Aos Defensores da Pátria

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É notório que os manifestantes do último ato pró-governo, ocorrido em 26 de maio, timidamente deixaram o nome de Bolsonaro de lado.
Apesar de muitos já se desviarem da associação direta ao presidente, manteve-se viva sua agenda anti-Estado, cujas raízes têm base em um trabalho antiquíssimo, elaborado pelos liberais brasileiros e seus representantes.
Se parássemos por aqui, diríamos que tudo vai numa única direção, já que o governo é pautado pelo liberalismo e aos poucos vai rifando todas as riquezas nacionais e enquadrando as instituições. Mas o fato é que, para a manutenção desse perfil de governo no poder, submisso, entreguista e sem projeto, o caos é estratégico e fundamental.
A infinidade de pautas, a criminalização do Estado e seus representantes serviram como senha para as jornadas de junho de 2013. O caos ali produzido desnorteou as forças do Estado, já que não havia uma reivindicação organizada e precisa a ser atendida, tornando-se terreno fértil para o plantio da ideia de ser “contra tudo que está aí”.
Atualmente, o modelo caótico também pode servir como amparo para o governo, que além de apontar o sistema político como entrave para o suposto progresso, tem atitudes imprevisíveis que dificultam ataques da oposição.
O exaltadíssimo lema “Brasil acima de tudo” pode ser interpretado como uma fantasia lisérgica, já que o que se viu até aqui é um país ajoelhado para os interesses norte-americanos e do grande capital. Mas o lema é um trunfo, capaz de abastecer a falsa ideia patriótica, que serve como ataque à racionalidade e, estando acima de qualquer líder, torna possível a manutenção do projeto, mesmo com a queda de Jair Bolsonaro.
Após alimentar sentimentos de amor à pátria, se torna imprescindível apontar um, ou alguns, inimigos em comum. Alimentando a ideia fantasmagórica de um algoz, mantem-se a militância em posição de expectativa, sem desviar sua atenção: uma dominação psicológica, que pode ser estimulada pelo comportamento de classe, pelo fanatismo religioso.
Para exemplificar, no campo macro justifica-se todo o naufrágio de um país devido à existência de um antagonista, que ora pode ser o PT, Lula e o comunismo, ora pode ser o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
No campo micro, como parte da estratégia, estimulam-se ataques entre os que pensam de forma contrária, estabelecendo o princípio do ódio à frente de qualquer razão: condição fundamental para manter a sociedade dispersa, longe de um caminho sensato, ou de um debate construtivo, que realmente interesse ao Brasil e ao seu povo.
Construir e acentuar distâncias ideológicas vem servindo como forma de esvaziamento da sensibilidade e distanciamento do óbvio.
Quem não se recorda do aumento do preço da gasolina, tempos atrás, alardeado pelos panelaços? Hoje, os reajustes passam despercebidos pela massa. A educação, um dos temas centrais de 2013, histórica e universalmente considerada como peça fundamental de desenvolvimento de um país, tornou-se vilã da narrativa de um suposto Brasil grande e moral.
Aos poucos, essas e tantas outras pautas passam a ser desprezadas por parte da população, visto que o governo acoplou o viés comunista em qualquer crítica ou crítico.
Incapaz e descompromissado com a solução, o governo insinua que só haverá melhora caso os inimigos apontados forem destruídos. E isso funciona como combustível ao ódio, capaz de desviar o foco social da incapacidade e perversão do governo.
Diante da visível limitação do presidente, quem seria o estrategista capaz de perceber que era hora de reagrupar a militância, mesmo com um governo em frangalhos? Quem continua a elaborar vídeos e propagandas em massa pelo whatsapp, capazes de manter tamanha sandice viva e ativa?
A reposta precede de outra pergunta: que tipo de força se interessa por tamanha instabilidade?
A guerra híbrida iniciada pelos norte-americanos mantem-se viva. A instabilidade política e social, gerada por uma manipulação psicológica e ideológica, imobilizam as possibilidades de reunir o povo em torno de uma agenda desenvolvimentista, equilibrada e pró-Brasil. Enquanto o governo instaura a balbúrdia nacional e a população desnorteada pela quantidade de verdade e informação que, sem filtro, precisa dar vazão na cultura do ódio, o grande capital estabelece suas tabelas e territórios.
O aspecto intangível dos mecanismos de dominação faz parte de uma estratégia que mantém o Brasil sob controle, sendo o atual governo um mero fantoche que atua por procuração aos interesses norte-americanos.
Patriotismo real, sem maniqueísmos, e sabedoria, em especial da própria história, serão peças fundamentais para virar esse xadrez, onde o povo, como os peões, engalfinha-se, em defesa de torres, cavalos, reis e rainhas que o despreza.
A assimilação do oprimido pelo discurso do algoz deveria ser a pauta do dia de todos os nossos questionamentos.
Que a lucidez nos ilumine.
Foto: ebc.com.br

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