A Economia nada é sem um projeto de vida

O economista William Stanley Jevons, nascido em 1835, na cidade inglesa de Liverpool, certa vez afirmou que “feliz é aquela pessoa que, mesmo com poucos recursos, tem a realização no seu trabalho diário e a garantia de um futuro melhor”.
Na esteira desse comentário feito por Jevons, é possível argumentar que, de fato, mesmo sem recursos financeiros suficientes não é “impossível” atingir-se um elevado grau de felicidade; ainda que a felicidade, como bem sabemos, seja algo muito subjetivo. Disso, conclui-se então que a felicidade definitivamente não repousa na obtenção de dinheiro. Muito dinheiro ou pouco, não determina, grosso modo, se uma pessoa está (será) ou não feliz.
Visto de outra forma, o contrário da felicidade também não está vinculado, na medida econômica, à ausência de dinheiro. Não ter dinheiro não significa que, por isso, se estará (será) infeliz.
Conquanto, cabe perguntar se a economia, por ser uma ciência social – uma ciência que na visão de muitos lida o tempo todo com o “estudo do dinheiro” – têm algo a ver com o fato de se obter ou não felicidade, de ser ou de apenas estar feliz?
Entendemos que a resposta é bem simplista: felicidade envolve, essencialmente, pensar antes na obtenção de bem-estar. E bem-estar é algo que a ciência econômica estuda em seus pormenores. Em se tratando de levar bem-estar às pessoas, isso envolve, por conseqüência, visualizar a condição humana e, essa condição, por sua vez, contempla determinados aspectos inerentes ao arcabouço teórico das ciências econômicas. Simples, não! Economia (ciência) então, por esse prisma, tem tudo – e mais um pouco – a ver com a vida das pessoas, até mesmo porque se trata de uma ciência social e, dada essa especificidade, necessita ser humana à medida que é feita pelos homens e para os homens com um único fito: efetivar a dignidade das pessoas.
Toda ciência social, guardada suas diferenças entre os campos específicos onde atua, deve ser posta a serviço de ajudar no progresso de cada um de nós. Talvez seja por isso que certamente o trabalho humano mais essencial, independente da ciência que cada um estuda e pratica, é o de cuidar das pessoas e do planeta que nos acolhe. Deixar de fazer isso, ou fazer com menoscabo, é ver prosperar problemas como a fome, pobreza, desigualdades, mortes precoces vitimadas por doenças evitáveis, além da degradação ambiental.
Tais ocorrências – estejamos certos disso – podem perfeitamente ser associadas a sistemas econômicos imperfeitos. Superar, pois, essa imperfeição por caminhos onde transita a ciência econômica é perfeitamente possível. Para tanto, a Economia precisa dar mais atenção à questão do bem-estar das pessoas. Foi assim que Alfred Marshall, um dos mais eminentes economistas de todos os tempos, se posicionou quando defendeu que “a suprema finalidade da economia é elucidar a questão social”.
Tal assertiva marshalliana corrobora, sobremaneira, com a análise que aponta que o mais alto interesse dos estudos econômicos reside no fato de que as decisões econômicas tomadas tanto no nível privado quanto no público interferem sensivelmente na qualidade de vida das pessoas.
Especialmente em relação à Economia, existe certa tendência em acreditar que o campo de análise e preocupação dessa disciplina deve repousar continuadamente sobre a abordagem social, ainda que determinados segmentos da Economia insistam em ignorar a presença do ser humano nos meandros da análise econômica.
A verdade, contudo, é que pouca atenção tem sido dada pelos manuais técnicos em relação à problemática social. No entanto, tentando superar essa deficiência, muitos dos principais postulados da ciência econômica, por estarem e/ou se apresentarem constantemente em nossos afazeres diários, passam a ocupar posição de destaque e, dessa forma, se condiciona a ocupar lugar proeminente no objetivo de levar melhoria à vida humana.
Ademais, se o objetivo precípuo da Economia é proporcionar “desenvolvimento” de todos e para todos, nada mais plausível então do que fazer dessa ciência uma escada de acesso para essa realização.
Nesse pormenor, nossa análise principal aqui contextualizada parte do seguinte pressuposto: a Economia para se firmar definitivamente como uma ciência que estuda a vida dos homens necessita construir ao seu redor uma “engenharia social” que seja capaz de captar as constantes ações individuais que envolvem a vida das pessoas.
Nesse arcabouço social não pode escapar a idéia de que os sistemas econômicos devem promover, primeiramente, a felicidade e o bem-estar humanos. É por isso que entendemos que cabe também à Ciência Econômica desenvolver uma visão solidária da vida. A Economia, acreditemos nisso, nada é sem um projeto de vida.
Em certa medida, é necessário provocar essa reflexão em torno de se visualizar a atividade econômica como uma ferramenta indispensável para “estudar” a melhoria das condições de vida das pessoas.
É imprescindível então valorizar a condição da economia enquanto ciência à medida que essa se lança num projeto maior de melhoria coletiva da vida. Essa é a razão precípua de apoiarmos um novo modo de se fazer Economia. Um novo modo que contemple, primeiramente, uma “Economia Social e Humana”.  Social, no sentido de envolver o estudo sistemático das relações sociais fartamente enraizadas no seio da sociedade e, humana, à medida que prioriza o atendimento às necessidades das pessoas e faça disso um verdadeiro projeto de vida.
Enaltecer esses laços em torno das análises econômicas nos parece, a contento, uma interessante saída para fazer da Economia a “grande” ciência responsável pelo resgate integral da valorização individual num mundo repleto de injustiças, de desequilíbrios e má-querença.


(*) Marcus Eduardo de Oliveira é economista brasileiro, é especialista em Política Internacional, com mestrado pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização pela Universidad de La Habana (Cuba).
Autor dos livros “Conversando sobre Economia”, “Pensando como um Economista” e “Provocações Econômicas” (no prelo).
prof.marcuseduardo@bol.com.br

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