O poeta das linhas curtas


Texto publicado por Marcelo Salles, no Fazendo Media, em 2006:
Há os que logo cedo perdem a esperança. Outros, nunca a tiveram. Há também os que são cínicos, céticos e conformados com a injustiça. Estes, não raro chamados de velhacos, reacionários ou simplesmente burgueses.
Compreenda-se: seu lucro nasce da desigualdade e seu medo de perdê-lo é maior que tudo. Maior, inclusive, que sua insegurança e descontentamento consigo mesmos, que os levam a traduzir seu ódio em destruição por toda parte.
Oscar Niemeyer é a antítese disso tudo. Desprendido do materialismo, em cada ato seu percebe-se que ser é mais importante que ter. A começar pelo modo de se vestir: sapato marrom de costura lateral, meias marrons, calça cáqui, camisa branca de malha por baixo e outra, também branca, de botões, por cima, a combinar com seu cabelo. Completa o visual um relógio preto de plástico, desses que se encontram no camelô, e uma cigarrilha holandesa entre os dedos da mão esquerda.
Comunista assumido, chegou aos 98 anos de idade com a saúde de um guerreiro. Fala com desenvoltura, traz lembranças nítidas da infância e se movimenta sem precisar de ajuda. Sequer a de uma bengala.
O poeta das linhas curvas foi camarada de Luís Carlos Prestes, João Saldanha e outros personagens ilustres, como ele mesmo, da nossa história. Segundo Eduardo Galeano, trata-se do único brasileiro que será lembrado daqui a 500 anos. Ao que Oscar responde, com espantosa humildade: “Isso é besteira. Eu não sou importante. O sujeito que vai num protesto é mais importante do que eu”.
Reconhecido mundialmente por sua obra e pensamento, Niemeyer recebeu a equipe de reportagem da revista Caros Amigos em seu escritório, em Copacabana. Durante a memorável entrevista, faz uma pausa e desabafa: está cansado de responder sempre às mesmas perguntas. Mas retoma o fôlego e garante que com a gente é diferente:
“Vocês são progressistas. São mais evoluídos. Sentem como eu que o mundo precisa ser mudado”.
As paredes de Oscar registram este anseio por mudança. Na parte oposta à entrada, há rascunhos de suas principais obras arquitetônicas, como o Congresso Nacional e o MAC, todas acompanhadas por um texto: “O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar”.
Na lateral que acompanha a vista de quem chega, há o desenho de uma família pobre, e a inscrição: “Quando a miséria se multiplica e a esperança foge do coração dos homens… só a revolução”.
É imbuído dessa certeza revolucionária que o poeta das linhas curvas analisa a conjuntura política mundial: “A América Latina está caminhando para a revolução. Já compreendeu que precisa se armar, pois não sabe o que vem por aí. Bush está desmoralizado”.
Sobre o Brasil, é esclarecedor ouvir de sua boca o que pensa do governo Lula. Isso porque, agora sei, em sua entrevista apresentada na televisão sua fala foi descontextualizada, o que prejudicou o sentido. No vídeo devidamente editado, foi mostrada apenas uma parte do que ele falou: “Lula quer melhorar o capitalismo, mas o capitalismo está morto”. Trata-se de meia verdade, pois seu pensamento não termina aí. Mostrado assim, parece que ele está contra Lula.
Ao vivo, entretanto, a realidade desmoraliza a ilha de edição. Niemeyer diz assim: “O Lula é um operário no poder. Se importa com a pobreza. Esse governo não tem o ímpeto de mudança que a gente esperava, mas a outra opção é pior”. Pode-se discordar à vontade de sua opinião. Mas telejornais não deveriam alterar o pensamento de ninguém impunemente.
Após noventa minutos de conversa, levantamos todos e saímos de seu escritório para a sala, onde seriam feitas as fotos. O poeta das linhas curvas, 98 anos, é o antepenúltimo a deixar o cômodo. Na passagem, cavalheiro, segura a porta para a jornalista Marina Amaral.
Dento de cada um de nós, certamente algo havia mudado. Em mim, pelo menos, surgiu uma certeza: mesmo diante da maior dificuldade é preciso lutar para modificar este mundo injusto e apoiar todos os que lutam nesse sentido.
***
A edição da Caros Amigos com a entrevista de Oscar Niemeyer está nas bancas desde o dia 14 de julho. Também pode ser solicitada a partir de sua loja virtual em http://www.carosamigos.com.br.
Marcelo Salles/fazendomedia.com

Claudius, Gershon Knispel e Oscar Niemeyer

Veja a entrevista completa para a Caros Amigos realizada em 2006 com Oscar Niemeyer.

4 comentários em “O poeta das linhas curtas”

  1. Velhinho stalinsta! Nada contra suas obras propriamente , apesar de não achá-las essa maravilha toda, mas ao expor suas ideologias políticas, sempre se demonstrou um perfeito idiota. Apoiar Stalin dizendo que foi preciso matar, os homens passam a revolução fica, apoiar as FARCs e apoiar fidel só demonstra a imbecilidade do sujeito. Além do que esse lado desprendido dos bens materiais não passa de folclore. O sujeito enriqueceu trabalhando quaseque exclusivamente para governos, tinha escritório na avenida atlântica, mansão em São Conrado, se exilou em Paris. Ou seja, é o típico idiota útil, demagogo.

  2. Os comunistas sempre acabam de 3 formas:
    Ou desistem das ideias idiotas e abandonam o comunismo
    Ou ficam loucos e caricatos
    Ou ficam ricos
    Niemeyer estava na terceira categoria

  3. Esse milionário Niemeyer, morador de Copacabana, era na verdade um capitalista podre e Idiota Util dos comunistas! Toda a sua “arquitetura moderna” de merda, foi proibida nos países comunistas como sendo uma degenerada Doença Burguesa e Lixo Capitalista! Por isso que o Idiota Niemeyer, nunca construiu nada em nenhum país comunista!

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