Juca Kfouri: “Copa sim, mas Olimpíadas não!”

Juca Kfouri em debate realizado no Rio de Janeiro. Foto: Renato Cosentino.

O jornalista José Carlos Amaral Kfouri, mais conhecido como Juca Kfouri, tem vasta trajetória no jornalismo esportivo brasileiro. São mais de 40 anos de atividade com uma posição independente e nacionalista, apresentando seus argumentos sem “papas na língua”. Não é à toa que ele responde a mais de 50 processos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por sempre combater os poderosos do esporte mais popular no Brasil. “É a regra deles, de tentar te intimidar”, diz Juca.
Kfouri participou na última sexta-feira (25/11) do debate “Copa: paixão, esporte e negócio, promovido pelo Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O movimento promoverá debates como este de três em três meses no Rio de Janeiro. Na ocasião, o jornalista defendeu que o Brasil não está preparado para receber os jogos Olímpicos, devido à falta de política nacional para os esportes, e que é uma vergonha a construção de 12 estádios de futebol para receber a Copa do Mundo em 2014.
Segue uma edição, previamente autorizada pelo jornalista, das palavras que Juca Kfouri disse ao público durante o evento, junto a uma entrevista concedida ao Fazendo Media.
Copa do Mundo e o reflexo de seus projetos nas cidades sedes
Na Cidade do Cabo eu vi uma das situações mais angustiantes na minha vida, a tal Cidade de Lata, que foi o local para onde foram desalojadas 4 mil famílias que moravam onde se construiu um dos mais lindos estádios que existe no mundo. É realmente uma maravilha o Cape Town Stadium, e começa a ser discutida a implosão dele porque, rigorosamente, depois da copa ele nunca mais foi usado.
Uma das mentiras que se conta sobre a construção de estádios é que eles são pólos de desenvolvimento nas regiões para as quais eles vão. Eu estive em Soweto, e vi que o Soccer City foi feito a 4km do outro estádio de Joanesburgo, o Ellis Park. É um estádio histórico, onde o Mandela foi vencer o preconceito dos negros em relação aos esportes dos brancos e depois teve a Copa do Mundo, quando os brancos foram ao estádio aplaudir o esporte dos negros. Soweto não progrediu 1 centímetro por causa do Soccer City. Assim como nos parece que o Engenhão, curiosamente o estádio mais moderno do Brasil que sequer foi citado para ser sede da Copa do Mundo, não deu progresso algum ao Rio. Mas fizemos mais uma reforma no Maracanã, e certamente faremos mais outra para os jogos Olímpicos.
Escolha do Brasil para sediar os dois mega eventos esportivos
Pela primeira vez na história de mais de 100 anos das Olimpíadas modernas o presidente [Carlos Nuzman] do Comitê Organizador dos jogos é o presidente do Comitê Olímpico Nacional. Não há neste comitê sequer um nome brasileiro que a sociedade brasileira respeite. Me dê um motivo, como o Tim Maia falava, para a gente achar que vai ser diferente do que foi a organização do Pan-Aamericano. São rigorosamente as mesmas pessoas que nos prometeram jogos Pan-Americanos por R$ 400 milhões de investimento público e gastaram quase R$ 4 bilhões. Prometeram despoluir a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Baía de Guanabara e fazer o Metrô, e não nos entregaram nada. Entregaram um belíssimo parque aquático, o Maria Lenk. Enquanto a gente dizia que era um excesso para os jogos pan-americanos de segunda classe, eles diziam que caso o Rio viesse a ganhar o direito de sediar as Olimpíadas o parque aquático já estaria pronto. Era uma aposta e como se ganhou, aqueles, como eu, que criticavam, enfiaram o rabo entre as pernas como eu humildemente fiz. Mas agora o Comitê Olímpico Internacional (COI) nos diz que a capacidade de público do Maria Lenk está aquém das exigências do COI para as provas de natação, razão pela qual faremos outro parque aquático. E o nosso brilhante Maria Lenk será usado para o aquecimento das provas de natação, jogos de pólo aquático e provas de saltos ornamentais.
Aí a gente pensa na Copa do Mundo. Na França o presidente do Comitê Organizador foi o Michel Platini, que não era o presidente da Federação Francesa de Futebol e por acaso era o mais famoso da história do futebol francês. Depois na Alemanha o presidente do Comitê Organizador da Copa também não era o presidente da Federação de Futebol da Alemanha, era o Franz Beckembauer, por acaso o maior jogador da história do futebol alemão. No Brasil, certamente porque nos falta um grande nome do futebol mundial [a entrevista foi realizada antes de Ricardo Teixeira chamar o ex-jogador Ronaldo Fenômeno para o Comitê Organizador da Copa], não há outra razão, o presidente do Comitê Organizador da Copa é o mesmo presidente da Confederação Brasileira de Futebol, que logo se apressou em montar esse Comitê à sua imagem e semelhança. Pôs como diretora executiva a sua filha, Joana Havelange, cujo passado profissional dela é uma grife de bolsas que faliu. O homem de imprensa deste comitê organizador local é o mesmo da CBF, o seu Rodrigo Paiva. O diretor jurídico é um advogado pessoal do senhor Ricardo Teixeira, o [Francisco] Mussnich, que vem a ser também cunhado do nosso grande empreendedor Daniel Dantas. Também ai não há um nome que a sociedade brasileira respeite, e quando digo isso quero deixar claro que com a idade me tornei uma pessoa mais tolerante. Eu não queria gente da minha turma, mas não tem ninguém que você diga que não vai por a mão na cumbuca, e vai fiscalizar e a gente pode confiar. Nenhum. É a desfaçatez mais acabada e pronta que você possa imaginar.

3 comentários em “Juca Kfouri: “Copa sim, mas Olimpíadas não!””

  1. Esse Juca Kfouri é um babaca…as obras das Olimpíadas estão mais adiantadas que as da Copa.
    Eu preferia que a Copa não fosse realizada no Brasil, mas a Olimpíada sim.

  2. “Estão fazendo o novo campo do Corinthians, numa região que se a primeira ministra alemã se sentir mal não vai ter hospital para levar. Vão ter que pegar um helicóptero e levá-la ao Morumbi, onde tem o Einstein, ou no centro da cidade, no Oswaldo Cruz.”
    O Juca errou na mão aqui… quer dizer então que Itaquera é o “inferno na terra”? Itaquera têm hospitais sim.
    O que o Juca quer? Que os eventos esportivos aconteçam nos redutos da média e alta burguesia dos grandes centros? Aparentemente, os únicos lugares do Brasil que têm hospital… o resto é clínica veterinária por acaso?

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