São Pedro pediu para você fechar a torneira quando escovar os dentes

Foto: pixabay.com/NemoO mundo terá até 2050 pelo menos 9 bilhões de pessoas. Hoje, cerca de 800 mil passam fome, no mínimo. Recursos não nos faltam, os possuímos em demasia, mas as instituições liberais insistirão em dizer que temos que ter mais água para fins agrícolas e aumentar a produção de alimentos, em vez de racionalizar nosso consumo, regulamentar decentemente setores que não deveriam ser um mercado e redistribuir melhor a comida. Mas não mexam, por favor, no Ocidente do hiperconsumo, dirão estas mesmas instituições.

A irrigação é a atividade que mais consome água e representa quase 70% da extração e 90% do uso destinado ao consumo no mundo. A carne é uma das vilãs, mas continua intocável, mais por conta dos altos lucros do setor do que propriamente por alguma preocupação humanista com a obtenção da sua proteína (como sabemos há algum tempo, não é essencial para a alimentação humana).

O motivo é simples: bem mais da metade de tudo o que é cultivado no Brasil, por exemplo, destina-se à produção industrial de ração animal, aqui e no exterior. Em outras palavras, vira alimento de bois, porcos, aves e até peixes, que depois vão parar no prato das pessoas.

Além do consumo de água desproporcional, a poluição é outro brinde decorrente da produção de carne – trata-se de sangue, gorduras, vísceras, vômitos, fezes, hormônios, antibióticos, inseticidas, fertilizantes e defensivos agrícolas seguem pelos afluentes rumo aos reservatórios e aqüíferos. A carne é o maior poluidor individual da água.

A destrutiva monocultura da soja faz cócegas no desastre que é o consumo desproporcional de carne levado a cabo atualmente pelas dietas globalmente enraizadas em hábitos e costumes milenares. Não se trata de uma causa vegetariana bem intencionada: a indústria alimentada por esta dinâmica elege presidentes e faz ministros há mais de 200 anos, sem que uma única exceção tivesse lugar.

Com a energia se dá o mesmo: mais de 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso à eletricidade. Isso equivale a uma a cada cinco pessoas no mundo. Para produzir energia hoje em dia é necessário cerca de 15% dos recursos hídricos. As estimativas indicam que o gasto global com eletricidade aumentará cerca de 35% em 2035 e, embora o consumo de água seja mais eficiente, o consumo real desse recurso pelo setor de energia pode subir 85%. Mas sobe para quem? Certamente não para o quinto do andar debaixo, que apenas se manterá à margem desse bem-sucedido modelo de negócios.

Novamente, em vez de olharmos para aqueles que mais gastam este recurso, e o gastam da forma mais irresponsável possível, se multiplicarão campanhas direcionadas ao consumidor, com lindos gráficos sobre como economizar. Desejaremos “soluções inovadoras”, úteis para manter intactos os privilégios do quinto de cima, para onde raramente se olha.

As campanhas provavelmente serão financiadas pelas indústrias da celulose, alumínio, ferro e aço, por exemplo, e você as verá em bancos, shoppings e outros supermercados do tipo. São os mesmos há algum tempo — estamos falando de cerca de 600, 700 grupos empresariais que, sozinhos, consomem aproximadamente 30% de toda energia elétrica brasileira e, pior, pagando menos por isso (no formato de “subsídios ao desenvolvimento”).

E para fechar com chave de ouro: o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e o BNDES [o Banco “social”] — dinheiro seu, meu, nosso — está apoiando esse tipo de ação. Com este modelo, estamos no rumo de uma grande e importante mudança global. A do clima.

Mas São Pedro pediu para você fechar a torneira quando escovar os dentes.

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