Por Eduardo Sá. Fotos: Byron Prujansky
Porto Alegre (RS) – Representantes do governo e partidos políticos analisaram na tarde da última quarta-feira (20/01) a atual conjuntura nacional em busca de consensos e iniciativas de unidade popular. “Democracia e desenvolvimento em tempos de golpismo e crise” foi o tema, na mesa realizada em Porto Alegre (RS), durante o Fórum Social Mundial. A maioria dos membros compõe a Frente Brasil Popular, que visa propor alternativas à crise política e econômica no país.
De acordo com Walter Sorrentido, vice presidente do PCdoB, a crise política gerada pela operação Lava Jato atenta contra vários direitos fundamentais da justiça, e estão ocorrendo vazamentos seletivos e pré julgamentos públicos. Tem como objetivo atingir o governo, a esquerda e suas maiores lideranças, complementou.
“Queremos atualizar as estratégias e construções táticas de um projeto nacional de desenvolvimento soberano e popular. O PCdob fez uma comissão contra o impeachment em defesa da democracia. Foi contida graças à ampla mobilização, ganhamos um tempo político, mas essa batalha será dura e prolongada contra as forças políticas e midiáticas que estão nessa lava jato que promove a judicialização da política”, afirmou.
Outra questão apontada por ele foi a necessidade de lutar pelo crescimento econômico de modo a fortalecer a democracia, repactuar com empresários e trabalhadores uma agenda de medidas indispensáveis. “É preciso uma transição com novo programa e formulação estratégica. Enfrentar a insanidade da escalada dos juros, que danifica ainda mais a capacidade fiscal do estado crescendo a dívida pública. Construir uma agenda convergente para criar uma nova etapa do projeto de desenvolvimento. Não retroceder com medidas anti nacionais e não populares. É pela luta política e disputa de ideias que se pode retomar o crescimento econômico”, afirmou.
Ao analisar que as lutas populares não se resumem em manter ou não a presidenta Dilma, o representante da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), Gilberto Leal, afirmou que é pouco pensar que diversas organizações da Frente Brasil Popular saem às ruas para defender um partido ou alguém que está no governo. “Saímos às ruas, pois estamos defendendo a cidadania, os direitos do povo, do trabalhador”. Segundo ele, democracia se garante com luta e enfrentamento. “Precisamos avaliar novos paradigmas e utopias, e resgatar outros abandonados. Continuar nesse compromisso inarredável contra o extermínio da juventude negra. Fazer uma reengenharia política das relações sociais, estamos defendendo a cidadania e os direitos do povo. É imperativo interromper o modelo de desenvolvimento que aumenta a passos largos o lucro dos ricos brasileiros”, disse.
O Brasil vive hoje um momento de cerco e tentativa de aniquilamento das forças populares e de esquerda, avaliou Roberto Amaral, ex-presidente do PSB. Ele enxerga ameaças maiores que as do golpe de 1964, e alerta: “a direita tem um projeto pronto fascista que se articula na sociedade brasileira com um cerco impiedoso, férreo, permanente, do monopólio frio dos meios de comunicação de massa no Brasil”.
Amaral defende que o impeachment é a menor das ameaças, pois o que se procura atingir é o que a presidente Dilma simboliza, a destruição do Partido dos Trabalhadores (PT) e todos os partidos progressistas de esquerda. “Tentarão aniquilar o presidente Lula que é a maior liderança popular desse país. Por que tanto ódio contra essas instituições, se não ameaçamos em nenhum momento o capitalismo ou a hegemonia do poder? Não fizemos reforma agrária, política, fiscal, tributária, nem a democratização da mídia. A razão é simples, a direita latino-americana aceita quase tudo, a cooptação, até o desenvolvimento e certas formas de democracia conquanto essas conquistas não venham acompanhadas com a emergência das classes populares ou a soberania”, concluiu.
“Para superar uma crise é preciso entendê-la em profundidade, o Brasil está sofrendo uma que parece estar só no início. Uma das razões é a incapacidade da nação reconhecer a forte intervenção estrangeira na política e economia, e na capacidade de se proteger contra isso. Falta capacidade de visão e crença que promova um objetivo comum. O papel natural do Brasil incomoda as potências que não querem dividir uma migalha do seu poder, mesmo que ele não esteja sendo exercido de forma construtiva para humanidade. Por isso, queremos nos instabilizar e precisamos de um projeto comum e ideologia nacional. Readiquirir o orgulho e auto estima, um estado de bem social aberto, multicultural, tolerante e generoso”, afirmou.
O presidente do PT, Rui Falcão, lembrou o pedido de cassação do registro do PT, realizado na última quarta-feira (20) pelo PSDB. Para ele, aqueles que não ganharam a eleição tentam virar o jogo e estamos vendo surgir aos nossos olhos o embrião do estado de exceção dentro do estado de direito. “Os mesmos que criticam corrupção são sonegadores costumazes. Por vingança acataram sem fundamento o pedido de impeachment. Tentam criminalizar as contas de campanha da presidenta, querem investigar os partidos políticos e dizemos o seguinte: se alguém cometeu alguma transgressão nas contas da utilização de recurso de campanha, vai responsabilizar o partido. Nenhum combate à corrupção pode implicar qualquer risco à democracia e aos direitos”, destacou.
“Outro mundo é possível, não o do capital, de destruição da natureza, voracidade do lucro, racismo, xenofobia, mas o mundo da fraternidade, igualdade dos homens e mulheres dos povos. Uma democracia em que o povo seja senhor do seu próprio destino, participe das decisões dos governos”, finalizou.