Sanfoneiro ruim

(Canção de Maciel Melo)

Humor, sátira e ironia são traços relevantes também no processo de produção da poesia. Constituem fortes marcas dos Poetas e dos Repentistas. As situações do cotidiano se acham, não raro, impregnadas de humor. Nelas se inspiram e delas se servem também os compositores, como é o caso do Poeta Maciel Melo.

No caso em apreço, trata-se da descrição de uma cena mais corriqueira do que se imagina. Se é verdade que de artistas, poetas e loucos temos um pouco, não menos certo é que isso não se dá de modo uniforme. Uns apresentam maior familiaridade com certas habilidades do que outros. Por outro lado, mesmo tendo reconhecidos pendores para certas artes, caso não se apliquem a exercitá-las, dificilmente vão lograr um lugar de destaque. Pode até ocorrer que outros, como bem menos possibilidades, por força de sua maior aplicação e autodisciplina, alcancem um lugar de reconhecimento. Pode, igualmente, ocorrer a alguns com pouco pendor artístico, que não conseguem afirmar-se, mesmo não lhes faltando vontade.

Este último parece ser o caso do tocador de sanfona, que se tornou alvo do gracejo do compositor… Os vizinhos se aborreciam dos ensaios pouco agradáveis do sanfoneiro. Queixavam-se de sua performance esquisita (“É uma munganga / Um remoído da molesta / Gemendo e franzindo a testa”). Daí a gozação: “Eita cara pra tocar / Ruim que só!”.

Pior do que isso é a cruel recomendação que acenam ao tocador: simplesmente mudar de profissão… Só que, ao fazerem isso, parecem cometer uma injustiça com o lavrador, deixando a entender tratar-se de um ofício de menos valia. Vamos conferir as estrofes.

Pertinho de lá de casa
Tem um sanfoneiro
Todo dia, o dia inteiro
É um firin-firin… firin-firin

Ele aprendeu
Uns quatro pés-de-galinha
E logo de manhãzinha
Começa a finrifunfar
É u´a munganga
Um remoído da molesta
Gemendo e franzindo a testa
Eita cara pra tocar
Ruim que só (4 vezes)_

Zé, a cigana te enganou, José
Pega a enxada e o borná
Deixa a sanfona
Pra quem tem os dedos moles
Tu só sabe puxar fole
Pra ferreiro trabaiar

(extraído da faixa 1 do CD intitulado “Maciel Melo. Acelerando o coração”)

Além do estribilho (composto de três versos com sete sílabas, mais um quarto (o “fin-rin-fin-fin”). As estrofes seguem compostas por oito versos, sendo o primeiro e o quinto versos de quatro sílabas, enquanto os demais têm sete sílabas. A rima segue o padrão ABBCDEEC.

In: Florilégio de estrofes da poesia sertaneja (João Pessoa; Edições Buscas, 2009)

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