Rocinha pacificada e fora da lei

Quem visita a Rocinha ou corta caminho pela  Estrada da Gávea (principal via de acesso à comunidade, que liga Gávea a São Conrado) para fugir do congestionamento no túnel Zuzu Angel, sai convencido de que a proposta de pacificação do Governo Estadual é um verdadeiro sucesso.
Sucesso realmente é. Tenho certeza que a notícia de pacificação da Rocinha aumentou em muito o ibope das emissoras de televisão e ajudou a vender muitos jornais durante o processo de ocupação; valorizou os imóveis nos bairros próximos a comunidade; além de garantir ao Governador Sérgio Cabral Filho, que está com o filme queimado, uns pontinhos positivos com a população carioca.
Também na comunidade, algumas mudanças foram promovidas com essa ocupação. A principal mudança é referente a ausência de bandidos fortemente armados circulando pela Favela. Com a ocupação militar, as crianças não tem mais como referência de poder e status o bandido e/ou a vida do crime. Claro que não podemos ser hipócritas de afirmar que todos os problemas, referente a criminalidade na Rocinha, estão resolvidos. Mas hoje, o sujeito que trafica na comunidade sobrevive como ratazana escondido nos becos. Não estando exposto com fuzil na mão e com pistola na cintura, deixa de ser referência para as crianças ociosas que fazem dos becos e travessas uma área de lazer.
Só que existe um problema nessa história toda. A proposta de paz prometida aos moradores da Rocinha ainda não aconteceu. Pelo contrário, a falta de segurança está fazendo a comunidade refém do medo. Comerciantes passaram a ser vítimas de assaltos; esfaqueamento parece que virou solução para todas as desavenças (apesar de não se ler nenhuma linha nos jornais dando notícias desses acontecimentos); e disparos efetuados com pessoas feridas – inclusive no último domingo(05/02), que resultou em quatro pessoas alvejadas e que foi destaque nos noticiários – têm tirado o sossego de muitos moradores.
A presença da polícia circulando pela Estrada da Gávea cumpre o objetivo governamental de vender a imagem de uma comunidade pacificada para os visitantes e para a mídia. Para os moradores a rota policial tem que se estender e ser mais efetiva nos becos, principalmente, durante a madrugada para inibir o número crescente de brigas, que tem resultado em diversos esfaqueamentos.
Mais que a presença ostensiva da polícia, a Rocinha necessita de políticas públicas que contemplem os seus problemas sociais, em especial no tocante a Educação. Quando os nossos “representantes” políticos investirem corretamente na área de educação (escolas públicas de qualidade, cursos profissionalizantes, salário digno para os professores), poderemos acreditar numa possível pacificação.
(*) Cléber Araújo é morador da Rocinha. Texto publicado originalmente no Barraco@dentro.

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