Durante as manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) do último sábado (3), foram registrados episódios de agressão a manifestantes de direita que foram aos atos de São Paulo, de Florianópolis e do Rio de Janeiro. Um desses episódios aconteceu na avenida Paulista, onde militantes do PCO entraram em conflito com os do PSDB para tentar expulsá-los do ato.
Após as ocasiões, as frentes e organizações articuladas na campanha “Fora, Bolsonaro” declararam ter uma posição unitária contra atos de violência. Por outro lado, o PCO afirma entender a revolta do grupo que não aceitou a presença do grupo de direita no protesto.
Segundo o militante Edson Carneiro Índio, da Povo Sem Medo e dirigente da Intersindical, “é reprovável o uso da violência” durante os atos e todos os setores que forem contra o presidente, a favor da vacina e do auxílio emergencial são bem-vindos nas articulações de rua.
“Eu acho que não cabe o veto de ninguém. E acho também que não cabe o uso da violência. Acho reprovável essa atitude dos companheiros”, explicou. Para ele, o mais importante é interromper o avanço do fascismo no Brasil e derrotar politicamente o Bolsonaro e o bolsonarismo.
“Então, cabe a nós, afirmar o projeto dos trabalhadores e dos movimentos sociais. A direita liberal que se explique porque eles são contra o combate ao neoliberalismo”, diz. De acordo com Índio, a hegemonia das ruas sempre foi da esquerda e as manifestações que estão acontecendo neste momento têm organização clara.
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, concorda com a fala de Índio e diz que, por conta de os movimentos sociais terem obtido tanto sucesso nas manifestações, alguns outros setores se sentiram atraídos a irem para as ruas se juntaram ao coro pelo “Fora, Bolsonaro”.
“A cada manifestação chegam setores novos e não só setores da política tradicional ou partidos ao centro e à direita, mas também setores da sociedade, popular… então, tem essa ampliação”, argumenta.
Para ele, nessa condição de ampliação, é preciso que os manifestantes tenham cuidado para que outras pessoas se sintam a vontade para ir aos atos contra o presidente.
“A rua, ela tem que ser de todos. Então, evidentemente, qualquer tipo de agressão, seja entre as organizações que compõe a campanha, seja com outras que estão chegando, mesmo que elas sejam de direita e nós não tenhamos nenhuma concordância para além do ‘Fora, Bolsonaro’, elas não contribuem com o fortalecimento do movimento”, afirma.
Já o professor Antonio Carlos, dirigente nacional do PCO, considera compreensível a revolta de militantes em relação ao grupo de direita. Ele argumenta que foi essa direita que agora está querendo participar das manifestações que ajudou a concretizar o golpe de 2016 e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, e que contribuiu para pavimentar o espaço que foi conquistado por Bolsonaro hoje.
“Essa direita, sem espaço, está tentando cavar um espaço junto aos setores que têm um apoio popular. Neste momento, só tem duas alas que têm apoio popular: a esquerda e direita, através do Bolsonaro”, afirma.
Para ele, mesmo a direita querendo se descolar da imagem do presidente, o PSDB também produz políticas públicas que fazem com que os trabalhadores e os mais pobres sofram, como é o caso de professores da rede pública e da população negra.
“Esse tipo de gente não tem porque querer ser recebida de braços abertos, com afagos, entre aqueles que são as suas vítimas”, diz. E finaliza: “Isso provocou uma insatisfação, que nós consideramos normal, e, no meio disso aí, o clima esquentou em algum momento”.
Edição: Rebeca Cavalcante
Fonte: Brasil de Fato