O grande erro de Fidel, segundo Fidel

Imagem histórica quando os cubanos derrotaram mercenários patrocinados pelos EUA que invadiram a ilha pela praia Girón, em abril de 1961. Foto: internet
Imagem histórica quando os cubanos derrotaram mercenários patrocinados pelos EUA que invadiram a ilha pela praia Girón, em abril de 1961. Foto: internet

O grande erro foi ter pensado que sabia como construir o socialismo. Quantos líderes revolucionários, filósofos, comandantes, chefes políticos das esquerdas ou simples militantes não pensamos um dia, também, que sabíamos como construir o socialismo? A começar por Lênin, talvez o maior de todos…
De Salvador-Bahia – A revelação é de fonte inteiramente confiável, seu grande amigo e companheiro, o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, numa das entrevistas que concedeu ao jornalista José Vicente Rangel, editadas no livro ‘De Yare a Miraflores’ el mismo subversivo’ (Ediciones Correo del Orinoco – Yare é uma prisão e Miraflores é o palácio presidencial em Caracas).
Fidel Castro confessou a Chávez – contou o comandante da denominada Revolução Bolivariana – que seu grande erro foi ter pensado que sabia como construir o socialismo.
Quantos líderes revolucionários, filósofos, comandantes, chefes políticos das esquerdas ou simples militantes não pensamos um dia, também, que sabíamos como construir o socialismo?
A começar por Lênin, talvez o maior de todos, líder da Revolução Bolchevique de 1917, a pioneira, que espalhou auroras e promessas de redenção por esse mundão todo, aquecendo corações e levantando em rebeldia as maiorias de trabalhadores, de oprimidos e injustiçados. E após muitos êxitos, foi se perdendo nos descaminhos naturais diante da enorme fortaleza do capitalismo.
Passamos pela grande revolução chinesa, liderada por Mao Tse Tung, que acabou desembocando na grande potência econômica dos nossos dias, sustentada por um regime que muitos chamam – não sei qual a melhor caracterização – de capitalismo de Estado.
Houve ainda as experiências conhecidas formalmente como socialistas dos países do Leste europeu, um processo imposto de cima para baixo em decorrência da vitória da então União Soviética na Segunda Guerra Mundial e a partilha das zonas de influência acordada com as outras potências vitoriosas – Estados Unidos e Inglaterra. Era o chamado socialismo real que desmoronou junto com a URSS em 1989/92.
Cuba de Fidel – não me sai da memória em 2007, Fidel ainda vivo mas já afastado da governança, a estudantada gritando nas ruas de Havana um grito cadenciado, soberano, marcial, “Esta terra é de Fidel” – foi e ainda é, depois de mais de meio século de luta, um caso à parte, apesar do empenho cotidiano do gigante imperial e do bombardeio incessante da mídia hegemônica mundial.
Independência e soberania
Depois de quase meio século, passando pela tentativa rechaçada de invasão da ilha, por atos terroristas, pelo desumano bloqueio econômico, pelo poderoso e moderno aparato de propaganda da “inteligência” imperial, inclusive através de meios de comunicação clandestinos, pelo cerco infernal da cultura consumista, pelas inúmeras tentativas de assassinato de Fidel até a incrível sobrevivência após a queda da União Soviética.
É quase inacreditável: os cubanos – um país diminuto de 11 milhões de habitantes, localizado nas barbas do império – estão lá resistindo, qual os míticos gauleses de Obelix e Asterix nas barbas do império romano!
No quesito ‘independência e soberania’, plenamente vitoriosos. No quesito ‘qualidade de vida’, garantindo o mínimo de dignidade pessoal, com comida, moradia, educação e saúde para todos. No quesito ‘integração soberana da América Latina’, uma influência exemplar e poderosa, espraiando especialmente através de Chávez e da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da nossa América).
No quesito ‘construção do socialismo”, certamente há muito a discutir. Fidel já destacou seu grande erro. Mas creio não restar dúvidas de que se trata da tentativa mais exitosa e duradoura de construção do socialismo no mundo.
Mesmo com erros no varejo, que são justamente os que são trombeteados e amplificados pelos monopólios da mídia inimiga, no Brasil plenamente dominante: estatização de pequenos negócios, repressão exercida por um forte Estado policial, perseguição a minorias religiosas, como os adeptos da santería (candomblé) e aos homossexuais, distorções que nos últimos anos vêm sendo enfrentadas e revertidas.
Há também os defeitos que são inventados e as qualidades que são transformadas em defeitos, pois não há limites éticos para uma imprensa hegemônica e raivosa contra tudo que possa significar uma esperança de melhoria de vida para as maiorias.
Deixo aqui a antevisão dos que sonhamos com um mundo melhor e mais justo: mais para frente – 50, 100, 200 anos? -, quando o socialismo – “a verdadeira democracia”, como gostava de dizer Chávez – criar mais asas, a obra monumental de Fidel terá o reconhecimento devido, ao lado de revolucionários e humanistas da altura de Marx, Lênin, Mao Tse Tung, Che Guevara… Quem mais? Talvez Jesus, separado da hipocrisia de muitos autocelebrados cristãos.

Deixe uma resposta