Assim, aos historicamente discriminados, aqueles excluídos pelo direito exemplarmente burguês positivado no Brasil, restaram apenas, no campo, as sobras do latifúndio, e, no urbano, as áreas desprezadas pela especulação imobiliária, esta forma paroxística de produção capitalista das cidades.
Não foram poucos os governos empenhados na repressão aos companheiros favelados, destacando-se na memória mais recente, antes de todos e, certamente, o mais violento por suas convicções autoritárias, o governo de Carlos Lacerda, com suas inesquecíveis e violentas remoções. Mas não lhe ficaram devendo na perversa agressividade nem o de Negrão de Lima nem o de Chagas Freitas.
Com tais governos, a prática das remoções ganha forma e vai ser adotada inclusive em ações judiciais por juízes, dada a máxima vênia, principalmente os mal informados dos conceitos jurídicos. Mas o povo das favelas reagiu e, por suas instituições, protestou, sensibilizando com seus protestos a própria Igreja, cuja participação com bispos democratas inesquecíveis, como Dom Waldir Calheiros, em Volta Redonda, Dom Adriano Hipólito, em Nova Iguaçu, e Dom Mauro Moreli, em Caxias, vai contribuindo para encampar a luta dos companheiros favelados.
Nesta cidade, Dom Eugênio Salles cria as pastorais entre as quais a Pastoral de Favelas, cuja contribuição para o reconhecimento social das favelas há de ser sempre lembrado e louvado. E a luta foi se adensando até que, com a reconstituição do País, algumas Leis Orgânicas municipais, como a do Rio de Janeiro, substituiu a forma fascista de remoção pelo remanejamento, uma conquista do povo das favelas.
Pois o remanejamento só é possível em caso de risco, comprovadamente definido por prova pericial com a participação de perito comunitário e para local na própria comunidade, ou, não sendo possível na comunidade, em lugar próximo.
Resta que os juízes cumpram o dispositivo da Lei Orgânica e não admitam mais o horror das remoções e não façam o que fez o Juiz que, há poucos dias, despejou com forte aparato policial um morador do Horto Florestal.
Em conclusão, fique um apelo aos juízes removistas: cumpram a Lei, Senhores Juízes!