Leitura-escritura, comunidade

Todas as pessoas necessitam de um lugar para ser. Esse lugar vai sendo construído, não está dado pero simples fato de você ou eu termos nascido. No meu caso, este lugar é o de um escritor, alguém que traz a vida para um papel, para uma folha, e a partilha.

Nestes anos em que venho escrevendo e partilhando com as pessoas o que escrevo, aconteceram várias coisas extraordinárias. Uma delas, o progressivo apagamento da fronteira entre a vida vivida e a vida escrita e lida.

Outra, notável, a simbiose entre escritor e leitores ou leitoras. Ou seja, a progressiva construção de um terceiro ser, alguém que lê e partilha com quem escreve, o que esta leitura lhe trouxe. Assim o ato de escrever, aparentemente tão solitário, ganha raízes em uma humanidade que participa ativamente na construção dos textos.

Esta interação vai abrindo portas de lá para cá, e de cá para lá. Cria-se um espaço coletivo de construção de lugares para viver. Os textos são lugares. Toda pessoa que lê, e que vai-se lendo na escrita do mundo, como dizia Paulo Freire, vai se vendo em um texto construído a muitas mãos.

Esta colaboração entre leitores e escritores, entre leitoras e escritores ou escritoras, vai criando uma comunhão, uma comunidade. É como ocorre na Terapia Comunitária Integrativa: você vai apagando as fronteiras que lhe distanciavam das outras pessoas.

O mundo, a vida, foram criando barreiras: um é rico, outro é pobre, eu sou lido e instruído, o outro é semi-analfabeto. Mas na leitura-escritura contínua, neste processo de construção de textos em que o contexto e a pessoa que escreve e as pessoas que leem vão se misturando num mutirão literário-existencial, gera-se uma nova humanidade, uma humanidade em processo de unificação, de criação de comunidade. Gostaria neste momento de agradecer às pessoas que tem contribuído com o meu crescimento como escritor e como pessoa.

Deixe uma respostaCancelar resposta