Comentário: Tudo que é binário se desmancha no ar!

Do blog do Agni

Todos fazemos listas de resoluções para o novo ano que se inicia. Na minha cabeça essas resoluções costumam ser uma constante para o século. Ironicamente, me dei conta de uma resolução importante justamente durante o Reveillon.

Faltando aproximadamente uma hora para a tal virada de ano, entre uma cerveja e um churrasquinho, um amigo meu de longa data faz tipo de colocação que eu já não ouvia a um bom tempo: “A revolução tem que começar pelo campo!”. Com o espírito já meio elevado, não pude deixar de me espantar (e ao mesmo tempo sorrir) com o comentário.

Mais um gole de cerveja e eu ouvia que “…outras revoluções aconteceram dessa forma!”. Já acalorando a conversa, entre goles de cerveja e discussões que iam desde os Grileiros no Pará até a Revolução Cubana, fiz algumas de minhas considerações:

“Como dizem, uma Revolução para acontecer necessita do apoio popular. Devemos nos preocupar hoje muito mais com quem condiciona e forma a opinião popular… Qualquer revolução deve voltar seus olhos pra Mídia, hoje temos meios de fazer parte dela! Hoje temos a oportunidade de sermos muito mais que consumidores de informação, podemos produzi-la, discuti-la, rebate-la… Não somos mais tão passivos assim com relação aos conteúdos que recebemos! Hoje é mil vezes mais fácil criar um Blog para levar essa expressão a um número muito maior de pessoas do que tentávamos fazer em outras épocas com os fanzines xerocados… Hoje o alcance e a interação dos protestos é muito maior através do Twitter do que com panfletagens.

Diferente do que teve início na Revolução Industrial, Não existe mais essa divisão clara entre ‘detentores dos meios de produção’ e ‘os que vendem mão de obra’… Muita gente hoje detém seu próprio meio de produção e, ao invés de mão de obra, vendem conhecimento. Nesses nossos dias, muitos produtos são intangíveis, binários! O poder está hoje nas mãos daqueles que detêm o fluxo e produção de informação, daqueles que detém patentes de software, e mantém o Terceiro Mundo nessa dependência tecnológica. Devemos ser produtores de informação e conhecimento, e não simplesmente consumidores, e toda essa informação deve ser livre e aberta a todos que quiserem usa-lo, estuda-lo, adapta-lo ou distribui-lo!

Uma revolução não deve ter um foco fixo de onde se iniciar, devem existir vários focos espalhados em diversas áreas, combatendo as diversas formas de dominação. As Revoluções do passado aconteceram como aconteceram pois se vivia uma outra conjuntura, um outro contexto… Hoje devemos mirar também nosso olhar para coisas muito maiores!”

Depois de inúmeras interrupções, eu terminei meu discurso. Meu amigo disse então:

“Revolução de Tecnologia? Pela Internet? Com Computadores? Só se for algum outro tipo de Revolução Burguesa… Vocês ficam escondidos atrás das telas, crentes de que estão alcançando o mundo todo, se esquecendo das coisas que acontecem na vida real… Esquecem que ainda existem pessoas dentro de fábricas, esquecem que essas pessoas ainda vendem sua mão de obra para pessoas que ainda detêm meios de produção… Esquecem que suas Tuitagens não chegam até aqueles que passam seus domingos no sofá assistindo a Globo, não chegam até aqueles que vivem de catar o lixo de vocês nas ruas, nem até aqueles que ainda hoje não tem esgoto encanado, nem aqueles que vivem nas barracas dos terrenos ocupados, ou daqueles que cortam cana… Não chegam até aqueles que se ralam de verdade na aspereza da vida. A Internet e essas tecnologias não passam de uma zona de conforto… e comodismo!”

Quando então faltavam já poucos minutos para a virada de ano, e fogos já pipocavam pelo céu, a discussão começava a esquentar mais do que devia, e um terceiro amigo estão veio intervir para que parássemos de conversa fiada, e para que voltássemos a bebemorar (seja lá o que tivéssemos para bebemorar nessa virada). Fato é que nenhum dos dois sabia mais se estava falando coisa com coisa!

Ainda sou convicto de alguns pontos que levantei, porém não da mesma forma. Não discordo (agora) de tudo que disse meu amigo. A Internet e a Tecnologia ainda não estão presentes na vida de muitos, da forma que está na nossa. A Internet não deixa de ser uma boa zona de conforto para muitos, inclusive para mim!

Resolução para 2010? Não deixar de fazer as coisas que venho fazendo, mas talvez passar menos tempo na frente de uma tela, sentir um pouco mais de sol na pele, e ver um pouco mais a vida acontecendo de verdade!

(Leia aqui o texto original)

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