As imagens a seguir, foram gravadas com um telefone celular pelo motoboy Ivan Martins dos Santos Filho, de 33 anos na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro. Ivan registrou as imagens momentos antes de ser acertado por um tiro de pistola, que segundo ele, teria sido disparado por um policial militar. O episódio aconteceu na última quinta-feira, dia 5 de abril, quando PMs da Unidade de Polícia Pacificadora teriam assassinado o jovem trabalhador Aliélson Nogueira, de 21 anos. Em protesto contra a morte de Aliélson, moradores se insurgiram contra as forças de repressão e teriam sido reprimidos com tiros de munição real. Um deles, endereçado a Ivan. Acompanhda do presidente da associação de moradores do Jacarezinho, Rumba Gabriel, nossa equipe de reportagem foi ao hospital Salgado Filho conversar com o motoboy que trabalha em uma das maiores companhias aérea brasileiras. Devido à questões internas do hospital, a entrevista não pode ser filmada.
Ivan contou que, no caminho para o hospital, um outro policial teria sugerido que a viatura desse algumas voltas a mais antes de levá-lo ao posto de emergência. Nesse momento, o rapaz contou que já havia perdido muito sangue. Já no Salgado Filho, o trabalhador teria sido intimidado por PMs que teriam o acusado de envolvimento com o tráfico. Ivan contou ainda que presenciou o momento em que policiais da UPP atiraram contra o container da Unidade. O relato é um indício de que a versão apresentada pela PM, de que havia um tiroteio na favela, pode ter sido forjada pelo comando da UPP em conluio com o monopólio dos meios de comunicação.
Na noite da ultima quinta-feira, dia 4 de abril, a equipe de reportagem da AND, juntamente com a Agência de Noticias das Favelas, foi ao Jacaré, na zona norte do Rio, apurar a denúncia de que um jovem teria sido assassinado por policiais da Unidade de Policia Pacificadora. Segundo testemunhas, Alielson Nogueira, de 21 anos, estaria comendo um cachorro quente, no momento em que foi baleado na nuca. Moradores disseram que, no local, acontecia um protesto contra a prisão arbitraria de um trabalhador. Durante a manifestação, um policial identificado por moradores como “Andre”, teria atirado contra a massa e acertando Alielson.
Quando chegou à favela do Jacaré, nossa equipe se deparou com um cenário de rebelião popular. Centenas de moradores tomaram as ruas da favela e, corajosamente, enfrentaram as tropas de repressão do Estado reacionário. O objetivo dos manifestantes era proteger o corpo do Alielson, para que PMs não modificassem a cena do crime. O confronto só teve fim no momento em que policiais civís chegaram para periciar o local do assassinato. Durante a madrugada, o monopólio dos meios de comunicação noticiava que o jovem trabalhador teria sido baleado em um suposto confronto entre traficantes e policiais, versão negada pela população.
Na tarde de terça-feira, dia 17 de março, a equipe de AND foi à favela de Manguinhos, na zona norte do Rio, para apurar a denúncia de que um jovem teria morrido eletrocutado após receber um tiro de pistola taser disparado por um policial da Unidade de Polícia Pacificadora. Desde janeiro desse ano, o complexo de Manguinhos está ocupado por uma UPP. Testemunhas dos últimos momentos de vida do jovem Mateus Oliveira Casé, de 17 anos, conversaram com nossa reportagem e acusaram policiais pela morte doadolescente. Ele teria recebido o disparo e tido uma parada cardíaca.
— O carro de polícia parou e disparou o choque nele. Ele caiu de cabeça e os policiais deixaram ele ali mesmo. Os PMs disseram que ele morreu na UPA [Unidade de Pronto Atendimento] mas quando nós levamos ele para o hospital, ele já chegou lá morto. Você acha certo UPP fazer isso? — pergunta uma testemunha ocular do crime.
