Ditadura às Avessas

nacionalismo.jpg
As palavras têm poder. São elas que jogam para o universo tudo aquilo que sentimos e desejamos. Entre nós, brasileiros, algumas foram eternizadas pela genial capacidade de jornalistas, poetas e escritores de descrever um momento, um sentimento. Até ai, íamos bem. Dávamos sinal de que valorizamos a sensibilidade de quem descreve com maestria o povo, a pátria.
O problema é que aqui o desastre é hipervalorizado e intencionalmente sobreposto ao que temos de bom. Um Brasil subdesenvolvido, atrasado é narrado com gosto a fim de nos imobilizar ou induzir a autoflagelação. E, mesmo que se avance, apresentando números e conquistas valiosas, alguns persistem em estimular o complexo de vira-latas, fazendo o brasileiro levantar-se contra si.
A luta do Brasil contra ele mesmo é vista diariamente em jornais e revistas em tom de veracidade e profecia. Afinal de contas, quando as denúncias de corrupção são seletivas ou a propagação de supostas delações oriundas do disse me disse ganham tom de verdade, é certo de que a intenção não é o progresso e sim defender os interesses de alguns. Consequentemente, o povo desorientado mistura críticas, alvos e na conclusão confusa acaba voltando-se contra o Brasil. A expressão “sou contra tudo que está ai” é uma das muitas escutadas nos últimos tempos.
Apesar desses atrasos, afirmo acreditar que o Brasil evoluiu brutalmente. Não somos mais aquela nação sufocada, que se limitava a breves lampejos de brilhantismo, advindos quase que exclusivamente do futebol. Mas os pontos positivos e as verdades não despertam o interesse e nem desejo de propagação. Destacam-se desastres, falhas, omitindo fatos primordiais para o entendimento da nossa história e principalmente das nossas qualidades.
Enfrentamos marés contrárias diariamente. Querem, a todo custo, nos levar a crer que não temos jeito. São panelaços seletivos, atos de intolerância e preconceito, incoerências judiciais exaltadas, notícias irresponsáveis e tendenciosas, representados por uma única bandeira: a do anti-Brasil. Diga-se de passagem, a maioria que as levanta, não é de sofredores, que teriam motivos mil para tal ato. A turma que ainda não aceita ver um Brasil melhor e faz força pelo retrocesso é uma elite que sonha com um Brasil americanizado ou um país de luxo e oportunidades exclusivos. É dessa classe que se ouvem os maiores absurdos e se veem nomes como Eduardo Cunha, Aécio Neves, Sergio Moro, Bolsonaro e outros mais, exaltados. São esses alguns dos que propagam falas e ações ignóbeis, estimulando o Brasil a dar marcha à ré.
A internet nos mostra quase que diariamente a ignorância e a incoerência gritantes que não precisam de razão para ser expostas. A conclusão é que gastar energia com essa classe é perda de tempo. Não reverteremos esse quadro. Lamento os que são conduzidos pela massificação dessas ideias e infelizmente não se veem como são: vítimas. Com esses, ainda vale o esforço, o diálogo.
Falo de tudo isso para chegar à atuação do judiciário. Antes disso, quero lembrar que são quase quatorze anos de PT no poder e todo o republicanismo do partido hoje é visto como ingenuidade ou incapacidade estratégica.
Depois de dar autonomia à PF, tornar a PGU independente, o que se viu foram ações de perseguição que nos remete aos tempos de ditadura. O PT errou em não seguir as práticas de seus opositores, que astutamente aparelharam todas as possibilidades que os levassem a problemas futuros? Não. Mas, depois de ver Gilmar Mendes atuar de forma descarada, sempre a favor do PSDB; a estrela Sérgio Moro perseguir diariamente o Partido dos Trabalhadores ou o delegado da Polícia Federal convocando o povo para manifestações fica claro detectar onde se encontra o atraso do país. São eles que se sobrepõem aos ritos judiciais e, amparados pela grande mídia, ludibriam a sociedade a crer que todas essas ações irão mudar o Brasil.
Ações endossadas por revistas semanais, que na tentativa de extirpar o PT e seus líderes do cenário político, apresentam capas absurdas e cruéis. Destaco a capa recente da revista Veja, que trouxe Lula vestido de presidiário. E por incrível que pareça, segundo a juíza Luciana Bassi de Melo, não existe crime algum. Segundo ela, a capa é uma alusão crítica à classe política. A revista Istoé, esta semana, também embarcou na irresponsabilidade. Sem apurar a veracidade da delação de Delcídio, joga para o público informações capengas que irão colocar mais lenha na fogueira.
E são essas pessoas, condutoras da justiça, que colocam exclusivamente o PT e seus treze anos de governo na parede, parando o país. E é visível o entusiasmo quando a situação se aproxima do quanto pior, melhor. E pior mesmo só fica para o povo, porque as grandes instituições financeiras continuam a lucrar. Inclusive, todo o sobe e desce da bolsa e dos juros faz muita gente ganhar. E toda a projeção desses episódios ocorre em ação conjunta com a grande mídia que além de endossar esta situação, se omite de apurar e denunciar a oposição. E ai fica a pergunta de como governar um país, se o poder real rema contra a pátria.
Mas é preciso firmar o pé e lutar contra os falsos profetas. As esperanças devem se fortalecer. E hoje, com o “sequestro” sofrido por Luis Inácio Lula da Silva, a impressão que dá é que o golpe de 54 e 64 está mais vivo que nunca. Enquanto isso, Aécio Neves, mesmo tendo sido delatado por três vezes, comemora a ação contra Lula. Sem falar em Cunha que resiste a todas as acusações na presidência da Câmara. Parece que prende-lo é missão impossível.
Mas não perderemos a esperança e nem vamos esmorecer. Da mesma forma que eles não desistem de jogar sujo, nós não podemos desistir de formar e informar o povo e lutar por um país justo e democrático. E por mais doloroso que esteja sendo, é bom lembrar que é no caos da desordem que nasce o progresso. Vamos à luta.
(*)Foto: http://www.institutojoaogoulart.org.br

Um comentário em “Ditadura às Avessas”

  1. Eu realmente não gosto de comparações de qualquer político de esquerda com Getúlio Vargas.Além dele ter sido bastante elitista, enquanto pagava de populista, foi um ditador por 15 anos, 3/4 do tempo da ditadura militar.

Deixe uma respostaCancelar resposta