Mesa de abertura do FSU reflete descontentamento com as políticas da ONU e governos para as cidades

Relatora da ONU pela Moradia Adequada, Raquel Rolnik, na mesa de abertura do FSU. Foto: Gabriel Bernardo/Fazendo Media.
Relatora da ONU pela Moradia Adequada, Raquel Rolnik, na mesa de abertura do FSU. Foto: Gabriel Bernardo/Fazendo Media.

No final da tarde do dia 22 de março, foi realizada a mesa de abertura do Fórum Social Urbano com o tema: “Nos bairros e no mundo, a luta pelo direito à cidade pela democracia e justiça urbana.” A atividade contou com a participação do geógrafo e professor da Universidade de Nova Iorque, David Harvey,  a professora da Universidade de São Paulo (USP), Ermínia Maricato, e a Relatora da ONU pela Moradia Adequada, Raquel Rolnik.
O professor da Universidade de Columbia, Peter Marcuse, também convidado a participar da mesa, foi impedido de chegar ao Brasil por problemas com seu visto, porém, ele enviou uma carta de saudação e prestígio ao Fórum Social. Apesar destes palestrantes serem convidados também como conferencistas do 5° Fórum Urbano Mundial, todos transpareceram insatisfações com os debates propostos pela ONU.
Raquel Rolnik falou sobre a conjuntura urbana mundial ressaltando a hegemonia das “cidades-mercado”, das práticas da negação do acesso à  terra  pelas populações e do uso irracional dos recursos naturais do planeta. Na sua avaliação, o máximo que as atuais políticas públicas governamentais conseguem realizar é subsidiar, de modo paliativo, o acesso à terra para as populações. Com isso, explanou que os atuais investimentos públicos têm por finalidade supervalorizar o preço das terras a fim de excluir as populações, sem preocupação com o investimento necessário no saneamento e na melhoria da moradia, o que , segunda ela, é absolutamente necessário.
“Se não mexermos na máquina de exclusão territorial montada nas cidades do planeta, todos esses investimentos serão transferidos para um modelo mais concentrador”, disse Raquel. Para isso, ressaltou que o discurso do FSU necessita ser invertido ao discurso hegemônico a fim de apresentar um modelo sustentável e não excludente.
Como relatora da ONU, Raquel manifestou estar muito triste em ver uma manifestação pacífica (ato do FSU), que ao tentar se colocar diante de um evento patrocinado pela ONU, é recebido com spray de pimenta nos rostos dos manifestantes. Destacou que, com essa atitude, entende-se que a ONU responde claramente às diretrizes dos países que a governam hegemonicamente e são incapazes de apresentarem alternativas aos confrontos de idéias.
A relatora afirmou também estar solidária às comunidades do Rio de Janeiro que estão ameaçadas de remoção. Diante desses projetos e a fim de dar esclarecimento ao público, distribuiu um material sobre os direitos do cidadão à moradia.
Raquel Rolnik  não pôde trazer nenhuma notícia de que a ONU daria solução em relação ao malefício causado por essas remoções, mas afirmou que a Relatoria do Direito à Moradia está solidária a quem está se mobilizando.
O professor da Universidade de Columbia, Peter Marcuse (filho do filósofo da Escola de Frankfurt Herbert Marcuse), manifestou sua solidariedade por meio de uma carta que foi lida ao público, e deixou uma mensagem de prestígio aos movimentos sociais.
A carta disse que o Fórum Urbano Mundial tem a finalidade de estimular investimentos em cidades sustentáveis e monitorar o progresso urbano, entretanto, ressaltou que não é isso o que está acontecendo com o atual evento, sob o slogan “O Direito à Cidade: Unindo o Urbano Dividido”.
A carta declarou ainda que o Fórum Social Urbano quer trazer para o diálogo aqueles que insistem em resistir à “implacável lógica das cidades empreendedoras”. No final, Marcuse deixou –quase como uma assinatura- seu recado: ‘movimentos sociais de do todo o mundo, uni-vos”.
"O mundo está se urbanizando, mas não existe inclusão da população", afirmou Ermínia Maricato, professora da USP. Foto: Gabriel Bernardo/Fazendo Media.

Outra informação importante foi a da Professora do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da Universidade de São Paulo (USP), Ermínia Maricato, ao afirmar que os relatórios da agência Habitat já mostram a urbanização da pobreza. “O mundo está se urbanizando, mas não existe inclusão da população. Estamos em um quadro de tragédia urbana”, disse. 
Para a professora, é necessário ganhar independência em relação aos organismos governamentais, a fim de debater sobre as lei de zoneamento.  Pontuou que o tratamento dado às cidades-mercado garantem mais da metade da população fora do próprio mercado.
Acúmulo de capital segrega
O professor da City University of New York, David Harvey, colocou pontos importantes que devem ser debatidos em relação aos principais problemas enfrentados pela humanidade. Para ele, situações como a pobreza, a marginalidade e a degradação ambiental não podem ser abordadas sem um viés urbano.
Galpão da Ação e Cidadania lotado para a mesa de abertura do FSU. Foto: Gabriel Bernardo/Fazendo Media.

Segundo a análise do professor, as soluções tiradas nos fóruns governamentais têm como objetivo expandir o mercado. A consequencia disso é a  segregação das populações, que, por sua vez, é o resultado do acúmulo de capital.  Ele explicou também que a crise dos sistemas imobiliários em países centrais, principalmente nos EUA, se assemelha a bolhas de ativos, que, quando estouram, causam problemas socais. Mencionou que isso não aconteceu somente nos EUA, mas também no Japão e na Tailândia, por exemplo.
Harvey finalizou afirmando que muitos investimentos das grandes corporações feitas dentro do espaço público são direcionados para espetáculos como jogos e megaeventos. Por conta disso, muitas cidades no mundo estão com problemas originados destas políticas. As estruturas dos jogos olímpicos realizados em todo o mundo e que agora não são mais utilizadas foram citadas pelo professor como exemplo.

Um comentário em “Mesa de abertura do FSU reflete descontentamento com as políticas da ONU e governos para as cidades”

  1. Em vista do último parágrafo,repete-se a antiga política do pão e circo e no caso refere-se à distração dada ao povo para que o mesmo aliene-se.Lamentável!
    Mas seguiremos na luta por um mundo mais igualitário.

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