Familiares da vítima disseram que a avó de Matheus não tinha condições de falar. A tia-avó do jovem chorava sentada em um beco. Outra tia de Matheus, disse que a família irá lutar por justiça.
— Eu estava no trabalho, quando a minha filha me ligou me dizendo que ele tinha sido morto pela polícia. E foram eles mesmos que mataram. Não faltam provas disso. Mas como a gente é da favela e, como os policiais mesmo disseram bem alto para todo mundo ouvir, nós não prestamos, somos vagabundas que não temos nem porque sair de casa. Minha mãe não está aqui porque ela não está em condições de falar mais sobre esse assunto. Mas isso não vai ficar assim. Nós vamos lutar por justiça. Meu sobrinho não vai ser só mais uma estatística — diz a tia de Matheus.
Quando chegou à favela, nossa equipe se deparou com um cenário de rebelião. De um lado moradores revoltados pelo assassinato de Matheus. De outro, policiais da UPP, atirando bombas contra a população.
Segundo relatos, no dia anterior, moradores também se levantaram contra a rotina de terror imposta por policiais da UPP, como mostrou a reportagem da TV Record, exibida enquanto nossa equipe estava em Manguinhos. Naquele dia, moradores disseram que a violência policial fez muitas vítimas, entre elas uma criança de quatro meses. Indignada a mãe disse que sua filha quase morreu sufocada pelo spray de pimenta.
— Ela estava na cama dela quando os policiais entraram na minha casa e jogaram spray de pimenta. Eles estão achando que isso aqui é casa de bandido, mas isso é casa de trabalhador. Meu marido está no trabalho. Se não fosse a vizinha correr e acudir a criança, ela poderia estar morta agora — protesta a moradora.
Um jovem que aparece sendo espancado por PMs nas imagens da TV Record, ainda foi preso. Depois de solto, o rapaz estava indignado e conversou com nossa reportagem.
— A gente vive desde menor aqui e eles acabaram de chegar e acham que podem esculachar a gente. Meu sentimento? Prefiro nem falar. Deixa para lá — diz o rapaz, muito revoltado com a violência que sofreu.
Outra moradora conta que seu salão foi invadido por PMs que atiraram spray de pimenta contra ela e seus clientes.
— Eu estava com a minha funcionária na porta vendo a manifestação que os moradores estavam fazendo. Meu afilhado de três anos também estava aqui dentro. Um dos policiais entrou aqui e atirou spray de pimenta na minha cara. Quase fiquei cega. Meu rosto inteiro ardia. Eu preciso da minha vista para trabalhar. Se eu ficar cega, a polícia vai comprar comida para os meus filhos? Eu não quero mais polícia fazendo arruaça dentro do meu estabelecimento. Bandido não fazia isso, polícia vai fazer? Eles não estão trabalhando? Eu também estou. Eles querem respeito, mas não respeitam ninguém. Para ter respeito, tem que respeitar — reclama a comerciante.
Moradores ainda acusaram PMs de interromperem festas violentamente e usarem drogas indiscretamente dentro da favela.
— Estava tendo uma festa de criança ali,quando o pai colocou um funk, que não falava palavrão, nome de bandido, nada disso. Os policiais vieram e jogaram uma bomba em cima do bolo. Acabaram com a festa por causa de uma música — conta.
— Outro dia eu senti um cheiro de maconha e, quando olhei para dentro do beco, vi quatro policiais fumando — diz.
— E quando eles ficam cheirando [cocaína] de madrugada perto do sindicato? — completa outra moradora.
Irmão de um jovem baleado por policiais e preso arbitrariamente, Wanderley conversou com nossa reportagem e disse que ele e seu pai estão sendo ameaçados por policiais. Ambos estão empenhados na libertação imediata do jovem Fernando e, cada vez mais, destacam-se na denúncia das arbitrariedades cometidas pela PM na favela.
