Assassinato na favela do Jacarezinho, no Rio

Por Léo Lima

Assassinato na favela do Jacarezinho

Na noite de 4 de abril de 2013, por volta de 21h na localidade conhecida como Beira do Rio, na favela do Jacarezinho, policiais fortemente armados não conseguiam conter uma confusão com moradores do Pontilhão e perderam o controle da situação que resultou na morte de Aliélson Nogueira, 21 anos, atingido por um tiro na nuca, enquanto comia um cachorro quente.

Após truculenta ação de policiais que revistavam possíveis suspeitos com o tráfico de drogas na favela, moradores se rebelaram contra os policiais — como de costume em favelas ocupadas pelas forças policiais. Bombas de gás lacrimogênio, spray de pimenta, tiros de bala de borracha e de fuzil foram utilizados contra os moradores, que revidaram jogando tijolos, pedras e paus.

Do outro lado da rua, pessoas que nada tinham a ver com a confusão tomavam cerveja, crianças brincavam e jovens ouviam música na porta de casa — como de costume em qualquer lugar. Entre as pessoas que se divertiam estava o jovem Aliélson Nogueira, de 21 anos, conhecido como Lourão, que era trabalhador de uma oficina de reciclagem dentro da própria favela.

Foto: Léo Lima

Segundo um morador que não quis se identificar e que estava ao lado de Aliélson na hora da confusão, os dois estavam bebendo cerveja em um bar em que Aliélson havia comprado um cachorro-quente, ao ouvir os tiros, os moradores correram para se esconder dos disparos.

Nesse momento, um policial o executou de maneira fria e calculada. O jovem morreu com um tiro pelas costas, acertado na nuca.

Os moradores afirmam ter visto toda a crueldade do policial e contaram que o mesmo costuma circular pela favela sem farda e sem nenhuma identificação, portando um fuzil, impondo o terror nas madrugadas, com palavras agressivas e fascistas.

O suposto policial, de nome André, é um ex-morador da favela expulso por traficantes na época e estaria no local pra fazer vingança.

Denúncias foram feitas para a Corregedoria de Polícia do RJ, Ministério Público, Comissão de Direitos Humanos e veículos de comunicação corporativos e independentes — no entanto, nada foi resolvido.

Foto: Léo Lima

Seis meses depois da entrada da policia “pacificadora” na favela do Jacarezinho, pouca coisa mudou.

A ocupação se deu no mês de outubro de 2012. Com ela, vieram as antenas de TV Claro e Sky, diversos policiais despreparados, assim como a troca de caçambas de lixo insalubres por caçambas muito pequenas que não dão vazão aos moradores. A troca da iluminação foi feita somente nas entradas da favela.

A associação dos moradores trabalha para que os serviços fundamentais como água, luz, saúde, educação e coleta de lixo cheguem à favela de fato, e que sejam serviços de qualidade e não de assistencialismo.

Foto: Léo Lima

Os ativistas e movimentos sociais atuam na busca pela valorização da cultura local, no debate sobre segurança pública, no reconhecimento de espaços ociosos para possíveis equipamentos socioculturais a serem realizados, assim como na busca por um debate amplo sobre as UPPs na favela, sobre os usuários de drogas do local, o passado, presente e o futuro dessa ação policial e não social.

A indignação é geral na favela do Jacarezinho, porém nós moradores não podemos nos calar diante das arbitrariedades do Estado que nos encurrala e nos oprime. Precisamos ser inteligentes, propor as prioridades e assumir a favela como agentes produtores da mudança, é preciso se reunir e criar.

Foto: Léo Lima

Se conseguirmos nos organizar, conseguiremos governar no mínimo a favela onde vivemos, sem que tiremos a responsabilidade do Estado, claro.

Estamos de luto! Chega de mortes e arbitrariedades por parte dos policiais.

Os bandidos e corruptos precisam ser expulsos da corporação, deverão ser julgados e o caso de Aliélson não poderá ficar impune.

Texto e fotos: Léo Lima. Vídeo: A Nova Democracia. Revisado por: Ana Paula Lisboa.

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