Mensagem do Papa Francisco

“Ângelus”, dia 04.08.2019

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de hoje começa com a cena de um certo homem que se levanta dentre a multidão e pede a Jesus para resolver uma questão jurídica sobre herança familiar. Mas, na resposta, Jesus não enfrenta a questão, e exorta a permanecermos distantes da cobiça, isto é, da avidez de posse. Para remover Seus ouvintes desta busca desenfreada de riqueza, Jesus conta a parábola do rico tolo, que acredita ficar feliz por acumular riqueza de uma colheita excepcional e se sente seguro pelos bens acumulados. É interessante que hoje vocês a leiam: está no capítulo doze de São Lucas, versículo 13. Trata-se de uma bela parábola que muito nos ensina. A narrativa ganha vida quando surge a contraposição entre o quanto o rico projeta pra si mesmo e o quanto, por Sua vez, Deus lhe promete.

O rico coloca diante de sua alma, isto é, de si mesmo, três considerações: a quantidade de bens acumulados, os muitos anos que tais bens parecem assegurar-lhe e, em terceiro lugar, a tranquilidade e o bem estar sem limite. Mas a palavra que Deus lhe dirige anula este seu projeto. Em vez dos muitos anos, Deus indica a imediatez desta noite, “esta noite você morrerá”; em lugar do gozo da vida, apresenta-lhe o dar a vida; dar a vida a Deus, com o consequente juízo. Com relação aos muitos bens acumulados sobre os quais o rico deveria basear toda sua vida, esta vem implícita do sarcasmo da pergunta: “e o que foi acumulado vai servir para quem?” Pensemos nas brigas por herança: muitas brigas familiares. A este respeito, todos sabemos muitas histórias que na hora da morte começam a vir: os netos, os netos vêm buscar: “mas o que me pertence?”, e levam tudo. É por esta contraposição que se justifica o adjetivo “tolo” – porque pensa em coisas que ele crê serem concretas mas são uma fantasia – é assim que Deus se dirige a este homem. Ele é bobo porque, na prática, renegou a Deus, não O levou em conta.

A conclusão da parábola, formulada pelo Evangelista, é de uma eficácia singular: “Assim sucede a quem acumula tesouros para si e não para Deus”. Trata-se de um alerta que revela o horizonte em direção ao qual todos nós somos chamados a olhar. Os bens materiais são necessários – são bens! – mas são um meio para vivermos honestamente e partilhando com os mais necessitados. Hoje, Jesus nos convida a considerarmos que as riquezas podem aprisionar o coração e removê-lo do verdadeiro tesouro que está nos céus. É o que recorda também São Paulo na segunda leitura de hoje. Diz assim: “Busquem as coisas do alto… voltem o pensamento às coisas do algo, não às da terra.”

Isto, bem entendido, não quer dizer desconhecer a realidade, mas buscar as coisas que têm um valor real: a justiça, a solidariedade, o acolhimento, a fraternidade, a paz – todas as coisas que constituem a verdadeira dignidade do ser humano. Trata-se de voltar-se para uma vida realizada, não de acordo com o jeito mundano, mas sim de acordo com a maneira do Evangelho: amar a Deus com todo o nosso ser, e amar o próximo como Jesus amou, isto é, no serviço e na doação de si. A cobiça dos bens, a gana de possuir bens, não sacia o coração; antes, provoca mais fome! A cobiça é como um caramelo: você pega um e diz: “Ah, que delícia”, e depois vai pegando outro, e vai atraindo o outro. Assim é a cobiça: nunca se sacia. Fiquem atentos! O amor assim entendido e vivido é a fonte da verdadeira felicidade, enquanto a busca desmedida dos bens materiais e das riquezas é, muitas vezes, fonte de preocupações, de adversidades, de prevaricações, de guerras. Muitas guerras começam pela cobiça.

Que a Virgem Maria nos ajude a não nos deixarmos seduzir pelas seguranças que passam, mas a sermos, dia após dia, testemunhas credíveis de valores eternos do Evangelho.

Trad: AJFC

Digitação: EAFC

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