A isca mordida, previsivelmente, pela classe conservadora, serve como álibi para que se mantenha o discurso atemporal de que estão “varrendo a corrupção”, ou limpando o “mar de lama”: expressões que não saem de moda no Brasil, ditas da esquerda à direita, mas que nunca nos levaram a lugar algum. Falar de corrupção por aqui é uma imbatível jogada de sucesso: promove o milagre de transformar uma alma penada em figura imaculada, de caráter e coragem.
Vale lembrar que Eduardo Cunha, o operador direto do golpe, só foi abandonado após executar o trabalho sujo, em mais uma demonstração da quebra do protocolo moral e temporal do judiciário.
A história, mais uma vez implacável, mostra que aqueles que, por obsessão e vaidade, são capazes de sujar as mãos e atropelar a democracia para serem representantes da perversão do mercado, naturalmente, serão descartados quando já não fizerem mais diferença. Tudo como numa grande máfia: aquele que manda matar, depois do fato consumado, se for necessário, elimina ou entrega também o grande operador.
Enquanto isso, os verdadeiros beneficiários da trama jamais são citados pela crítica: os donos do capital, veneradíssimos por aqui, a essa altura riem de nós: mais uma vez, com uma facilidade tremenda e uma mão de obra baratíssima, vão tomando para si o país e suas riquezas. Vão surrupiando item por item, enquanto são exaltados diariamente por especialistas da área econômica. Levam o título de projetores de uma nação, sob a regência da grande mídia e uma torcida organizada, idiotizada e mesquinha que adora bater panelas.
A política, única forma de se construir um país, vai sendo esfacelada, fortalecendo o discurso apolítico. A grande maioria continua a reduzir o debate, expressando clichês improdutivos, resumindo, como solução, o ódio e o punitivismo: duas características emblemáticas de históricos desastres sociais.
O sociólogo Jessé de Souza* que nos ilumine.
*Jessé de Souza é graduado em direito, mestre e doutor em sociologia pela UnB e Universidade de Heidelberg (Alemanha), respectivamente, e pós-doutor em psicanálise e filosofia pela New York School for Social Research (EUA). Autor de 27 livros e de mais de 100 artigos e capítulos de livros em vários idiomas, dentre os quais se destacam: A elite do atraso – da escravidão à Lava Jato; A tolice da inteligência brasileira; A radiografia do golpe; A ralé brasileira: quem é como vive. Foi presidente do IPEA entre 2015 e 2016, atualmente é professor titular de sociologia na UFABC.
Foto(*): ebc.com.br
Aécio Neves,é o principal articulador do golpe de 2016. Nunca se conformou por ser derrotado nas eleições gerais.
Agora,Aécio não serve mais para a grande mídia,a mídia e o capital especulador já escolheu o salvador da pátria que é o Senhor juiz Sérgio Moro.