O Senhor Deus é o criador de todas as coisas e agradecemos pela riqueza, diversidade, abundância e beleza do nosso planeta. Tudo isto ele nos deu para que fossemos bons cuidadores e pudéssemos desfrutar destes recursos com justa repartição para todos e com respeito ao meio ambiente.
Não é isto que a economia de mercado está fazendo. Baseada no crescimento sem limites, no consumo desenfreado, este sistema econômico concentra renda e coloca em risco o meio ambiente.
Este modelo é baseado em alimentar um permanente estado de insatisfação que só pode ser compensado por novos produtos. Nosso consumo é uma resposta a esta insatisfação e não às nossas necessidades reais. Insatisfação inflada pela publicidade, que promete felicidade através dos símbolos de status: seja roupa de grife, celular de última geração, o eletrodoméstico inovador, ou automóvel dos sonhos.
Assim, entramos numa roda viva de insatisfação que nos torna mais consumistas, e por sua vez nos faz trabalhar mais. O resultado é endividamento crescente, menos tempo com a família e maior insensibilidade ao drama dos pobres. Sem contar que nos tornamos vaidosos, pois consumimos mais para impressionar os outros.
Convocados pela Comissão de Lausanne e pela Aliança Evangélica Mundial, em 1980, um grupo de evangélicos se reuniu em Hoddesdon, Inglaterra, e realizou uma Conferência Internacional sobre Estilo de Vida Simples. Produziu uma declaração, que considero profética, e cito parte do quinto artigo: Padrão de Vida Pessoal:
Nossa obediência cristã exige um padrão de vida simples. Entretanto o fato de 800 milhões de pessoas viverem na pobreza e por volta de 10.000 pessoas morrerem de fome por dia (dados de 1980), torna qualquer outro padrão de vida injustificável.
Alguns de nós fomos chamados para viver entre os pobres, outros para abrir seus lares a necessitados, mas todos nós estamos determinados a desenvolver um estilo de vida mais simples. Nós temos a intenção de reexaminar nossa renda e nossas despesas, com a finalidade de viver com menos e dar mais. Não estabelecemos nenhuma regra para nós mesmos nem para os outros. Contudo, tomamos a resolução de renunciar ao desperdício, o supérfluo, e a extravagância na nossa vida pessoal: vestuário, despesas de viagem, moradia, construção de igrejas. Aceitamos também a distinção entre a necessidade e o luxo, o lazer criativo e os símbolos de status, a modéstia e a vaidade, o serviço a Deus e a escravidão do consumo.
Sabemos quais são as verdadeiras fontes de alegria e paz em nossas vidas: viver com Deus e para Deus, amando e servindo ao próximo; estabelecer amizades e vínculos significativos e duradouros, participar de uma comunidade cristã, buscar viver de forma integra e ética, cultivar valores como respeito, dignidade, solidariedade, fidelidade. Crescer profissionalmente sem vender a nossa alma ao consumo e manter uma contabilidade financeira pessoal equilibrada, não gastando mais do que ganhamos, ser generosos e contribuir para o Reino e para os pobres. E finalmente redescobrir os pequenos prazeres simples e gratuitos, diminuindo o consumo e libertos da compulsão do ter, podermos viver de forma mais livre e mais construtiva.
Caso contrário corremos o risco de ter todos os produtos que a publicidade insiste que tenhamos para sermos felizes, e viver num estado de permanente insatisfação, inveja e correndo sem tempo para nada. Terminaremos todos presos num congestionamento gigante e asfixiados por uma poluição sufocante em São Paulo. Viveremos num país que se transformou numa grande plantação de cana com um enorme abismo social. E na angustia de uma eminente catástrofe mundial ocasionada pelo derretimento das geleiras devido ao aquecimento global. E uma eminente derrocada do sistema financeiro mundial gerada pela inadimplência dos americanos que compraram imóveis que não podem pagar.
Frei Beto nos conta o seguinte: “Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores, respondia: – Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz”.
É o que podemos fazer ao ver a publicidade na TV, nos jornais e revistas, e na nossa próxima visita ao Shopping-Center.
Um comentário em “Em busca de uma vida mais simples”