Pluralismo religioso e diálogo inter-religioso

A expressão alude ao fato de existirem, dentro de uma sociedade, várias religiões. Isto cria a necessidade de uma coexistência, de um diálogo, de umas relações entre as religiões, distintas das existentes em âmbitos em que existe uma única religião. Isto quanto ao aspecto externo da questão. No âmbito interno, o pluralismo religioso coloca, para a pessoa que crê, a situação de ter que conviver com visões do mundo geradas nos espaços religiosos diversos que confluem na sua própria fé.

A crença em Deus, ou em uma ordem divina que envolva toda a criação, pode estar explícita em uma forma de viver a fé, ou em atitudes cotidianas da pessoa, independentemente da manifestação da sua adesão a esta ou àquela crença ou religião.

Há uma religiosidade natural, independente de adesão a credos ou dogmas. Por isso se diz, como muitos dizem, que a crença em Deus, ou em uma ordem divina no universo e na vida, é conatural ao ser humano.

Distinto é o que ocorre quando surgem as religiões, que se colocam como “mediadoras” entre o ser humano e o Divino. Quanto há mediação, há interesses, há dominação. Ninguém necessita de mediadores ou mediadoras. Isto é um terreno para a culpa e o perdão, para os pecados e a manipulação.

Quando existem várias religiões dentro de uma mesma sociedade, pode surgir o diálogo inter-religioso, que é o oposto ao fundamentalismo. Neste diálogo, ocorre um crescimento, uma tolerância, uma aceitação das diferenças. Desenham-se espaços para a ação em comum, de pessoas crentes em diversas fés ou credos.

O pluralismo religioso é um dado da modernidade e das sociedades democráticas. O contrário ao diálogo inter-religioso é a intolerância, originada pelo medo. Quem ama e tem fé, abre-se a uma existência em si mesma inexplicável.

“No ano de 2003, teólogos pluralistas reunidos em encontro internacional, divulgaram os princípios para o dialogo inter-religioso, que são:

(1) O diálogo e o compromisso inter-religioso devem ser a forma pela qual as religiões se relacionam entre si. Uma necessidade primordial para as religiões é a de curar os antagonismos entre elas.

(2) O diálogo deve envolver os urgentes problemas do mundo hoje, incluindo a guerra, a violência, a pobreza, a devastação ambiental, a injustiça de gênero e a violação dos direitos humanos.

(3) Reivindicações de verdade absoluta podem ser facilmente exploradas para incitar o ódio e a violência religiosos.

(4) As religiões do mundo afirmam uma realidade/verdade última que é conceitualizada de formas diferentes.

(5) Embora a realidade/verdade última esteja além do alcance da completa compreensão humana, ela encontrou uma expressão em diversas formas nas religiões do mundo.

(6) As grandes religiões do mundo, com seus diversos ensinamentos e práticas, constituem caminhos autênticos ao bem supremo.

(7) As religiões do mundo compartilham muitos valores essenciais, como o amor, a compaixão, a igualdade, a honestidade e o ideal de tratar os outros como queremos ser tratados.

(8) Todas as pessoas têm liberdade de consciência e o direito de escolher sua própria fé.

(9) Enquanto o testemunho mútuo promove o respeito mútuo, o proselitismo desvaloriza a fé do outro.”*


* Princípios básicos do pluralismo religioso. Página do Instituto Humanitas, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, acessada em 10 de dezembro de 2001

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