A paz se faz.
A paz é interior.
A libertação é interior.
Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho ou sozinha. As pessoas se libertam em comunidade, mediadas pelo mundo. (Paulo Freire)
Muitos anos se passaram já desde o começo da minha vida.
Mesmo sem ter-me dado muita conta, envelheci.
Agora me toca compreender o que venho aprendendo a partir da minha experiência em situações de guerra.
Guerra não é apenas ameaça de morte, medo.
É também invasão, pressão excessiva, incerteza sobre tudo ou quase tudo.
Quando digo que a paz se faz, é porque tudo que é humano é feito. Nada está dado. Depende de nós.
Somar, agregar, abrir portas, construir pontes.
A paz depende mais bem disto: de saber que podemos ser quem somos.
Violência é invasão da privacidade. Agressão à individualidade, padronização, homogeneização, desconhecimento das diferenças.
Tudo isso é guerra. E temo-nos acostumado a considerar que é normal. Não é. De jeito nenhum. É a própria negação da humanidade.
Programas de TV que estimulam a depreciação das pessoas, atiçam a hostilidade diante da diferença, exacerbam a intolerância.
Isso é incitação à violência. Guerra se faz assim. Construir a outra pessoa como inimiga. Desfazer o diálogo. Desfazer a escuta,
Confundir a percepção.
A paz se faz no sentido contrário a estas tendências e comportamentos. Esclarecer, escutar, prestar atenção, ouvir, refletir, confiar, aprender com as outras pessoas.
Não é necessário optar pelo suicídio coletivo. Podemos optar pela vida. Esta é uma situação recorrente. Nós podemos, gente!
A sociologia, a educação transformadora, a inclusão social, a Terapia Comunitária Integrativa, a literatura e a poesia, são outras tantas ferramentas humanizadoras que podem e devem ser usadas para reconstruir a opção pela vida.
O mercado não é tudo, a moda não é tudo, o consumismo não é tudo.
Quando digo que a paz é possível, é porque não vejo outra possibilidade. Paz com o passado, aceitação da pessoa que somos, imersão nessa mutação constante que é a vida cotidiana.
Consciência não é algo que temos ou não temos. É uma opção que fazemos pela vida ou pela morte. O neonazismo instalado no poder no Brasil, naturalizado, pode e deve ser combatido em todas as frentes.
A frente interna, acolhendo a minha própria diversidade, a frente familiar, aceitando e confiando nas pessoas mais próximas, exercitando a solidariedade, a frente comunitária, acolhendo o sentir das pessoas, antes de meramente rejeitar ou agredir.
Doutor em sociologia (Universidade de São Paulo). Mestre em sociologia (IUPERJ-Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro). Licenciado em sociologia (Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, Argentina). Professor aposentado da UFPB. Terapeuta Comunitário Formador. Escritor. Membro do MISC-PB Movimento Integrado de Saúde Comunitária da Paraíba. Autor de “Max Weber: ciência e valores” (São Paulo: Cortez Editora, 2001. Publicado em espanhol pela Editora Homo Sapiens. Buenos Aires, 2005), Mosaico (João Pessoa: Editora da UFPB, 2003), Resurrección, (2009). Vários dos meus livros estão disponíveis on line gratuitamente: https://consciencia.net/mis-libros-on-line-meus-livros/