Mensagem do Papa Francisco

Regina Coeli – Dia 18.04.2021

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Neste terceiro domingo da Páscoa, voltamos a Jerusalém, ao Cenáculo, guiados que somos pelos dois discípulos de Emaús, que haviam escutado, com grande emoção, as palavras de Jesus ao longo do caminho e, depois, O reconheceram no partir do pão. Agora, no Cenáculo, Cristo ressuscitado se apresenta em meio ao grupo dos discípulos e os saúda: “A paz esteja convosco!” Mas eles se assustaram, crendo estarem vendo um fantasma, assim diz o Evangelho. Então, Jesus lhes mostra as feridas do Seu corpo e diz: “Olhem minhas mãos e os meus pés – as chagas – sou Eu mesmo! Toquem em Mim!” E para convencê-los, pede alimento e come sob o olhar de espanto deles.

Nesta descrição, há algo particular. O Evangelho diz que os Apóstolos estavam tomados de tanta alegria, que não acreditaram. Tal era sua alegria, que não podiam acreditar que aquilo fosse verdadeiro. E há uma segunda particularidade: estavam assustados, espantados; espantados porque o encontro com Deus o leva sempre a espantar-se: vai além do entusiasmo, além da alegria, é uma outra experiência. E eles estavam alegres, mas uma alegria que os fazia pensar: não, isto não pode ser verdade! É o espanto diante da presença de Deus. Não esqueçam este estado de alma, que é tão bonito.

Esta passagem evangélica é caracterizada por três verbos muito concretos, que refletem em um certo sentido nossa vida pessoal e comunitária: olhar, tocar e comer. Três ações que podem expressar a alegria de um verdadeiro encontro com Jesus vivo.

Olhar. “Olhem as minhas mãos e os meus pés” – diz Jesus. Olhar não é apenas ver, é mais, comporta, antes, a intenção, a vontade. Por isto, é um dos verbos do amor. A mamãe e o papai olham sua criança, os enamorados se olham mutuamente, um bom médico olha o paciente com atenção… Olhar é um primeiro passo contra a indiferença, contra a tentação de virar o rosto pra outro lado, diante das dificuldades e do sofrimento dos outros. Olhar. Eu vejo ou olho para Jesus?

O segundo verbo é tocar. Convidando os discípulos a tocá-Lo, para que constatassem que Ele não era um fantasma – toquem em Mim! – Jesus indica a eles e a nós que a relação com Ele e com nossos irmãos não pode ser à distância, não existe um cristianismo à distância, não há um cristianismo somente no plano do olhar. O amor requer o olhar e também a proximidade, requer um contato, a partilha da vida. O bom samaritano não se limitou a ver aquele homem semi-morto, no meio da estrada: parou, se inclinou, cuidou das feridas dele, tocou-o, carregou-o em sua montaria e o levou até a hospedaria. Assim é com o próprio Jesus: amá-Lo significa entrar em uma comunhão de vida, uma comunhão com ele.

E chegamos, então, ao terceiro verbo, comer, que bem expressa nossa humanidade, em sua indigência mais comum, isto é, a necessidade de nos alimentarmos para viver. Mas a refeição, quando fazemos juntos, em família ou entre amigos, torna-se pura expressão de amor, expressão de comunhão, de festa… Quantas vezes o Evangelho nos apresenta Jesus a viver esta dimensão convivial! Também como Ressuscitado, com Seus discípulos. Ao ponto de o banquete eucarístico tornar-se o sinal emblemático da comunidade cristã. Comer juntos o corpo de Cristo: eis o centro da vida cristã.

Irmãos e irmãs, esta passagem evangélica nos diz que Jesus não é um fantasma, mas uma Pessoa viva; que Jesus quando se aproxima de nós nos enche de alegria, a ponto de não crermos, e nos deixa estupefatos, com aquele espanto que somente a presença de Deus dá, porque Jesus é uma Pessoa viva. Ser cristão não é antes de tudo uma doutrina ou um ideal moral, é a relação viva com Ele, com o Senhor Ressuscitado: nós o olhamos, o tocamos, alimentamo-nos Dele e, transformados pelo Seu Amor, olhamos, tocamos e alimentamos os outros como irmãos e irmãs.

Que a Virgem Maria nos ajude a viver esta experiência de graça.

Trad: AJFC

Digitação: EAFC

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