua. Não começou no governo Temer, e agora só tende a piorar, visto que o ex-comandante dessa polícia assassina é nosso ministro da “Justiça e Cidadania”.

Não se impressione com fascistas. São pessoas que adoram uma ditadura e seu sonho é ver a violência resolvida na base da porrada e da tortura. O ideal de nação dessas pessoas é um desses países do Oriente Médio, como a Arábia Saudita ou o Barein, em que a imprensa só fala o que é “correto”, os defensores de direitos humanos são exemplarmente presos e a economia, por ser previsível e na mão de poucos, “dá certo”.

Brigar com um fascista numa discussão estéril na Internet só tira o precioso tempo de mobilização real pró-democracia. Não vale a pena. Fascistas vão aceitar qualquer coisa, até mesmo o extermínio físico da oposição, para ter um governo de “homens de bem”. Temos exemplos incontáveis na História e na Internet.

Outro interesse possível são daqueles que querem entender o fascismo, suas raízes, o discurso público em torno dele etc. Sugestão: entre no site da Biblioteca Nacional e busque os jornais dos anos 1930. É rápido e eficiente. Não precisa gastar horas em debates infrutíferos de gente que não sabe nem o que é direitos humanos direito.

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Com tanto fundamentalista religioso no governo biônico, fico imaginando os primeiros anúncios desta segunda: “Abençoados, cortamos os programas sociais, mas como descreve Êxodo 16:3, o Senhor lhes fará chover pão do céu e o povo sairá e recolherá diariamente a porção necessária para aquele dia”.

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No fundo a gente agora tem medo de entrar no Facebook e encontrar aquelas manchetes loucas do tipo “Temer anuncia concessão de Ministério da Educação para a Fundação Bradesco”.

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Só para não nos perdermos: 14 empresários de mídia super conhecidos foram citados há pouquíssimos dias nos Panama Papers junto com suas robustas contas no exterior. Alguém viu matérias na TV sobre isso? Ou mesmo nos jornalões?

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“Não reclame da crise, trabalhe”, diz Michel Temer.

Querido, a juventude de hoje estuda, trabalha, arranja treta no whatsapp, tem dois ou três peguetes e reclama da crise. Bem-vindo ao século 21.

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“A única certeza de Temer sobre a Cultura é que deve ser rebaixada” – confira aqui a excelente entrevista com o ex-secretário-executivo do Ministério da Cultura sobre o momento atual. Imperdível.

Falando nisso, a Diretoria Executiva da EBC soltou nota sobre as ameaças que pairam sobre a instituição, que busca ser pública – e não estatal –, seguindo modelos bem-sucedidos internacionais de um sistema público de comunicação independente. Leia aqui.

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Eu admito minha burrice: repeti duas vezes na escola, inclusive em Matemática.
Claro que eu não chegou ao ápice de dizer que esta é a pior crise econômica da História do Brasil. Mas mesmo assim eu era um dos mais burros da sala.

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Para que a semana não comece tão dura:

Em tempos de inconfidências e golpes

A cada 21 de abril, o Brasil para em memória dos homens e mulheres que, no século XVIII, fizeram a Inconfidência Mineira para libertar o país do império português. Até hoje, continuamos a ter de vencer novas formas de colonialismo que tentam dominar o Brasil e toda a América Latina. Mais do que nunca, é preciso lutar por uma verdadeira “liberdade ainda que tardia”.

Nesses dias, o Brasil parou no domingo anterior ao dia 21. Nesse dia, o Congresso Nacional foi transformado em picadeiro de circo romano. Ali, a democracia constitucional foi atirada aos leões. Feras humanas deram ao mundo o triste espetáculo de marionetes que se orgulham de ser manobradas por forças mais ou menos ocultas que os financiam. Ali, os brasileiros viram o espetáculo não da inconfidência pela liberdade, mas de um golpe, a favor do Império e dos interesses mesquinhos de uma elite que nunca aceitou perder seus privilégios.

Atualmente, o império é outro e as condições sociais e políticas do continente são diferentes das que vivíamos no século XVIII. Entretanto, a cada momento, a independência social e política nossa, assim como a de todos os países-irmãos da América Latina, conquistada depois de tantas luta e sangue, está em perigo. Na América Latina, o governo dos Estados Unidos tem como prioridade retomar uma hegemonia na região, através do controle do comércio, perdido no início dos anos 2000. Em pleno século XXI, as embaixadas norte-americanas em nossos países continuam a financiar golpes de Estado e suscitar a desestabilização social e política em nossos países. O governo norte-americano financiou o golpe militar em Honduras, (2009) e no Paraguai (2012). Financia a oposição ao governo bolivariano da Venezuela e faz de tudo para destruir o caminho iniciado pelos governos da Bolívia e Equador. Agora, a presidente Dilma está sendo vítima desse golpe parlamentar. No domingo, ela foi condenada não pelos eventuais defeitos do seu governo e do seu estilo pessoal, mas exatamente pelo compromisso social do governo com os movimentos sociais e porque, embora com algumas contradições, representa uma iniciativa nova de independência brasileira e latino-americana frente ao Império.

