Fascismo week

A semana passada nos mostrou que o fascismo continua em alta no Rio de Janeiro. Parece até que virou moda. O cineasta e o ator se divertem com expressões do tipo “vou terminar o roteiro no caveirão” e “se eu contar mais sobre o filme vou pro saco”, enquanto um diretor da associação de cabos e soldados espalha cartazes ao estilo faroeste, em que oferece cinco mil reais para quem lhe trouxer o assassino de um policial – estando ele vivo ou morto.
Não cabe mais a cineasta e ator dizerem que não houve intenção, desculpa amplamente utilizada quando, à época do lançamento do primeiro filme, foram confrontados por jornalistas, escritores, antropólogos, advogados e professores preocupados com o golpe desferido contra a democracia.
Assim como não vale a pena aceitar o cinismo do diretor da associação policial, que garantiu que não estava incitando o assassinato de ninguém. “Apenas para o caso de esse indivíduo já estar morto”, disse, esquecendo-se que, se assim fosse, a autoridade competente para receber o corpo é o Instituto Médico Legal, e não a associação de cabos e soldados.
Brincar com tortura em público é, no mínimo, irresponsabilidade. No caso, irresponsabilidade que conduz ao fascismo. Assim como pedir a cabeça de quem quer que seja é inaceitável numa sociedade que se pretende civilizada.
O assassinato dos policiais deve ser condenado, evidentemente. São servidores públicos que perderam a vida trabalhando para o bem coletivo. Agora, esse fato não pode, em nenhuma hipótese, servir como ode ao fascismo. Melhor seria se cineasta, ator e diretor empreendessem uma campanha nacional pela valorização profissional do policial e contra a política de extermínio do governador Sérgio Cabral, esta legitimada e incensada pelas corporações de mídia. Política essa responsável, em grande medida, pela escalada da violência no Rio de Janeiro – contra o cidadão comum e contra o profissional da segurança.

7 comentários sobre “Fascismo week”

  1. Amigos,
    em mais esta versão glamourizada 2, não será preciso ter muita inteligência para se saber a sua função de produto político-cultural (receita fascista de estetização da política, e não, politização da estética) para o que virá: legitimar e incrementar a apartação, como uma espécie de “cultura superior” e “civilizadora”, via unidades “pacificadoras” nas favelas cariocas, como modelo para todo o Brasil, servindo-se do laboratório Haitiano, como fonte de treinamento, copa do mundo e próximas olimpíedas no Rio de Janeiro, como justificativa, tal qual se fez na preparação dos jogos panamericanos (PAN) quando se expandiram as “milícias” e chacina do morro do alemão. Tudo com direito a acessores militares colombianos e prefeito de Nova York. Tolerância bem abaixo de 0.
    Não é preciso nem mesmo ser “democrata” ou “marxista”, de boteco ou de hotel cinco estrelas, para se constatar o óbvio de banalização da barbárie “civilizadora”, para o entretenimento de quem já está imbecilizado: basta ser apenas humano.
    Aqui está o blog oficial, para ser acompanhado, do tropa2 – http://www.tropa2.com.br/
    Para quem tem estômago, e adora esse tipo de entretenimento, bom apetite.
    Abraços.

  2. Pingback: Uma questão de símbolo « Viagens Alternativas e Aleatórias

  3. É, o Padilha deveria fazer filme da Vila Sésamo, assim a “mídia inteligente” o aplaudiria. Não deveria pedir a cabeça de niguém, o melhor é ser amiginho.
    Pelo visto o “vocês são um bando de maconheiros”, apontando para classe dominante, funcionou perfeitamente.
    Os cordeirinhos estão cansado de hipocrisia e de enganação.

  4. Algumas observações:
    se antes, a justificativa do combate ao tráfico de drogas legitimaram uma tentativa de crescimento paramilitar, com o título ambíguo de “milícias” (construído pela rede Globo e políticos reacionários como um mal menor), constituídas pelas máfias policiais, mas que logo foram desmoralizadas pela polícia federal com as prisões de Álvaro lins e chefes ligados aos partidos políticos DEM e PMDB carioca. Somada à descapitalização dessas máfias com apreensões de cassa-niqueis, hoje, o que restou como alternativa contra-insurgente no Rio de Janeiro?
    Está na cara que são as UPPs (unidades policiais pacificadoras): militarização implacável de todas as favelas como um modelo mais eficiente para a repressão e o controle social, ideológico e político da pobreza que ameaça e amedronta as elites metropolitanas para dar conta do problema.
    Este modelo de controle, se inscreve na nova doutrina de guerra assimétrica ou guerra de quarta geração como um modelo global. Serve para Iraque, Palestina, Afeganistão, Haiti, Rio de Janeiro…
    Como se caracteriza este novo estilo de guerra?
    Caracteriza-se por militarizar instituições não estatais da sociedade civil para dar conta às assimetrias insurgentes, como a intifada Palestina, Oaxaca no México, e periferias de Paris, para citar algumas.
    A mídia corporativa, bem como o cinema transformaram-se em eficientes instrumentos militarizados para a propaganda de guerra psicológica: linha de frente da guerra assimétrica: tecnologia último tipo nas mãos do terrorismo de Estado.
    Para isso, arregimenta-se cineastas para se produzir as tais “obras de arte”, que por fabulosos apoios financeiros, servem alegremente ao projeto fascista hipermoderno e flexível empregando o que há de mais avançado nas técnicascinematográficas do cinema narrativo para as massas. Nada é para fazer pensar, apenas para consumir imagens espetaculares e sair repetindo slogans que estigmatizam a pobreza e todas as suas formas de resistência à opressão.
    Três eixos chaves são sistematicamente trabalhados:
    1- levar a “democracia” por ocupação militar ou golpe seguido de eleição como em Honduras.
    2- guerra contra a violência (a pobreza aqui se explica da seguinte maneira: o pobre é concebido como um ser intrinsecamente carente e violento e que fatalmente seus filhos serão bandidos ou terroristas. Também tem lugar fundamental o Freudismo, ou seja, a psiquiatrização dos conflitos sociais e de classe. Disso o nosso cineasta Padilha entende e demonstrou bem no filme 147. O cínico que se compadece. Fernando Meireles também se encaixa aqui)
    3- guerra às drogas e ao terrorismo como intrinsecamente associados
    Portanto, o “tropa de elite 2” não será o último. Inscreve-se numa estratégia político-cultural de um fascismo de novo tipo preservando e ampliando os métodos de estetização da política ao invés da politização da arte. Um bom filme para se comparar as intencionalidades envolvidas nos autores é o famoso “TAXI DRIVER” de MARTIM SCORCESE – 1976. Ele não leva o espectador a se identificar com o fascismo do personagem, o que no caso do Padilha, à serviço de quem lhe encomenda ou mesmo por convicção, leva o espectador a se identificar completamente com o capitão nascimento. É só conferir o método narrativo e os efeitos desejados.
    Por enquanto fico por aqui.

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