O futebol e os bastidores de uma batalha de R$ 3 bi

Nos cadernos de Esporte dos jornais, e nos sites e blogs especializados em futebol, duas notícias ganharam destaque essa semana:
– a possibilidade de a FIFA vetar o estádio do Morumbi como sede para a Copa de 2014 (foi um “furo” do “Estadão”, depois desmentido – em parte – por outros jornais);
– a (re) eleição de Fabio Koff para dirigir o Clube dos 13 (que reúne os maiores clubes de futebol do Brasil).
Quem não acompanha futebol de perto, a essa altura, já deve ter aberto um sonolento bocejo: “ah, isso é papo pra mesa redonda, domingo à noite”.
Engano. As duas notícias estão ligadas, e são a face aparente de uma batalha – milionária e silenciosa – travada nos bastidores do esporte mais popular do Brasil.
Acompanhar essa batalha é tão importante quanto  – por exemplo – saber detalhes sobre a fusão do Pão de Açúcar  com as Casas Bahia. Ou discutir se o governo vai dar (mais) dinheiro para gigantes da telefonia.
Vamos por partes. 
O Clube dos 13 é quem negocia os direitos de transmissão dos jogos na TV. Atualmente, a Globo é a dona do futebol no Brasil. Pagou, aproximadamente, R$ 1,5 bilhão de reais por 3 anos de exclusividade na transmissão (e repassou à Band parte dos direitos). 
Vários clubes acham que o valor é baixo. Mas outros tantos clubes estão de joelhos: endividados, vivem dos adiantamentos (pelos direitos de transmissão) que a Globo oferece.
Quem conhece de perto esse mercado, concorda: a Globo paga pouco para ser a dona do futebol no Brasil.
Um grupo de dirigentes resolveu peitar a Globo e sua aliada CBF. O confronto não é aberto. É uma guerra de bastidores. Esse grupo (liderado, entre outros, pela diretoria do São Paulo F. C.) decidiu apoiar Fabio Koff para mais um mandato na presidência do Clube dos 13.
Essa turma calcula que, no próximo triênio (2012/2013/2014), o “pacote do futebol” deveria ser vendida pelo dobro: 3 bilhões de reais!
A Globo e a CBF não gostaram disso. Pra enfrentar Koff, lançaram o ex-presidente do Flamengo Kleber Leite – para enfrentar Koff.
Nessa história, claro, ninguém é bonzinho, e nem é possível ser muito esquemático – mas as forças estão assim divididas: Globo/CBF/Kleber Leite x Fabio Koff/principais lideranças do Clube dos 13.
A Globo e a a CBF perderam.
Acredita-se que isso abre a chance de negociações mais amplas para transmissão do futebol. A Globo pode perder o monopólio. Há pelo menos uma chance. A Record já lançou um comunicado sobre o fato, confiram aqui.
E o que isso tudo tem a ver com a notícia de que o Morumbi não vai mais ser a sede paulista da Copa? 
Conversei com 3 jornalistas que acompanham muito de perto os bastidores do esporte, e os 3 me garantiram que a fonte da tal matéria do “Estadão” seria o poderoso dueto carioca que saiu derrotado na eleição do Clube dos 13. Seria uma vingança contra o São Paulo F.C. – que fez campanha aberta por Koff, e é um dos clubes que comandam o movimento pela majoração do “pacote futebol”.
Quem diz isso é ese blogueiro que – vocês sabem – não tem smpatia nenhuma pelo time do Morumbi. Mas esses são os fatos. Ou, ao menos, as versões que circulam nos bastidores do futebol.
Será que a CBF pode mesmo fazer campanha contra o Morumbi junto à FIFA? Como vingança? Ou mandou só um recado ao time do Morumbi?
A FIFA, oficialmente, nega que tenha vetado o estádio sãopaulino como sede da Copa.
Acompanhar essa história é importante.
O cenário, hoje, é menos favorável para a Globo. Não quer dizer que a emissora carioca deixará de transmitir futebol. Seria ingenuidade pensar nisso. Mas, talvez, a emissora dos Marinho tenha que entregar uma fatia do mercado para as concorrentes.
Se o novo Clube dos 13 insistir no pacote de 3 bilhões de reais, calcula-se que a Globo sozinha não teria como bancar  o negócio.
Os clubes poderiam fatiar as transmissões, entregando algumas para a Globo, e outras para quem oferecer a melhor proposta. Isso em dias e horários diferentes ao longo da semana…
O tripé da Globo é futebol/novela/notícia. Esse tripé corre  risco de ficar manco. Se a Globo perder uma fatia do futebol, perderá força, dinheiro e poder. Seria saudável para o público, para os clubes (que teriam opções para negociar), para o mercado publicitário (que não ficaria refém de um grupo), e para a democracia (com menos poder concentrado na mão de uma única família).
Essa seria a regra, num país mais civilizado.
Mas aqui – onde os capitalistas fazem simpósios para defende a liberdade, mas adoram um acerto cartorial pelo alto – tudo pode acontecer!
E esse “tudo pode acontecer” – sim- seria perfeito numa mesa redonda domingo à noite! Um dia eu chego lá…
P.S.: a CBF tomou hoje uma decisão favorável ao São Paulo (entregou a “Taça das Bolinhas” ao clube paulista, desconhecendo o “penta” do Flamengo). 
P.S. 2: como ressaltam alguns leitores nos comentários abaixo, a decisão pode ser lida, tmbém, como uma vingança contra o Flamengo, já que a presidenta do clube Patricia Amorim votou em Koff; por último, ao desconhecer o “penta” do Fla, a CBF reconhece que o título de 1987 é do Sport Recife.
(*) Texto publicado originalmente no Blog do Escrivinhador.