O sociólogo Paulo Canabrava Filho escreve: “Junto com Chile, Colômbia, México, Costa Rica e Panamá, o Peru assinou a “Aliança do Pacífico”, acordo de cooperação política, militar e de inteligência, assim como de livre comércio com os Estados Unidos. E o governo norte-americano já instalou 12 bases miliares em território peruano, com o pretexto de combate ao narcotráfico. O número de marines desembarcados (ou invasores?) pode chegar a dez o doze mil” (Revista Diálogos do Sul, março 2016). No Equador, o presidente Rafael Correia declarou que o seu país está totalmente aberto a que os Estados Unidos instalem bases militares no Equador, desde que o governo norte-americano também permita ao Equador instalar bases militares suas em território norte-americano.

Do mesmo modo, nos dias turbulentos que vive o Brasil, é preciso ver o que está por trás de tudo isso que está acontecendo. O mais importante de tudo não é a luta contra a corrupção, já que muitos dos que a lideram estão mais do que envolvidos na mesma corrupção que fingem combater. A própria questão do impedimento da presidente também não é a meta final que almejam. Por trás de toda essa luta para criar o caos no Brasil, o projeto é impor outra política econômica e social. Trata-se de mudar as leis trabalhistas, em prejuízo dos assalariados, principalmente, revogar a política de valorização do salário mínimo; implantar a terceirização irrestrita da mão-de-obra, entregar as reservas de petróleo do pré-sal às empresas transnacionais, privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Introduzir o ensino pago nas universidades federais, primeiro passo para a privatização. Além disso, o governo do golpe deve dar sinal verde ao agronegócio para expulsar os índios de suas terras. Acima de tudo, precisa eliminar a política externa independente e retomar o papel que o Brasil tinha antes de serviçal dos Estados Unidos. É isso que está em jogo e muitos brasileiros não querem ver.

Quem crê em Deus sabe que ele sempre vê a realidade a partir dos mais empobrecidos e carentes. Na Inconfidência Mineira, havia padres e religiosos envolvidos na luta. Nessa luta atual, como cidadãos, defendemos a Constituição e o Estado de Direito. No entanto, quem é cristão é chamado a ir além disso. Tem de formar com os movimentos sociais e lutar pacificamente por uma justiça que vai além da justiça dos homens. Nessa mesma semana de Tiradentes, celebramos os 20 anos do massacre dos lavradores sem-terra em Eldorado de Carajás. Nesse 19 de abril, celebramos o dia latino-americano do índio, até hoje, vítima desse modelo de desenvolvimento elitista e sem coração. Ao defender os interesses dos pequeninos e lutar por um governo a serviço dos mais empobrecidos, nos colocamos do lado de Jesus que se identifica com os pequeninos e as vítimas desse modelo de desenvolvimento que nos domina. Esse é o lado no qual devemos estar todos nós.

A Batalha de Riachuelo. Uma vitória sem imediato seguimento

Cópia do original de Vitor Meirelles: a Batalha Naval do Riachuelo. Dim. 2,00m x 1,15m. Autor: Oscar Pereira da Silva (1867-1939).

Em 11 de junho de 1865, a parte substancial da improvisada marinha de guerra paraguaia atacou poderosa divisão naval do Império do Brasil, estabelecendo importante batalha fluvial diante do Riachuelo, pequeno afluente da margem esquerda do rio Paraná.

Com a arriscada operação, o comando paraguaio pretendia abordar e apoderar-se de barcos imperiais, impondo o seu domínio ao braço superior daquele rio, imprescindível à continuação da ofensiva terrestre no Rio Grande do Sul e em Corrientes.

A operação resultou em fragorosa derrota paraguaia. Porém, nos meses seguintes, a marinha imperial cedeu o controle do alto-Paraná às forças paraguaias, que tivera sua marinha desmantelada.

Leia o artigo clicando aqui.

A mídia e o condomínio do golpe

Por Robério Machado

O condomínio do golpe está constituído pela confluência de vários setores da sociedade.

Para simplificar, denomino-os de “anéis”, dentre os quais se destacam, em ordem alfabética: o empresarial, o financeiro, o geopolítico, o judiciário e o midiático. Não é o caso de discutir a questão, importantíssima, sobre qual deles detém a primazia. Trata-se de um ponto não consensual, que nos levaria a delinear uma teoria da fase atual do capitalismo.

Importa aqui, porém, determinar o papel do anel midiático. Ele se tornou a face mais visível da movimentação golpista por conta de sua capacidade de difundir versões, isto é, de impor ideologias e mobilizar os indivíduos favoráveis ao impeachment. Estes são agrupados em uma massa informe disposta a ir às ruas em defesa de causas que pouco atendem a seus interesses materiais, satisfazendo sobretudo suas exigências psíquicas. O discurso midiático apela às pulsões primárias canalizando contra as figuras da presidenta e do ex-presidente ódios, ressentimentos etc., em suma, uma gama de afetos que destampam a agressividade.

