Chile: fim da bipolaridade?

Por Isaac Bigio

LONDRES, 16/1/2006. Depois do resultado das eleições presidenciais chilenas e a vitória de Michelle Bachelet é muito provável que o Chile vá passando de um sistema político rachado em dois blocos a um baseado em quatro a cinco forças. Chile é o único país em que social-cristãos e social-democratas compartilharam 16 anos o poder. Ambas as correntes internacionais são as principais forças na União Européia e as coligações nacionais entre ambas costumam ser transitórias. No Peru, onde haverá eleições em breve, ambas jamais co-governaram.

Enquanto os socialistas chilenos crêem que mantendo a antiga polarização entre pró e antipinochetistas garantem a continuidade no poder, Sebatián Piñera, o candidato derrotado da coalizão de direita Aliança pelo Chile, procura difundi-la. Piñera chama os democrata-cristãos a compor com ele pelo “humanismo cristão” que enfrente os “socialistas apoiados pelos comunistas”. O que Piñera quer é aproveitar seus laços familiares democrata-cristãos e o ressentimento que há entre muitos social-cristãos em relação a uma mulher que é atéia e que em sua juventude foi comunista.

Ganhou Bachelet

LONDRES, 16/1/2006. A social-democrata Michelle Bachelet foi eleita a primeira mulher presidente do Chile ao vencer o empresário liberal Sebastián Piñera no segundo turno neste domingo (15/01). Para a Internacional Socialista (IS) ganhar Chile é um marco. Por isso, nestes dias chegaram a apoiar os comícios de Bachelet desde Felipe Gonzáles e Miguel Bosé até Ségolène Royal, a pré-candidata favorita do socialismo francês. Para a social-democracia chilena, Bachelet seria uma mostra de que é possível compatibilizar uma orientação social e pró-direitos humanos com uma boa relação com os mercados e os EUA, bem como ser um fator de “moderação” frente ao radicalismo “antiimperialista” de Evo Morales e Hugo Chávez. A receita chilena consistiria num prolongado acordo com o centro social-cristão.

Efeito Pinochet

Desde a queda de Pinochet, a direita mapochina não pôde ganhar nenhuma eleição presidencial devido ao fato de que o Acordo Social-democrata cristão polarizava ao país entre quem estivera pelo Não ou o Sim à ditadura. Piñera quis romper esta dicotomia. Foi o primeiro candidato da direita a atacar ao hoje processado ex-general e procurou dividir o Acordo, propondo a quadros e eleitores democrata-cristãos fazerem um campo “humanista cristão” contra os “vermelhos”.

Mas parece que nesse astuto giro, em vez de romper a democracia cristã (DC), Piñera pode ter se divorciado de um importante setor de eleitores pinochetistas duros, que poderiam abster-se e tirar-lhe a vitória. A derrota de Piñera acentua o giro continental para a centro-esquerda e para o distanciamento de candidatos unidos diretamente ao grande empresariado.

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