Mais além de tropeços ou escuridões, algo em nós persiste sempre. Os tempos atuais parecem assinalar um colapso da humanidade, mas a humanidade não colapsa. O que colapsa são as tentativas de destruir o que nos faz humanos. Isso é o que perece.
Por toda parte vejo sinais de resistência. As pessoas não se rendem. Não podemos nos render. A rendição é a morte. E a morte que advém da desistência é pior do que a morte corporal. Há algo em nós, humanos, que não cede nem diante das piores ameaças.
A pior das ameaças é a perda da fé. Não me refiro à fé que é crença, embora esta também seja uma fonte forte de persistência. Refiro-me à fé que aninha no próprio respirar, no olhar para os nossos filhos e filhas e saber que valeu a pena. Vale sempre a pena dar mais um passo.
Insistir na educação, na cultura, no estudo da história que nos põe o pé no chão. Caem os governos ilegais e inconstitucionais. Cai a mentira que se esconde na imbecilidade espalhada e tornada habitual. Nada poderá nos roubar o direito de persistir no empenho humanizador que se nutre do trabalho pessoal e comunitário que honra a vida.
Passam os vendavais que esvaziam a linguagem e a comunicação, instituindo a desconversa, a desabitação do presente, a banalização do tempo. Uma hora as pessoas acordam para o valor inestimável da vida. Esta revista é e continuará a ser uma trincheira de defesa do que é mais valioso.
Escritor e sociólogo. Terapeuta Comunitário. Professor aposentado da UFPB. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/