5 comentários sobre “O futebol e os bastidores de uma batalha de R$ 3 bi”

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  2. Pois é.
    O execrado ex presidente do Vasco Eurico Miranda sempre levantou esta bandeira de rediscutir estes valores e da redestribuição das cotas e, segundo li em alguns jornais, apoiou Fábio Koff, o que inclusive foi usado como argumento por parte da imprensa, pública que é a antipatia despertada por Eurico no senso comum, para desqualificar a candidatura de Koff.
    Já o badalado atual presidente do Vasco, Roberto Dinamite Apoiou abertamente o candidato Kleber Leite, que além de ser um dos artifices dessa trama aqui descrita, é uma figura vinculada ao que existe de pior no meio futebolístico brasileiro. A ponto de nem a atual presidente do Flamengo – clube ao qual Leite é fortemente ligado, tendo ocupado vários cargos, inclusive de presidente por mais de uma vez – mesmo sobre uma pressão contrária (carta de Márcio Braga praticamente intimando-a a apoiar e votar em Leite) ter apoiado a sua candidatura.
    Sabemos que Eurico não é nenhum santo, longe de mim ser ingênuo a esse ponto, mas cabe aqui questionar se a decisão de afastá-lo do futebol brasileiro a partir de um golpe apoiado pela imprensa em geral, liderada pela Rede Globo, pela CBF e comemorada publicamente pela dupla Kléber Leite e Márcio Braga (na época diretores do Flamengo) não está de alguma forma relacionado a esta eleição a ao período de se rediscutir as tais cotas.
    Que Eurico é uma figura complicada todos sabemos. Mas nem melhor nem pior que a maioria da cartolagem em geral. E certamente menos ruim que essa turma da CBF e seus aliados. Portanto, pergunto: Será que Eurico foi afastado do futebol pelos motivos certos?
    Fica a questão.

  3. Os clubes são os grandes culpados. Votam em Ricardo Teixeira e não têm ciragem de criar uma liga, até porque faltaria competência para adninistrá-la. Quanto ao televisamento, como foi colocado no post, pegam adiantamento e ficam refém da Globo. Não acredito muito na perda da exclusividade, mas torço pra que aconteça…

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