Assim, muitos descrevem o golpe em curso como midiático ou judiciário-midiático. No entanto, ainda que seja um agente imprescindível em sua efetivação, seria demasiado atribuir-lhe o comando do condomínio. Isso não significa que não devamos combatê-lo e mesmo despender parte de nossos esforços em defesa da legalidade na luta cultural contra as ideologias que difunde.

No momento, convém chamar a atenção também para uma dimensão pouco explorada do discurso midiático. Uma das funções da atividade mediadora do oligopólio midiático consiste em preparar as massas para os próximos passos da agenda golpista, justificando-os previamente de modo a evitar decepções e deserções.

Uma leitura dos jornais nos últimos dias indica que Moro não deve prender Lula já. Enfáticos nesse sentido são o editorial de 18 de março da Folha de S. Paulo “Protagonismo perigoso”, e o artigo de 21 de março do colunista e blogueiro das Organizações Globo, Helio Gurovitz, intitulado significativamente “Moro não deve se precipitar”.

Um dos pressupostos desses textos é a consideração de que a detenção coercitiva do ex-presidente Lula gerou mais revesses que ganhos para a marcha golpista. A prevalência dessa análise, aliás, forçou Moro a tentar se redimir perante seus apoiadores por meio da divulgação ilegal de grampos que atingiam a presidenta, ministros e outros detentores de foro privilegiado, colocando em risco a legalidade de todo o processo.

Não cabe discutir aqui, embora não seja questão de menor relevância, se o condomínio do golpe não precisa mais dos serviços sujos do homem da camisa preta. No momento em que o Congresso se prepara para decidir no voto o destino da democracia brasileira, tudo indica que a luta jurídica terá doravante, por foro e palco o Supremo Tribunal Federal.

Os golpistas sabem que o ex-presidente Lula, por tudo que ele significa para o povo e para parcela majoritária da esquerda, constitui um bastião decisivo na resistência à ofensiva em curso contra o governo legalmente constituído. O anseio de vê-lo preso faz parte da pauta regressiva de supressão de direitos constitucionais e, sobretudo, da mobilização de pulsões violentas, cujo arquétipo ancestral talvez seja a figura do “escravo fujão” encarnada, na história brasileira, por Zumbi dos Palmares.

O objetivo do condomínio golpista, no entanto, consiste prioritariamente em derrubar a reputação granjeada por Lula no Brasil e no exterior e, em seguida, torná-lo inelegível, facilitando a eleição de um dos três candidatos tucanos em 2018.

O esforço em impugnar sua posse como ministro indica – e o recado foi dado por um dos atores mais proeminentes desse condomínio – que o apoio do STF ao golpe não é tão certo como alguns imaginam. Mas, acima de tudo, trata-se de uma tentativa de impedir que Lula mobilize em favor do governo sua experiência política, existencial e seu capital simbólico, responsáveis diretos pelo êxito das manifestações do dia 18 de março.

Do nosso lado, cabe urgência na tarefa de traduzir em ações o lema que tomou conta do Brasil: “Não vai ter golpe, vai ter luta…”

(23-03-16)

O autor é jornalista

Fonte: Viomundo
http://www.viomundo.com.br/politica/roberio-machado-precisamos-traduzir-para-a-populacao-nao-vai-ter-golpe-vai-ter-luta.html

Dilma: eu não perco o controle, não perco o eixo

A presidente Dilma Rousseff fez um desabafo nesta quinta-feira, em sua conta no Facebook, depois de receber a solidariedade de vários movimentos ligados às mulheres; “Eu estive três anos presa ilegalmente, fui torturada. A prisão sempre é uma forma humilhante de tratar pessoas e sempre mantive o controle, o eixo e sobretudo a esperança”, disse ela; Dilma também fez referência ao câncer que superou; “Quero dizer para vocês: eu não perco o controle, não perco o eixo, não perco a esperança porque eu sou mulher, é por isso, porque sou mulher. Não perco o controle porque me acostumei a lutar por mim e pelos que amo”

Por Dilma Rousseff, em seu Facebook

Eu estive três anos presa ilegalmente, fui torturada. A prisão sempre é uma forma humilhante de tratar pessoas e sempre mantive o controle, o eixo e sobretudo a esperança.

Enfrentei, como muitas mulheres nesse Brasil enfrentam, uma doença difícil. Eu enfrentei o câncer, que me debilitou no início, mas que eu sempre disse “enfrenta que você supera”. Mantive o controle, o eixo e a esperança.

Eu estou enfrentando, desde a minha reeleição, a sabotagem de forças contrárias e mantenho o controle, o eixo e a esperança.

Quero dizer para vocês: eu não perco o controle, não perco o eixo, não perco a esperança porque eu sou mulher, é por isso, porque sou mulher. Não perco o controle porque me acostumei a lutar por mim e pelos que amo.

Fonte: Brasil 247
http://www.brasil247.com/pt/247/poder/224543/Dilma-eu-n%C3%A3o-perco-o-controle-n%C3%A3o-perco-o-eixo.htm