Deveres e direitos humanos

Muito se fala hoje de direitos humanos, e é algo necessário. Mas pouco ou nada escutamos falar, dos deveres humanos, do que os humanos nos devemos uns aos outros e à natureza da qual fazemos parte. Algo que me preocupa bastante, e tenho certeza de que o mesmo ocorre com muitas outras pessoas é o quanto a vida humana tem sido banalizada, o quão pouco vale nos dias de hoje a vida de uma pessoa. E não me refiro apenas ao aspecto físico da vida, mas à vida em si, em todas as suas dimensões. Presta-se atenção, e, repito, há de ser feito, ao como se mata por par de tênis ou por uns poucos reais, mas nada se diz sobre o quanto a vida humana se destrói por falta de afeto, por não nos darmos uns aos outros o respeito que toda pessoa merece.

Chama-me a atenção especialmente, como uns nos tornamos meio para os outros. O outro torna-se um bem de uso. Você me serve, então eu uso você, e lhe dou o trato necessário para poder continuar a usar você. Quando você não me serve mais, descarto você, e o mesmo ocorre comigo, obviamente, porque também sou parte da trama relacional. Quando não sirvo mais a você, seja porque envelheci, adoeci, fiquei pobre ou tive que me aposentar por invalidez, deixo de existir para você. E ainda pode ser que você fique com raiva de mim porque ainda existo, anda estou aí, como testemunho da sua miséria moral. Pais servem enquanto pagam as contas dos filhos e lhes propiciam uma vida sem esforço. Parece que para muitos jovens de hoje o trabalho e o esforço são uma espécie de humilhação, o que querem é a mercadoria, o celular, o carro, o dinheiro. Esforço, não. O objeto sim.

E se você já não paga mais, porque já pagou até o que não devia, se prepare. Processo judicial, destrato, indiferença. Os filhos que você criou, que amou a pesar das dificuldades que toda relação humana envolve, de lado a lado, viram-lhe as costas. Você vira inimigo. Não sei estas linhas possam soar muito amargas para você, querido leitor ou leitora. Parece que se passou de um tempo em que os jovens não tinham quase direitos, a um tempo em que não assumem nenhum dever, nenhuma obrigação, apenas cobram, e com maus modos. Obviamente, qualquer crítica sempre pressupõe que quem a faça, esteja com a razão, ou ao menos pense estar com ela. É claro que nada nos isenta da obrigação de tentarmos ser consequentes com o que apontamos nos demais como defeito.

Até que ponto eu também uso as pessoas, até que ponto me sirvo delas, sem cuidar delas como seres humanos, apenas usando-as como coisa, objeto, meio? Creio que vale apena sempre estarmos atentos e vigilantes, para não nos tornarmos artífices da destruição humana que parece estar tomando conta do mundo, pela ingratidão, pela indiferença, pelo desamor, pelo desrespeito com que nos tratamos uns aos outros.

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