Catherine Walsh: “O Estado segue promovendo o pensamento colonial”

Debates da III Conferência Bienal da Associação para o Estudo da Diáspora Africana no Mundo (ASWAD). Por Gustavo Barreto, do Rio de Janeiro, 5/10/2005

A pesquisadora Catherine Walsh, da Universidade Andina Simon Bolívar, em Quito (Eaquador), deu ênfase na necessidade de se repensar o conceito de “conhecimento”, tal como o usamos hoje. Para Walsh, é necessário nos perguntar de onde falamos e com quem estamos pensando. Ele criticou o pensamento construído exclusivamente dentro das universidades, criando um imaginário sobre a realidade social dos povos do Sul, principalmente no que diz respeito às produções estadunidenses acerca do Caribe e da América Latina. “A produção intelectual é feita, na verdade, pelos povos e movimentos sociais, e não dentro da universidade”. O ‘conhecimento’, argumenta Walsh, se encontra atualmente pautado pela matriz colonial. E pergunta: trata-se de um produto social ou acadêmico?

Walsh criticou o fato de a maior parte das universidades da América Latina reproduzirem a geopolítica de conhecimento do Norte. “Os andinos não sabem o que produzem acadêmicos brasileiros, e vice-versa. Afinal de contas, o que entendemos por conhecimento? Algo produzido no Norte, traduzido e aplicado no Sul?”

Ela cita o caso do pensamento acerca dos países andinos, tais como Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. “Em relação a estes países, a maior parte das pessoas pensam que ali só há indígenas e mestiços, se esquecendo que também há uma grande quantidade de afro-descendentes”. No Equador, diz, não há uma aliança consistente entre indígenas e afro-descendentes. Walsh sustenta que organizações “multi-laterais” como BID e Banco Mundial atrelam seus financiamentos à separação desses grupos – citando inclusive um projeto recente de US$ 54 milhões no Equador que segue esta cartilha –, no que classifica como uma “política neoliberal multiculturalista de Estado”.

Ela criticou a constituição bolivariana da Venezuela que, apesar de muitos avanços em relação aos indígenas, deixa a desejar em relação à população afro-descendente que, no país, soma milhões de pessoas. “Neste sentido, muitos estados seguem promovendo o pensamento colonial”.

Em contraposição a esta realidade, Walsh propõe a implementação da “etno-educação”, uma educação não-formal, focada no saber e na práxis das comunidades locais. A etno-educação, diz, precisa encontrar outros lugares de pensamento e romper com o esquema de exclusão da universidade. “São espaços distintos de pensamento, que evidentemente incluem também a universidade”. Para a pesquisadora, são esses espaços importantes para promover a necessária “descolonialidade”.

Mais informações sobre o evento: http://www.aswadconference.rg3.net

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