Nunca é demais denunciar a espetacularização do jornalismo, sempre disponível a promover o apequenamento da política, por exemplo. A lógica da manchete acima, registrada há pouco no Portal iG Eleições, trata uma intervenção militar – que, para as pessoas pobres das regiões atingidas, representará uma violência e implica na utilização da armas de fogo e provável batalha constituída – como uma “estréia”. Tiveram a gentileza de colocar as aspas.
É claro que estréia pode indicar inauguração, abertura de algo, mas frequentemente aparece relacionada a uma atividade artística, cultural. Em outras palavras, um espetáculo. O público alvo do Portal iG, que em sua absoluta maioria não será atingido pela “estréia”, de fato pode se servir da idéia de que isso é um filme e que, portanto, estão no direito de agirem como espectadores.
Cai por terra a idéia de que a “Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade”. Está prevista no juramento profissional dos jornalistas. Frequentemente ignorado pela imprensa hegemônica, infelizmente.
Jornalista, 41, com mestrado (2011) e doutorado (2015) em Comunicação e Cultura pela UFRJ. É autor de três livros: o primeiro sobre cidadania, direitos humanos e internet, e os dois demais sobre a história da imigração na imprensa brasileira (todos disponíveis em https://amzn.to/3ce8Y6h). Acesse o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0384762289295308.