ACNUR e Pacto Global promovem fórum sobre integração laboral de refugiados em Manaus

“Não quero depender de ninguém. Meu desejo é trabalhar para poder sustentar minha família e ver meus filhos crescerem em segurança”. Esse é o desejo de Antonio* e, certamente, de outros milhões de venezuelanos que estão sendo forçados a sair de seu país. Com a busca por um recomeço, se faz presente também a necessidade de conseguir formas seguras e dignas de trabalho e geração de renda.

Com o objetivo de alinhar desenvolvimento econômico sustentável ao crescimento da população venezuelana que vive na capital amazonense, aconteceu o primeiro Fórum Empresarial de Empregabilidade e Empreendedorismo para Refugiados e Migrantes de Manaus na manhã da última sexta-feira (26). De acordo com dados da Polícia Federal, Manaus é a terceira cidade do país que mais recebe pessoas venezuelanos no Brasil.

O público, diversificado, reuniu empresários, pessoas em situação de refúgio, representantes de ONGs, da Operação Acolhida e dos governos municipal e estadual. No total, 115 pessoas lotaram o auditório da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) em torno de um único tema: integrar refugiados e migrantes à economia local de forma segura e sustentável.

O fórum, que teve sua primeira edição em Curitiba (PR), é uma iniciativa da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e da Rede Brasil do Pacto Global que chegou em Manaus para esclarecer dúvidas sobre contratação de refugiados, bem como estabelecer novas metas e fluxos de trabalho no contexto da emergência incorporando cada vez mais o setor privado como um aliado na integração local.

“Não há riscos envolvidos na contratação dessas pessoas, e o procedimento é o mesmo para a população brasileira. Não há o que temer”, ressaltou o oficial de meios de vida do ACNUR, Paulo Sergio de Almeida, durante o painel informativo. “Para a contratação, é importante que a pessoa seja avaliada por seu talento, por suas capacidades e habilidades, não por estarem em situação de refúgio.”

“Com grande capacidade de absorção social e econômica, Manaus é um local estratégico para estabelecer boas políticas e práticas de integração laboral, pois é o primeiro grande centro urbano na rota espontânea de fluxo de venezuelanos que cruzam a fronteira em Pacaraima, passam por Boa Vista e buscam outros locais para reconstruírem suas vidas no Brasil”, complementou a chefe do escritório do ACNUR em Manaus, Catalina Sampaio.

Em sua fala, o tenente-coronel Marriton dos Santos Dias da Operação Acolhida apontou os benefícios da inclusão de pessoas diferentes para equipes multifuncionais. “É essencial considerar a diversidade cultural como um objetivo de um time”, afirmou. “Quando você inclui uma pessoa de outro país, por exemplo, você traz uma visão diferente e fomenta a inovação. Além disso, qualquer pessoa, ao ser contratada, se torna uma contribuinte, que paga impostos e impulsiona a economia local.”

Exemplos dessa integração bem-sucedida que já acontecem na cidade foram compartilhados durante o lançamento regional da Plataforma Empresas com Refugiados, apresentado pela assessora de Direitos Humanos do Pacto Global, Gabriela Almeida. “Atualmente, cerca de 25% dos casos da plataforma são de Manaus”, ressaltou. Um dos casos de sucesso da Plataforma é o do restaurante Caxiri, que atualmente conta com quatro venezuelanos, que representam 20% do seu quadro de funcionários.

“Quando comecei a procura por novos talentos, necessitava de um garçom bilíngue e um cozinheiro”, afirma a dona do restaurante, Debora Shornik. “Passei meses procurando pessoas qualificadas, sem sucesso. Foi quando encontrei o projeto Oportunizar, apoiado pelo ACNUR, que fez a mediação laboral. Recebi diversos currículos e fiz a seleção e contratação sem nenhum tipo de problema. Hoje, a garçonete venezuelana é a única que fala inglês no restaurante, além dos ótimos três cozinheiros.”

Segundo ela, o impacto positivo da chegada de pessoas de outro país vai além dos seus talentos e da garra de trabalhar que possuem. “A presença deles ascendeu uma luz dentro do meu restaurante. Ao conhecer mais sobre suas histórias de vida e as dificuldades que passaram com falta de comida, remédios e serviços, comecei a repensar tudo: qual o verdadeiro valor de tudo o que temos? Como podemos minimizar o desperdício na cozinha? Eles ensinaram a mim e ao resto da equipe como dar valor às coisas.”

Para Luis, um dos cozinheiros contratados, sua adaptação cultural ao novo ambiente de trabalho aconteceu de forma rápida. “Dentro do restaurante eu me sinto igual a eles. Não sinto a xenofobia, e a convivência é muito boa. Não é porque chegamos aqui no Brasil que nossa gastronomia morreu. Debora acolheu muito bem nossas sugestões e incluiu um pouco da Venezuela no cardápio,” conta.

O fórum também trouxe as práticas de diversos parceiros do ACNUR que trabalham diariamente em diversas frentes para recolocar pessoas refugiadas no mercado de trabalho. É o caso do Serviço Jesuítas em Manaus, que atua no centro da cidade na elaboração de currículos, oferta de cursos profissionalizantes e de português e também no referenciamento de jovens aos cursos de jovem aprendiz do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).

“Quanto mais atores estiverem envolvidos nessa rede e nesse propósito, mais resultados excelentes vamos ter. Queremos ampliar a oferta de oficinas de capacitação e alcançar mais jovens”, informou o supervisor do CIEE em Manaus, Cláudio José de Lima Pereira. “Atualmente, 37% dos jovens inseridos pelo CIEE no mercado de trabalho em Manaus são venezuelanos – nos setores indústria, comércio e serviços. Há um grande interesse das empresas de contratarem jovens com carteira assinada e por meio do estágio.”

Durante toda a manhã, pessoas venezuelanas puderam tirar suas dúvidas sobre acesso a serviços de apoio à integração laboral, bem como revalidação de diploma. Também participaram do evento a Superintendência Regional do Trabalho, Secretaria Municipal do Trabalho, Empreendedorismo e Inovação (SEMTEPI), a Caritas Arquidiocesana, o Projeto Hermanitos, a Eletrolux e o Consulado da Mulher.

(*) Nome trocado por motivos de proteção.

Fonte: Nações Unidas – Brasil

(30-07-2019)

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