Para onde vão os ricos, antes mesmo do purgatório

Imagem: icij.org
Registros secretos obtidos pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) revelaram dezenas de milhares de pessoas em mais de 170 países e territórios ligados a companhias e fundos offshore.
Estas são algumas das pessoas mais ricas do planeta, que conseguem por vezes com a ajuda de funcionários de governo e habilidosos advogados levar seu dinheiro para paraísos fiscais, em supostos “investimentos” deste tipo em lugares minúsculos como as Ilhas Virgens Britânicas ou as Ilhas Cook.
As Ilhas Virgens Britânicas, por exemplo, têm pouco mais que 27 mil moradores e uma área total de cerca de 160 km². Ou seja, o tamanho e a população de Búzios, no Estado do Rio de Janeiro. Não, Búzios é maior.
A investigação (www.icij.org/offshore) revelou alguns exemplos de todo o mundo (disponíveis em http://bit.ly/14IhqFc):
>> Clarice, Leo e Fabio Steinbruch, empresários brasileiros. Membros de uma das famílias mais ricas do Brasil, detêm grande empresas têxteis e de aço, e um banco. Acionistas e diretores da Peak Management Inc. (2007), nas Ilhas Virgens Britânicas. Leo Steinbruch reconheceu a existência da empresa, que “está ativa, foi declarada nos impostos de seus proprietários e foi devidamente comunicada ao Banco Central do Brasil como um investimento brasileiro no exterior”.
>> Bidzina Ivanishvili é o homem mais rico da Geórgia e foi eleito em 2012 Primeiro-Ministro do país. É Diretor da Bosherston Overseas Corp. nas Ilhas Virgens Britânicas (2006). Segundo o governo local, a empresa ainda existe.
>> Jean-Jacques Augier, editor, foi tesoureiro da campanha de François Hollande na França em 2012. Diretor da International Bookstores Ltd (2005) nas Ilhas Caimã.
>> Bayartsogt Sangajav, político na Mongólia, ocupou a posição de Ministro das Finanças de 2008 a 2012. Foi representante no Banco de Desenvolvimento Asiático, tentando obter ajuda e investimentos estrangeiros. Atualmente é vice-porta-voz do Parlamento da Mongólia. Controlou a Legend Plus Capital Limited, uma empresa offshore administrada a partir de Hong Kong, mas oficialmente integrada às Ilhas Virgens Britânicas (2008). Os documentos mostram que a empresa foi usada para abrir uma conta bancária secreta na Suíça, controlada por ele, poucos meses antes de ser nomeado ministro das finanças de seu país.
>> José Eliecer Pinto Gutiérrez, General na Venezuela, comandante no Estado do Amazonas, responsável pela supervisão de segurança na fronteira com a Colômbia. Acionista, Diretor e Secretário da Romana International Holdings, Ltd. (2003-2006) nas Ilhas Virgens Britânicas.
>> Denise Rich, compositora dos Estados Unidos, ex-mulher do “fugitivo fiscal” mais famoso dos EUA, Marc Rich, que foi “perdoado” pelo ex-presidente Bill Clinton no último dia de Clinton no cargo. Ela é uma compositora indicada ao Grammy, já tendo trabalhado para artistas como Sister Sledge e Celine Dion. Em 2012, Rich renunciou à sua cidadania norte-americana. Doadora e beneficiária do The Dry Trust (1992) e diretora do DTD Limited (2007), ambos nas Ilhas Cook, na Oceania.
>> Tomás Uribe Moreno e Jerónimo Alberto Uribe Moreno, filhos do ex-presidente da Colômbia, Alvaro Uribe. Durante os oito anos de mandato de seu pai, foram acusados de tráfico de influência em dois escândalos, incluindo um caso em que adquiriram as terras em uma área cujo valor disparou depois que as autoridades concederam um estatuto livre de impostos. Eles foram absolvidos em ambos os casos, mas os promotores começaram a investigar novas pistas relacionadas à aquisição de terrenos. Acionistas do Asia America Investment Corporation (2008) nas Ilhas Virgens Britânicas.
>> Hassan Mohammed e Fady Mohammed Jameel, empresários sauditas. Filhos de um dos homens mais ricos da Arábia Saudita e executivos do Abdul Latif Jameel Group, um dos maiores distribuidores mundiais da Toyota, com operações no Oriente Médio, Reino Unido, Ásia Central e China. Diretores (2002-2003) da Costa Azzoura Limited (incorporada em 2002) e diretores (2004-2009) da Hillbeck Limited (incorporada em 2004), nas Ilhas Virgens Britânicas. Hassan também foi acionista da Hillbeck Limited (desde 2004).
O PARAÍSO NATURAL — E PRINCIPALMENTE FISCAL
Ilhas Virgens Britânicas: menor que Búzios. Foto: Fiyah Dawta/ICIJ
As Ilhas Virgens Britânicas são um micro Estado, cujo hino nacional é o “God Save the Queen”. As ilhas são constituídas por pouco mais do que alguns trechos de praia tropical, com pouco mais que 27 mil moradores e uma área total de cerca de 160 km². Tem o tamanho e a população de Búzios, no Estado do Rio de Janeiro.
Advogados britânicos perceberam pela primeira vez durante a Era Thatcher, nos anos 1980, que poderiam legalmente fazer dinheiro com a venda de sigilo financeiro neste pequeno “território britânico ultramarino” no Caribe. A abolição do controle cambial por Thatcher permitiu que o capital britânico se mova livremente.
Alguns anos mais tarde, quando o próximo Panamá — o local tradicional para obscuras entidades offshore — foi interrompido pela invasão dos EUA de 1990, a demanda mundial pelo anonimato das empresas fez as ofertas nas Ilhas Virgens Britânicas decolarem como um foguete.
Mais de 1 milhão de empresas foram incorporadas no território desde 1984, de acordo com os últimos números, já podendo ser considerado o maior fornecedor mundial de entidades offshore. (Saiba mais em http://bit.ly/14Ihox0)
A investigação completa está disponível em www.icij.org/offshore

3 comentários sobre “Para onde vão os ricos, antes mesmo do purgatório”

  1. Amigo,
    Ter dinheiro offshore NÃO é crime e, mais do que isso, não tem nada de errado!
    Há muitos motivos para isso. Os leigos acreditam que todo o dinheiro que vai para fora e “sujo”. Engano! Nas grandes empresas esse tipo de conta é aberto preponderantemente como parte de um legitimo planejamento tributário que tem como escopo tornar mais dinâmico a movimentação internacional de valores.
    No Brasil há uma rigorosa legislação que trata da entrada de dinheiro advindo de países considerados paraísos fiscais – leia a respeito do preço de transferência. Não se trata de violação ao sistema ou algo que o valha.
    Apenas a título exemplificativo, a própria Petrobras, cujo capital social é majoritariamente da União Federal, faz esse tipo de operações em paraísos – o que, repito, é absolutamente legitimo e legal.

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