As lições esquecidas da História

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Eu fui atirado de janeiro de 2009 neste mundo que está cada vez mais esquisito, os chamados tempos estranhos, e parece que o mundo está precisando mesmo de uma chacoalhada para ver se acorda.

É que em janeiro de 2009 eu dava início ao meu mestrado e, agora, findo o doutorado, abro finalmente a porteira da minha caverna.

Em 2009 o mundo já dava sinais de que as coisas não iam bem, tinha a crise da bolha imobiliária, umas guerras rolando, mas nada como os 60 milhões de deslocados (internos ou refugiados) e os 15 conflitos (civis ou militares) em plena atividade.

Em 2009 o Brasil estava numa boa em meio à crise cíclica global, abre-se a porteira da caverna e parece mais estranho do que já era um governo se dizer de esquerda com ministro da Economia ortodoxo.

A dívida brasileira é do tamanho da suposta dívida da Grécia, um país bem menor, claro, mas que agora quebra os mitos da economia liberal (desculpe a piada infame) para ele próprio não quebrar. Algo que o lulopetismo não ousou fazer, e nem sequer cogitar, mesmo que os recursos naturais do Gigante Adormecido garantam quase sempre uma marola amena se comparada aos tsunamis do Norte. O Gigante abriu um dos olhos em 2013, deu um tapa no despertador e, incrédulo, voltou a pegar no sono profundo.

Um pouco melhor é o túnel imaginário de dez anos antes. Em 1999, as “crises” — que no grego antigo costumava significar também “escolha”, “eleição” –, devidamente fabricadas por um sistema que precisa pagar as contas de vez em quando, nunca do próprio bolso, levaram a América Latina a dizer “όχι”, no bom grego, às maracutaias financeiras dos especuladores, elegendo novos governos e reduzindo, apesar dos pesares, a pobreza pela metade, segundo o mais novo relatório da ONU publicado esta semana.

Ser atirado de 1999 para 2009 parecia ser algo mais interessante, ou no mínimo menos desesperador, com a eleição de um presidente negro nos States e o título nacional do Flamengo. Havia décadas que tanta coisa inédita não acontecia em tão pouco tempo.

Ser atirado de 2009 para 2015 parece ser um convite à reflexão: ou as coisas estão mudando muito mais rápido do que antes, ou a fabricação de boas e más notícias é mais eficiente, com pequenas vitórias espetaculares podendo virar tragédias da noite para o dia.

A questão é importante porque parecemos não saber mais sequer analisar se uma notícia é boa ou ruim, tamanha a pressa com que elas são noticiadas. Ou será que estamos repetindo frases feitas a torto (e à direita) para justificar nossas ansiedades contemporâneas diante do desequilíbrio das democracias? O mundo parece ter esquecido, por exemplo, do papel do Fundo Monetário Internacional na década de 1990, mesmo que a produção desse esquecimento seja um investimento que move alguns bilhões de dólares anualmente.

A informação anda tão rápido hoje em dia que não tem tido tempo de olhar para trás. E corre o risco, portanto, de ser atropelada pela própria História e suas lições esquecidas. Sobretudo no Brasil de 2015, aparentemente.

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