| Crises ou Processo?
Renato Kress, novembro de 2004
Collor
na VEJA: mais um fantoche
Quando se reconhece que existe um determinado padrão de atuação
nas decisões governamentais que revestem a nossa história
política recente
— principalmente em se tratando
da (des)política econômica que vem se arrastando desde o (des)governo
Collor — é
hora de atentar não para os períodos de ‘crises’ que são
alardeados pela grande mídia (principalmente a Global fetichizada,
videofinanceira e cooptada por intere$$es externos), mas sim para um processo
que vem se desenrolando ao longo de um período que começa
com o primeiro Fernando, o LLoco.
O governo Lula têm sido não apenas, como alardeiam alguns profetas do Apocalipse político brasileiro, o governo marcado pela continuidade do programa de integração do Brasil ao novo (e eternamente novo, pois novas formas de exploração dos mais fracos pelos mais fortes sempre poderão ser criadas, descobertas ou re-descobertas) sistema mundial do capitalismo, sistema que é autofágico (autodestrutivo) por natureza, mas muito mais importante do que isso, há uma outra faceta que não me parece estar sendo devidamente observada: Para a opinião pública o que vem sendo sinalizado, nesses últimos dois anos em que Palloci e Dirceu governam e Lula posa de Rainha Mãe soltando gafes a torto e a direito, ‘rebaixando’ — como perfeitamente colocado por Frederico Füllgraf na Caros Amigos de outubro desse ano — ‘o ministério a time de várzea e nomeando um ‘capitão’ (“não tenho tempo de ficar me reunindo com cada ministro”)’, é que a eleição de um representante de esquerda está se provando pior do que a eleição de um representante da direita, FHC, com seus tucanos a tira-colo e lambendo as botas do ACM e da cambada do PFL. Pode-se considerar que
Lula esteja sendo pior do que FHC assim como este foi pior do que Itamar
que por sua vez nada mais fez do que continuar a pasmaceira que havia sido
implementada por Collor, como mostra o texto acima. Não é
a figura, pessoal, de cada um dos ‘ex’ ou do atual presidente que é
“pior” do que outra, na verdade eles são apenas fantoches, imagens
que precisam ocupar um cargo, até que um determinado processo pelo
qual o Brasil está passando esteja de acordo com os desígnios
do grande capital (coisa que nunca vai acontecer).
Governo
Lula faz parte um processo danoso
para o Brasil. Terá coragem de mudá-lo?
Lula e seu (des)governo estão abrindo caminho para a eleição
de algum monstro, alguma cria de oligarquia ou parente do Reichstuhl. Se
para ministros da fazenda e economia podemos, sem a menor cerimônia,
colocar crias do FMI, de George Soros ou do Banco Mundial, não vejo
porquê, na insânia política kamikaze dos trópicos,
não podemos daqui a dois anos eleger um Armínio Fraga, um
Pedro Malan ou monstro que o valha para a presidência. Já
colocamos um ex-ministro da economia na presidência uma vez, vimos
no que deu e, tanto não aprendemos que, apesar de todos os seus
crimes, ele permanece solto e goza de algum prestígio.
Dessa forma, a menos que uma grande reviravolta — que exige colhões que até agora não vi no mundo político brasileiro — tenha início, daqui a onze anos algum estudante de sociologia vai ler este meu texto, cortar alguns nomes, como eu fiz com o texto acima, e reeditar num jornal ou revista eletrônica, se até lá não arranjarem formas de nos barrarem por aqui pelo virtual também. Mostrando que não é
o tempo que se repete, Deleuze, lendo Nietzsche,
já nos mostrou que só existe o ‘eterno retorno da diferença’,
mas por isso mesmo é necessário abrir os olhos para o fato
de estarmos diante de um processo, um processo de sucateamento do capital
estatal, de crescimento do desemprego estrutural, de desestabilização
e ‘abertura’ da economia
— que começou com o papo
furado do aventureiro de Alagoas sobre uma tal ‘flexibilização’,
lembram do termo da moda na época?
— e que o governo Lula não
teve e, pelo visto não terá os colhões necessários
para bater de frente.
* As aspas
são minhas.
Renato César da Costa Kress é brasileiro, poeta, escritor e nasceu no Rio de Janeiro no ano 82. Concluiu seus estudos secundários no Colégio Cruzeiro - Deutsche Schule. Lançou em 2000, aos 18 anos, o livro Consciência, sobre impactos do neoliberalismo nos países de terceiro mundo, livro este que começara a escrever dois anos antes. É co-fundador e co-editor da revista eletrônica www.consciencia.net, e membro do I-Latina.org (www.i-latina.org). Atualmente cursa a faculdade de Ciências Sociais na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
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