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Padre Henri Le Boursicaud: amor e justiça

Conheci o Padre Henri Le Boursicaud em Morro Branco, no Ceará. Era uma reunião de Terapeutas Comunitários, e ele nos dirigiu algumas palavras no fim de uma das jornadas do nosso trabalho.

Era um homem de certa idade, barba branca, mas de uma energia incomum, e disse que esperava terminar seus dias de pé, servindo ao amor e à justiça, e não ao poder e ao dinheiro. Muitas vezes desde então, tenho refletido nestas palavras: amor e justiça. Servir ao amor e à justiça. Isto fazia sentido, faz muito sentido.

Esta entrevista dada por ele à televisão, diz muito sobre a sua trajetória de vida. E sobre o valor de se viver como se pensa.

Líder comunitário do Complexo da Rocinha diz que militarização não mudará realidade dos moradores

Por Patrick Granja / A Nova Democracia

Há dez dias, policiais civis e militares ocuparam as favelas da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu para a instalação da 19ª Unidade de Polícia Pacificadora. Dois dias após a ocupação, colaboradores de A Nova Democracia no morro do Vidigal entrevistaram o presidente da associação de moradores, Wanderley Ferreira, para lhe perguntar sua opinião sobre a recém chegada militarização. O líder comunitário disse que as obras iniciais anunciadas pelos gerenciamentos de turno são apenas obras de maquiagem. Ele afirma que essas obras estão muito distantes das reais necessidades dos moradores das três favelas ocupadas pela polícia.

Para Wanderley, o foco da militarização é proteger a estrutura da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, não melhorar efetivamente a vida dos moradores das favelas do Rio, como afirma o monopólio dos meios de comunicação. Segundo Wanderley, a especulação imobiliária inaugurada pela nova UPP já fez muitos moradores antigos da favela irem embora. De acordo com o líder comunitário, no lugar desses moradores, turistas brasileiros e estrageiros, pessoas de classe média e empresários do setor imobiliário estariam ocupando os imóveis.

Nilo Batista fala sobre as UPPs e a presença do exército no Complexo do Alemão

Por Patrick Granja / A Nova Democracia

Entrevista com o criminologista Nilo Batista, fundador do Instituto Carioca de Criminologia, sediado no tradicional bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Nilo Batista também é professor do quadro permanente do Programa de Mestrado em Direito da Universidade Cândido Mendes, professor titular de Direito Penal na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e, desde 2006, também na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nessa entrevista, o professor fala sobre as famigeradas Unidades de Polícia Pacificadora e sobre a presença do exército no Complexo de favelas do Alemão. A produção dessa reportagem contou com o apoio da Agência de Notícias das Favelas (http://www.anf.org.br).

Nem preso; Ibope em alta

E, finalmente, foi preso Nem, chefão do tráfico da Rocinha e bandido mais procurado do Rio de Janeiro!

Isso mesmo, um bandido procurado (!), como naqueles filmes que se passam no velho-oeste americano.

Não, não, ninguém sabia de seu exato paradeiro no morro, localizado em pleno coração da Zona Sul do Rio de Janeiro e cercado por delegacias, casas e prédios de luxo.

Nem policiais militares, civis ou federais, que já cansaram de fazer incursões na favela: nenhum deles – ninguém mesmo – sabia, todo esse tempo, onde estava Nem. Não obstante, os agentes de segurança uniram esforços para capturá-lo e, heroicamente, chegando a recusar novas ofertas milionárias de propinas, encontraram o traficante.

Bandido procurado, como no Velho-Oeste americano

Não, não houve em absoluto interesse político algum por trás dessa operação. E, se até hoje isso não havia acontecido, era somente porque Nem aprendeu muito bem, quando criança, a se esconder no pique-esconde, além de ter obtido vasta experiência e conhecimento nos jogos de polícia e ladrão.

Essa é mais uma das historinhas para boi dormir que os grandes jornais cariocas contam para seus leitores – a maioria dos quais alienada quanto ao que se passa de fato numa favela e a real tônica da relação entre policiais, moradores e traficantes.

Fica registrada mais uma vitória para o governo do estado, sempre empenhado em resolver o problema da violência e do tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

Agora, com a prisão de mais um elemento de enorme periculosidade – muito mais do que os políticos e autoridades federais que deixam drogas e armamentos pesados entrarem pelas fronteiras do país diariamente – a cidade vai garantindo a paz para a Copa do Mundo e Olimpíadas.

Enquanto à favela carioca, que receberá mais uma UPP – agora serão 19, faltando só mais umas novecentas e tantas para apertar o cerco em todos os morros da cidade – restará, provavelmente, apenas o comércio do tráfico de drogas sem armas com a conivência dos policiais, a outras, em cidades da Baixada Fluminense e até Macaé, caberá prover novas residências para os bandidos migrantes.

É isso aí, excelentíssimos parlamentares: política de urbanização, educação e transporte, zero; UPPs, nota dez, com direito a muito Ibope e votos nas próximas eleições!

 

Dezenas de pessoas ficam feridas em violento ataque do exército no Complexo do Alemão

Por Patrick Granja / A Nova Democracia

Na madrugada do último sábado, dia 5 de novembro, centenas de pessoas que celebravam um aniversário em um salão de festas do Complexo do Alemão, na localidade Largo do Cruzeiro, foram atacadas por soldados do exército. Segundo um dos aniversariantes, ferido no rosto com um tiro de bala de borracha, os militares tentaram invadir a festa, mas foram impedidos pelos convidados. Em seguida, os soldados teriam atirado bombas de gás lacrimogêneo para dentro do salão. Ainda segundo os moradores, as pessoas que saiam do imóvel, sufocadas com a fumaça, eram atingidas na saída com tiros de bala de borracha disparados pelo exército. Tiros de fuzil também teriam sido efetuados para o alto pelos militares. Cerca de 40 pessoas ficaram feridas no ataque.

Sufocadas pelas bombas atiradas pelo exército para dentro do salão, algumas das vítimas chegaram a pensar que não sobreviveriam ao ataque. Os moradores disseram ainda que não existe um orgão que fiscalize a ação dos militares no Complexo do Alemão. Segundo eles, a população das 13 favelas do Complexo encontra-se abandonada e a mercê dos excessos cometidos diariamente pelo exército.

Sobre o ‘Vozes das Comunidades’

O grupo Vozes das Comunidades é formado por alunos do Curso de Comunicação Popular do (NPC), realizado anualmente no Rio de Janeiro com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo. Participam do curso moradores de favelas ou ocupações, militantes sociais diversos, jornalistas, estudantes e demais interessados em construir a comunicação comunitária, aquela que dá voz a quem normalmente não possui espaço nos meios tradicionais. Ao longo do curso aprendemos a importância de construirmos uma mídia contra-hegemônica para construir um mundo mais justo. Também temos aulas práticas de internet, redação, diagramação, edição de vídeos etc.

Todo ano lançamos ojornal Vozes das Comunidades no dia 7 de setembro, data da manifestação popular conhecida como Grito dos Excluídos. [Clique aqui para ler a edição de 2012]. Também criamos esse blog para divulgar nossas atividades, além de matérias que dizem respeito  às mobilizações populares do Rio de Janeiro.

  • Para entrar em contato conosco, basta enviar um e-mail para boletimnpc@uol.com.br ou ligar para (21) 9973-3249.