A segunda Leitura nos disse que a Palavra de Deus é viva, eficaz e penetrante. É justamente assim: a Palavra de Deus não é apenas um conjunto de verdades ou um relato espiritual edificante, não. Nela está Jesus em Pessoa, que é Palavra vivente de Deus, que fala aos nossos corações.
O Evangelho, em particular, nos convida ao encontro com o Senhor, por meio do exemplo daquele homem que acorreu ao Seu encontro. Nós podemos imaginar-nos na figura daquele homem, cujo nome o texto não revela, quase a sugerir que pode representar cada um de nós.Ele pergunta a Jesus como obter como herança a vida eterna. Ele pede a vida para sempre, a vida em plenitude.
Quem de nós não a quer? Mas, observemos que ele pede isto como uma herança a possuir, a obter, a conquistar pelas próprias forças. Com efeito, a fim de possuir este bem, ele havia observado os mandamentos, desde a infância, e para alcançar o objetivo, ele está disposto a cumprir outros, razão pela qual pergunta: “O que devo fazer para ter?” A resposta de Jesus não lhe agrada.
O Senhor fixa Seu olhar sobre ele e o ama. Jesus muda a perspectiva: dos preceitos observados, a fim de se obter recompensas em direção ao amor gratuito e total. Aquele homem falava em termos de demanda e oferta, enquanto Jesus lhe propõe uma história de amor: pede-lhe que passe da observância das leis ao dom de si, que passe do fazer para si ao estar com Ele.
E lhe faz uma proposta de vida penetrante: “Venda o que tem e dê aos pobres, depois venha e siga-me.” A você também, Jesus diz/; “venha! Siga-me!”. Venha, não fique parado, porque não basta não fazer nada de mal para ser de Jesus. Siga-me, não vá atrás de Jesus somente quando as coisas vão bem com você, mas procure-O todo dia; não se contente com observar preceitos, com dar esmolas e com fazer alguma oração: encontre nEle o Deus que sempre o ama, que é o sentido de sua vida, a força de doar-se.
Jesus ainda diz: “Venda o que tem e dê aos pobres”. O Senhor não teoriza sobre pobreza e riqueza, mas vai direto à vida. Pede-lhe que deixe o que é um fardo para o coração, que se esvazie dos bens para dar lugar a Ele, o único Bem. Não se pode seguir verdadeiramente a Jesus quando se está sobrecarregado de coisas, porque se o coração estiver amontoado de bens, não haverá lugar para o Senhor, que se tornará uma coisa entre outras.
Por isto é perigosa a riqueza e, diz Jesus: torna difícil até mesmo salvar-se. Não porque Deus seja severo, não! O problema está do nosso lado: o nosso ter em demasia, a nossa vontade excessiva nos sufocam, nos sufocam o coração e nos tornam incapazes de amar. Por isto, São Paulo recorda que ”a avidez do dinheiro é a raiz de todos os males”. Isto nós vemos bem: lá onde se põe no centro o dinheiro, não há lugar para Deus e nem há lugar nem mesmo para o homem.
Jesus é radical. Ele dá tudo e pede tudo: dá um amor total e pede um coração não dividido. Ele também hoje se nos dá como Pão vivo; será que em troca nós podemos Lhe oferecer migalhas? A Ele, que se fez nosso servidor até a cruz por nós, não podemos responder apenas com a observância de um preceito qualquer. A Ele, que nos oferece a vida eterna, não podemos oferecer qualquer migalha de tempo. Jesus não se contenta com um percentual de amor: não podemos amá-lo a vinte, a cinquenta ou a sessenta por cento. Ou tudo ou nada.
(Tradução da primeira parte da homilia, pronunciada pelo Papa Francisco, na missa de canonização de sete pessoas: o Papa Paulo VI, o Arcebispo Dom Oscar Romero, de El Salvador, mais um operário, dois padres e duas freiras. AJFC)
Um comentário em “Mensagem do Papa Francisco”