Leitura simultânea

Inventara um sistema para ler vários livros ao mesmo tempo. Verdadeiramente, isto resolvia um dos maiores problemas das pessoas que lêem. Mas, ao mesmo tempo, a invenção da leitura simultânea criava outros problemas. O invento consistia em um complicado arranjo de espelhos que iam transmitindo o reflexo das páginas dos livros para a mente da pessoa. Passando, claro, pelos olhos.  Assim, você podia ler, por exemplo, A queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe, um poema de Cecília Meirelles, uma crônica de Martha Medeiros e o livro de Lya Luft, Múltipla escolha, ao mesmo tempo. O problema ocorria, às vezes, quando a superposição intercalada, já que não o era por completo, e sim permitindo breves interstícios na percepção, provocava choques na mente da pessoa, fosse pelo assunto dos diversos livros entrar em conflito entre si,  ou porque algum deles fosse de algum modo conflitivo em si mesmo. Conta-se de várias pessoas que tiveram que ser atendidas de emergência, devido a situações deste tipo. Pessoas com mais amplitude mental, mais abertas à multiplicidade do real, ao contrário, apenas desfrutavam, e muito, da invenção.

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