Breaking news: instaurada a monarquia

leandro leocadio leiteCom a exploração científica desenvolvendo-se exponencialmente, nunca houve tanta riqueza circulando pelo planeta. Nesse contexto, é inconcebível que ainda haja miséria e fome em todos os cantos do mundo.
Nos primórdios da Revolução Industrial, nas núpcias da Belle Époque, Adam Smith se encantava com as possibilidades do capitalismo, acreditando que as fortunas transbordariam das taças das classes superiores e escorreriam a preencher as das classes inferiores.
Contudo, não foi bem isso o que aconteceu. Descobrimos que os recipientes da classes mais altas não têm fundos. Ou têm muitos: na Suíça, nas Ilhas Cayman… O fato é que o excesso de lucro não é convertido necessariamente em aumento de salários ou quaisquer outros benefícios para o trabalhador. É bom lembrar que cerca de 1% da população brasileira detém quase 50% das riquezas produzidas no nosso país.
Esse sobressalente é, sim, guardado. Acumulado. Para que futuras gerações, cujo único mérito é de ter o mesmo sangue, continuem herdando e herdando e herdando. E, nesse aspecto, de onde o capitalismo se afasta da monarquia?
A única diferença é que este sistema era baseado única e exclusivamente em bens imóveis, ou seja, terras. Já aquele não tem preconceitos, baseia-se em móveis, imóveis, capitais ou qualquer coisa que os valha. No entanto, o princípio continua sendo o mesmo: um primeiro homem, arrojado e violento, e são várias as formas de violência, acumula uma quantidade absurda de bens para que seus herdeiros continuem a usufrui-los por muitas e muitas gerações. Enquanto durar o saldo positivo, dura sua dinastia. Ou até que outro intrépido e agressivo guerreiro os tome.
Sem que ninguém percebesse, mundo voltou ao feudalismo. Isso talvez explique a medievalização das nossas instituições políticas atuais. Nosso sistema político-econômico precisa ser repensado com urgência. A solidariedade precisa ser resgatada. Enquanto houver o acúmulo de poucos, persistirá o cúmulo de muitos.
(*) Leandro Leite Leocadio é sociólogo, escritor, impostor, jornalista, cartunista e vigarista. Escreveu no jornal O Estado de São Paulo, na revista Bundas e no jornal Pasquim 21.

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