Por que o Jornalismo Propositivo?
“Temos o compromisso com a busca incessante da verdade e com a imparcialidade jornalística”. Poderia ser esta a definição do que se trata o jornalismo aqui proposto, não fosse o singelo fato de que se trata de uma retórica desonesta e descomprometida. É correto afirmar que a perseguição incessante da melhor versão da realidade é regra incontestável da profissão.—.e reside neste aspecto a esquizofrenia da idéia de “imparcialidade”. Entende-se por imparcialidade o não posicionamento dentro da matéria a ser pesquisada.—.o “distanciamento” do mediador.—.e a devida atenção a todos os lados da questão. Ninguém pergunta em que pé estão esses lados. Não pesam na balança. Apenas colocam lá, como se não existisse a menor diferença entre um e outro. Dizem: "Vamos, de forma imparcial e democrática, ouvir o megaempresário e o mendigo. Vamos colocá-los juntos e ouvi-los". O mendigo evidentemente não consegue se posicionar, não consegue passar sua idéia. Ele está desorganizado, não conhece os outros mendigos. Está desesperado. Se o pessoal da produção oferecer um pão, a crítica dele já será outra, mais mansa. Com o trabalhador comum, que labuta 60 horas por semana, ocorre o mesmo. Depois, “democraticamente”, fala o megaempresário. Possui três empresas, provavelmente herdadas do pai, do tio, do avô. Está confortável em sua posição, viaja duas vezes ao ano para a Europa, participa de um seminário por mês, onde encontrará todos os seus amigos megaempresários. Naturalmente ele estará mais à vontade para colocar suas posições. Depois vem a autoridade, com toda a máquina pública na mão. Dinheiro, publicidade, advogados. Nada falta para a autoridade. E lá estão os jornalistas, que não só a deixam em pé de igualdade com os outros “lados” como dão uma forcinha extra.—.a autoridade, como se sabe, dá quase sempre a palavra final. Assim como os megaempresários, a autoridade possui todo o aparato político, administrativo, financeiro, judiciário. E lá estão os jornalistas, colocando em pé de igualdade o elefante, o rinoceronte e o pinto recém-nascido. Esse tipo de jornalismo é ótimo na Noruega ou na Finlândia. O Jornalismo Propositivo.—.palavra que, por sinal, nem ao menos existe no meu dicionário.—.não é nada mais do que um jornalismo que se posiciona onde deve se posicionar, de forma a equilibrar as relações profundamente desiguais de um dos países mais injustos do mundo. É arriscado? Claro. Os erros de quem está exposto sempre vêm em maior volume. E saber lidar com os erros é viver numa intensidade muito maior do que a mediocridade geral que insiste em ‘morrer’ antes do chamado do Bom Senhor. Este jornalismo não aceita a formalidade da referida “técnica jornalística”, resgatando a humanidade da profissão. De conhecimento de boa parte dos desafios e problemas do Brasil e do mundo, este jornalismo não se cansa de investigar e tem a coragem de se levantar e comprovar jornalisticamente que existem propostas alternativas ao desgoverno geral atualmente verificado. Por fim, o Jornalismo Propositivo
compartilha do provérbio chinês que ensina: “Você possui
uma boca e dois ouvidos. Use-os nesta proporção”. Mãos
à obra.
Texto de Gustavo Barreto,
em 14-8-2004. Visite: www.consciencia.net/barreto.html
Gustavo Barreto é editor da revista Consciência.Net (www.consciencia.net), colaborador do Núcleo Piratininga de Comunicação (www.piratininga.org.br), estudante de Comunicação Social da UFRJ e bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Inciação Científica (PIBIC) pela ECO/UFRJ |