Mais uma vítima inocente. Até quando?

Ontem acompanhei a notícia do menino morto com um tiro em plena sala de aula em Costa Barros. Eu trabalhei ali perto, como orientadora de aprendizagem do Programa de Aumento de Escolaridade da Prefeitura. Como educadora foi uma experiência enriquecedora, que merece um relato a parte. Como pessoa foram alguns momentos de grande agonia ver pessoas, que como eu só queriam viver em paz, reféns constantes de um embate que não era delas. Querer ajudar e pouco poder fazer frente a tantas necessidades.
Geograficamente, baseada nas imagens do telejornal, me pareceu pouco provável a explicação de que o tiro poderia ter partido do alto do morro, atravessado a linha férrea e atingido uma sala de aula dentro do CIEP. Mas não sou especialista e só tenho as notícias para basear minha opinião. E notícia, acreditem, não é um dado totalmente confiável. Notícia é informação tratada e editada para garimpar audiência.
De noite as notícias já tinham outro tom: o tiro poderia ter partido da passarela sobre a linha férrea, mais de um tiro atingiu a sala de aula, outro aluno também foi ferido, a operação tinha vários mortos, outro inocente pode ter sido morto por engano, nenhum veículo menciona presos e o comandante do 9º Batalhão havia sido exonerado. Percebi que alguns jornais online ainda dão maior destaque ao caso do goleiro Bruno do que a qualquer outra notícia. Falando sério, o que se investiga em Minas pode ser uma monstruosidade, mas uma criança de 11 anos levar um tiro no peito dentro de sala de aula, estundando com colegas e professora, e morrer, é uma tragédia abominável que atinge toda a sociedade. E exige uma cobrança por esclarecimentos, responsabilidades, justiça e segurança.
Não sou contra a ação da polícia. Como instituição, ela é um dos pilares da justiça e paz social, garantido a segurança pública. Ou deveria ser. Uma sociedade justa não deve ter nichos onde a polícia não possa ir. Mas é preciso, com urgência, que o ser humano que materializa os nobres propósitos dessa instituição perceba a seriedade e responsabilidade de seu papel. E que faça juz a ele, não abusando da confiança que lhe é depositada ao receber farda, distintivo e arma. Segurança pública deve ser uma política para todos, cidadãos pobres e ricos, onde quer que morem ou estejam. Por isso é pública e não particular. Não pode ser pensada para enaltecer certas regiões e brutalizar outras.
Em algumas situações, em momentos de confronto, policiais precisam reagir e muitas vezes atirar. Eu compreendo isso. Em primeiríssimo lugar vigora o mais antigo dos instintos, o de sobrevivência. Ele tem um trabalho a fazer, e precisa voltar ileso para sua família. Minha única questão é: porque as balas se perdem mais nos subúrbios do que nos bairros de elite? Aqui caberão mil conjecturas, e muitas das vezes trocas de acusações que não nos levam a lugar algum.
Uma coisa é certa: é preciso buscar respostas. Respostas maduras, centradas e realistas, que contemplem a sociedade como um todo, que incluam todos os cidadãos. Esqueçamos as respostas simplistas que nos levam a culpar a polícia ou a comunidade. Isso segrega e só piora a situação. O policial é um cidadão assim como o são os moradores das comunidades. A violência desmedida avilta a cidadania de ambos e do resto da sociedade. Nos torna prisioneiros do medo, encarcerados em nossas próprias casas.
Eu me perguntava por que o comandante foi exonerado tão rápido? Por ordenar a operação? Por não dar treinamento? Por comandar mal? Já se sabe o que de fato aconteceu e ele é responsável, ou seus homens? Então me lembrei que na noite de ontem (16) o governador do Rio ia estar dividindo palanque de campanha na Candelária. Eis um motivo possível, não bom mas bem comum, evitar a comoção pública e poder dizer, se perguntado, que providências estavam sendo tomadas. Mas qual a eficácia dessas providências?
Ontem uma criança perdeu a vida enquanto estudava, seus sonhos sucumbiram ante uma bala perdida. Mais uma mãe viveu a dor desse vazio. Professores e alunos daquele CIEP retornaram a suas casas com traumas que ainda nem devem ter consegindo perceber. Se nada fizermos agora, amanhã, ou depois e depois, episódios como esse poderão se repetir, em qualquer lugar, a qualquer momento, com qualquer família. Chega de tanta violência banalizada. Chega de tanta ingerência pública. A sociedade carioca, e flumimense, merece poder voltar a se sentir segura e livre para ir e vir. Merecemos dignidade, respeito e paz.
(*) Mônica d’Oliveira é jornalista.

3 comentários sobre “Mais uma vítima inocente. Até quando?”

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  2. ‘A culpa e do policial’ ‘ A culpa e do bandido’, sao respostas rapidas a um senso natural de justica que eu acredito que todos tenham. A grande midia e o governo, que tem o dever de esclarecer os cidadaos e solucionar essa questao
    respectivamentea, fazem o contrario: escolhem um bode expiatorio e nele depositam toda o motivo do crime. Nesse caso, foi o comandante exonerado. So falta agora a medida paliativa e inconstitucional que sempre se segue a casos como esse. Ah nao, perai, ja fizeram: blindar escolas. Boa sorte a todos nos cariocas. Estamos precisando.

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