— Eles já me ameaçaram. Falaram que se me pegarem de madrugada na rua, vão me matar. Falaram que se pegarem meu pai, também vão matar ele. Isso é porque eles sabem que o que nós estamos fazendo pode prejudicar eles — denuncia.
— O Sérgio Cabral falou que ia colocar uma polícia preparada que servisse e protegesse. Mas eles não estão protegendo, eles estão oprimindo. Eu vou fazer uma camisa e escrever em letras vermelhas: “Pacificação ou opressão?”. Porque eles só estão oprimindo. Eles balearam o meu irmão e usaram o argumento de que ele tinha passagem pela polícia para manter ele preso, ferido ainda por cima. Ele nem sabe de onde veio o tiro que o acertou e ainda foi colocado na cadeia. E se tivesse acertado uma criança? Qual o argumento que eles iriam usar? — pergunta o jovem Wanderley.
Na madrugada de ontem, dia 22 de março, a tropa de choque da polícia militar cercou o prédio da Aldeia Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro. O objetivo do gerenciamento Sérgio Cabral era desocupar o antigo Museu do Índio, onde viviam cerca de 50 indigenas de 20 etinias diferentes. A ação é parte do cronograma de obras de restauração do estádio Maracanã para a Copa e as Olimpíadas.
Desde a chegada da polícia o clima foi de tensão, e a todo momento flagrantes de abusos eram registrados pelas câmeras de AND. Confira agora as cenas da violência desproporcional utilizada pela PM contra os índios, seus apoiadores e centenas de manifestantes que protestavam do lado de fora da Aldeia. Bombas de gás, spray de pimenta, tiros de bala de borracha, agressões e prisões arbitrárias foram os ingredientes que marcaram mais uma ação criminosa do Estado contra os povos indígenas.
O Complexo do Borel, é um conjunto de favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro, aos pés da maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca. Desde outubro de 2010, a favela está ocupada por uma Unidade de Polícia Pacificadora. Depois da instalação da UPP, moradores da favela Indiana, às margens da Rua São Miguel, receberam a notícia de que teriam que deixar as suas casas, pois segundo a prefeitura, aquela seria uma área de risco. Um grupo de moradores, que vive às margens do Rio Maracanã, quer deixar o local e aceitou os apartamentos oferecidos pela prefeitura no bairro de Triagem. Contudo, o grupo segue vivendo à beira do Rio, devido a um impasse no processo de reassentamento.
Enquanto isso, alguns moradores dizem que está havendo uma generalização por parte da prefeitura e que grande parte da favela Indiana não está em área de risco. Procurada por nossa reportagem, a secretaria de habitação, através de um e-mail, afirmou que existe um acordo com os moradores para que nenhuma das partes seja prejudicada. Entretanto, segundo o presidente da associação de moradores da favela Indiana, as negociações estão longe de um consenso entre a prefeitura, os que querem sair e os que não querem deixar o local.
Chicão, como é conhecido o presidente da associação, levou nossa equipe de reportagem a um estacionamento de quase 10 mil metros quadrado são lado da favela. Em seguida, o líder comunitário nos mostrou um projeto feito pelos moradores de um conjunto habitacional que poderia ser construído no local. Entretanto, segundo Chicão, a prefeitura rejeitou o projeto. Com ares de preocupação, o presidente diz que chegou ao Complexo do Borel ainda criança eque não gostaria de deixar a favela.
Outra moradora da Indiana, Ana Cristina é vendedora autônoma e tem a maioria de suas clientes no Complexo do Borel. Ela diz que os moradores que não querem sair têm sofrido intimidações da prefeitura. Ela conta também que, no mesmo local onde mora, a prefeitura construiu uma escola, conhecida como Brizolão, e uma creche. Tudo sobre o mesmo local, hoje, chamado de área de risco pelo gerenciamento Eduardo Paes. O barraqueiro de praia Chicão diz que abrir mão de viver na Indiana é abrir mão de toda uma história. (*) Fonte A Nova Democracia.
