Plenitude

Alguns dias custam para serem resumidos. O que queria (e ainda quero) dizer é que algumas vezes um dia nos preenche de tal modo com a sua simplicidade, que as palavras pode ser que não deem conta da sua tarefa de tratar de dizer o que foi que aconteceu, o que foi que nós recebemos de tão valioso, que nos faz querer partilhar uma alegria muito profunda.

Hoje está me acontecendo de estar sentindo uma sensação de agradecimento, de uma admiração por estar vivo, e por estar a vida fluindo do jeito que está. Convergindo com as pessoas, nos lugares, no tempo. Uma sensação muito antiga, infantil, se faz presente. Des-preocupação. Confiança. Confiança, esta é a palavra. Aprender a confiar outra vez, estar aprendendo a confiar novamente.

Sei que tenho dito algo do que estou sentindo e desejo partilhar, mas talvez não tenha sido de todo claro. Talvez até isto esteja me sendo dado aprender, também. A confiar sem saber muito no que, uma fé que ultrapassa a razão. Não é uma fé cega, não, não me interpretes mal. Mas é uma fé inocente, não aprendida.

Não dispenso nada do que tenho aprendido, de diversas formas, até o momento presente. Mas este instante é tão fecundo que corro o risco de estar fazendo perder o tempo a quem possa estar lendo estas linhas, que talvez esteja a se perguntar –como eu mesmo me pergunto—aonde quero chegar.

Quero chegar até aqui, até este lugar onde estou. Esta máquina de escrever sofisticada na qual posso ir pondo letras alinhadas e ver algumas frases a se formar. Tentar partilhar essa plenitude e simplicidade que de repente estou recebendo.

É obvio que nenhuma conquista pessoal é possível sem o concurso de muitas pessoas, próximas e distantes, que co-laboram para que tudo aconteça. A todas essas pessoas, muitas delas já em outro plano de existência, agradeço esta tarde, esta noite que vai nascendo para a luz que brilha no meio destas tentativas de partilha.

Quem sabe deixar de lado tantas expectativas, tanta planificação, tantas receitas próprias e alheias, tanto passado pesando nas costas. E me deixar vir, deixar que este fato simples e monumental de estar vivo, aqui e agora, seja tudo, tudo e nada mais.

3 comentários em “Plenitude”

  1. Boa tarde mestre Rolando
    Voce me surpreende a cada dia com seus textos: coerentes, criativos , de uma grande sabedoria.
    Sou feliz e agradeço pela partilha, “estar vivo” é estado de graça. Melhor ainda é incluir os amigos nessa manifestação de alegria.
    Um abraço, Clea

  2. Clea
    18 de outubro de 2013 às 13:42
    Boa tarde mestre Rolando
    Voce me surpreende a cada dia com seus textos: coerentes, criativos , de uma grande sabedoria.
    Sou feliz e agradeço pela partilha, “estar vivo” é estado de graça. Melhor ainda é incluir os amigos nessa manifestação de alegria.
    Um abraço, Clea

    #12875n

  3. Belo texto, Rolando!

    Instantes de eternidade que resgatam a vida.
    Saber viver é uma arte… a qual não basta fazer…
    Mas pode consistir na simples contemplação dos primeiros raios de sol depois da mais profunda escuridão da madrugada…
    Que bom que você contempla… sente… pensa… escreve… (E eu leio!)

    Abraço,

Deixe uma respostaCancelar resposta