Da série “Coisas que só acontecem no Brasil”.
Apesar dos salgados preços das passagens de ônibus que os cariocas pagam em seu dia-a-dia – atualmente, as tarifas estão em R$ 2,75, mas já há um aumento previsto para os próximos meses, quando seu valor deverá chegar a R$ 3,05, o mais alto do país (!) –, o serviço de transporte público rodoviário no Rio de Janeiro segue de péssima qualidade.
Além de barulhentos e poluidores, com carcaças que mais parecem velhas peças de sucata, os ônibus que circulam pelo Rio são conduzidos por motoristas imprudentes e sem educação no trânsito, e que costumam agir como se estivessem dirigindo veículos de passeio particulares, fazendo pouco do fato de que têm em suas mãos as vidas de dezenas de pessoas.
Some-se a isso a desesperadora constatação de que a grande maioria dos coletivos, não obstante as temperaturas subsaarianas características do Rio de Janeiro, é desprovida de ar-condicionado, intensificando a sensação de desconforto dos passageiros, que já sofrem o bastante com o caótico trânsito da cidade.
Ate aí, porém, não há nada de tão original assim em termos de problemas associados ao transporte de massa, visto que outras cidades latino americanas provavelmente padecem de problemas semelhantes, com exceção, talvez, do desproporcional valor das passagens (os brasileiros, em geral, pagam mais caro por quase tudo).
No entanto, nos últimos anos, algumas linhas de ônibus vêm adotando um sistema que expressa o descaso – ou a cara de pau mesmo – dessas empresas para com os cidadãos. Trata-se do chamado Motorista Júnior (MJ), que, apesar do simpático nome, não beneficia ninguém a não ser os proprietários dessas companhias.
O MJ é a categoria que exerce a dupla função de dirigir o veículo e cobrar as passagens, dispensando a presença do trocador. Assim, o sistema obriga os já estressados e mal preparados profissionais a acumular mais uma tarefa, atrasa a vida dos passageiros e ainda oferece risco maior à sua integridade, já que, na prática, o MJ não espera todos os passageiros concluírem o pagamento e passar pela roleta para começar a andar.
E aí vem o mote para esta crítica, motivada por uma dentre as tantas coisas inacreditáveis que ocorrem neste país: apesar da extinção de um cargo profissional – o que, vale destacar, ainda diminui a oferta de empregos -, o preço das tarifas dos micro-ônibus ou “micrões”, nos quais o formato foi implantado, não apresenta diferença alguma em relação à frota com os sistemas convencionais (motorista + trocador); na realidade, não custa um centavo a menos.
Como acontece quase sempre no Brasil, ganham os empresários, cujas receitas estão em constante ascensão; os políticos, que, ao manter a máfia dos ônibus cariocas “livre, leve e solta” por meio de pseudolicitações, garantem mais recursos para suas campanhas eleitorais; e perdem os cidadãos, que são obrigados a pagar mais por um serviço cuja qualidade, já combalida, parece ser alvo de um permanente esforço em prol de sua regressão.
Realmente, o Brasil é hors concours.