O Complexo do Borel, é um conjunto de favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro, aos pés da maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca. Desde outubro de 2010, a favela está ocupada por uma Unidade de Polícia Pacificadora. Depois da instalação da UPP, moradores da favela Indiana, às margens da Rua São Miguel, receberam a notícia de que teriam que deixar as suas casas, pois segundo a prefeitura, aquela seria uma área de risco. Um grupo de moradores, que vive às margens do Rio Maracanã, quer deixar o local e aceitou os apartamentos oferecidos pela prefeitura no bairro de Triagem. Contudo, o grupo segue vivendo à beira do Rio, devido a um impasse no processo de reassentamento.
Enquanto isso, alguns moradores dizem que está havendo uma generalização por parte da prefeitura e que grande parte da favela Indiana não está em área de risco. Procurada por nossa reportagem, a secretaria de habitação, através de um e-mail, afirmou que existe um acordo com os moradores para que nehuma das partes seja prejudicada. Entretanto, segundo o presidente da associação de moradores da favela Indiana, as negociações estão longe de um consenso entre a prefeitura, os que querem sair e os que não querem deixar o local.
Favela Indiana na mira dos tratores do gerenciamento Eduardo Paes
Chicão, como é conhecido o presidente da associação, levou nossa equipe de reportagem a um estacionamento de quase 10 mil metros quadrados ao lado da favela. Em seguida, o líder comunitário nos mostrou um projeto feito pelos moradores de um conjunto habitacional que poderia ser construído no local. Entretanto, segundo Chicão, a prefeitura rejeitou o projeto. Com ares de preocupação, o presidente diz que chegou ao Complexo do Borel ainda criança e que não gostaria de deixar a favela.
Outra moradora da Indiana, Ana Cristina é vendedora autônoma e tem a maioria de suas clientes no Complexo do Borel. Ela diz que os moradores que não querem sair têm sofrido intimidações da prefeitura. Ela conta também que, no mesmo local onde mora, a prefeitura construiu uma escola, conhecida como Brizolão, e uma creche. Tudo sobre o mesmo local, hoje, chamado de área de risco pelo gerenciamento Eduardo Paes. O barraqueiro de praia Chicão diz que abrir mão de viver na Indiana é abrir mão de toda uma história.
A favela de Manguinhos fica no coração da zona norte do Rio de Janeiro e foi militarizada no final de 2012. Meses depois, moradores denunciam que a paz está longe de ser uma realidade na favela. Segundo relatos registrados pela equipe de reportagem de AND, policiais da UPP estariam atacando moradores com armas não-letais e, em algumas ocasiões, estariam usando munição real contra a população. Em uma dessas ocasiões, o jovem Fernando Wanderley da Silva Reis, de 22 anos, teria sido baleado nos dois pés e, ainda, preso por desacato, lesão corporal e dano ao patrimônio público. Nossa reportagem foi à Manguinhos e conversou com o pai de Fernando, o operário da construção civil, Clésio Reis, de 52 anos.
O pai de Fernando contestou as acusações e disse que ele e sua esposa tiveram que peregrinar por delegacias e hospitais em busca do filho. No hospital Salgado Filho, a surpresa: Fernando estava internado sob custódia e não podia receber visitas.
Além das prisões e agressões, um grupo de moradores está revoltado com a possível remoção de cerca de 150 moradias às margens da avenida Leopoldo Bulhões. Muitos deles, como o Sr. José Geraldo, de 54 anos, vivem na favela de Manguinhos há mais de 30 anos. O operário Clésio Reis se queixou da rotina de opressão imposta aos moradores de Manguinhos e disse que os pobres não têm voz diante dessa triste realidade.
Procurado por nossa reportagem, o comando da UPP de Manguinhos não quis responder as acusações. (*) Fonte: A Nova Democracia.