O jogo do poder

O jogo do poderOs processos eleitorais costumam ser, mesmo, tensos. Afinal, mesmo que nossa democracia divida responsabilidades em três esferas, a Presidência da República da sexta ou sétima maior economia do mundo não poderia mesmo deixar de ser intensamente disputada.
Eram dois projetos que, a despeito de serem em alguns aspectos muito semelhantes, moldavam o futuro do país de formas completamente distintas.
Um, mais liberal, reforçava a tese da meritocracia, do Estado mínimo e da crença de que as instituições devem apenas apoiar, muito sutilmente, o desenvolvimento, cujo principal ator social deve ser a iniciativa privada (pessoas jurídicas ou físicas).
O outro, de caráter mais social democrata, argumenta que o Estado tem um papel interventor maior do que o liberalismo prega, se constituindo como principal autor — mesmo que cedendo intensamente ao liberalismo contemporâneo.
No caso deste processo eleitoral em especial, são também equipes muito diferentes, especialmente em áreas-chave como a economia, a agricultura e o desenvolvimento social. O projeto liberal reforça o ideário do empreendedorismo e da liberdade individual, enquanto o projeto social democrata mantém o “estado de bem-estar social” praticamente intacto, flertando ora com o projeto liberal, ora com ainda mais recursos para áreas como a transferência de renda.
A polarização observada, nesse caso, é menos um distanciamento dos projetos e muito mais, a meu ver, uma consequência natural do processo eleitoral viciado, que privilegia a forte interferência das megaempresas privadas nos projetos de poder de ambos os lados. Assumem, no dia primeiro de janeiro de 2015, cerca de 10 ou 15 empresas que “ganham” todas as eleições, sistematicamente, há muitos anos.
O acirramento da “corrida” eleitoral não faz, evidentemente, bem à democracia. O país não é um grande “Fla-Flu” e os egos políticos muitas vezes se sobrepuseram às ideias.
Algo mais, no entanto, está em jogo. Duas das reformas mais importantes que o Brasil precisa — a tributária e a política — continuam paralisadas por interesses espúrios que dominam o péssimo Congresso Nacional eleito em 2014.
Estes são dois temas que, mais do que qualquer caso de corrupção, corrói nossas instituições e enfraquece nosso frágil sistema político. Sem redistribuição de renda na fonte, por meio da reforma tributária, e medidas de moralização da política, como o financiamento público de campanha, o processo eleitoral não será tanto a “festa” da democracia que se anuncia. Será, sobretudo, este grande circo com o qual muitas vezes deparamos.

Deixe uma resposta Cancelar resposta