1º de maio de luta e resistência agita Brasília

5c2925a6a96244c994830a9322b3516cA luta contra o golpe de Estado em curso no Brasil foi a marca do Ato Unificado

Há 130 anos os trabalhadores saíram às ruas de Chicago no 1º de maio para pedir redução da jornada de trabalho e melhores condições de vida, iniciando uma grande greve geral nos Estados Unidos. A manifestação foi reprimida e terminou com mortes. A homenagem a esta luta deu origem ao Dia do Trabalhador em todo mundo.

Neste ano, no Brasil, os trabalhadores tomam os espaços públicos para impedir que a democracia e os direitos conquistados sejam solapados pelos setores de direita do país. A luta contra o golpe de Estado em curso no Brasil, que visa aos ataques a trabalhadores, foi a marca do pelo Ato Unificado Contra o Golpe, realizado neste domingo. A ação foi organizada pela CUT Brasília e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, no estacionamento da Torre de TV, em homenagem ao Dia do Trabalhador.

Diante do grave cenário de crise política, desencadeada por setores da direita – representados por parlamentares ligados aos empresários, banqueiros e à bancada BBB (da bala, do boi e da bíblia), respaldados pela mídia monopolizada e parte do Judiciário e da Polícia –, os trabalhadores do DF manifestam coragem e resistência. Com cartazes, faixas, palavras de ordem, discursos, escrachos e encenações, eles denunciaram o golpismo e golpistas e afirmaram a disposição de luta do conjunto dos movimentos sindical, populares, do campo e da cidade, de esquerda e progressistas, que reaprendeu nos últimos meses a tolerar as divergências e unificar a luta em defesa da pauta comum em defesa da democracia, dos direitos e dos avanços sociais.

“Se lá (no Congresso Nacional) eles têm golpistas, aqui nós temos resistência e luta”, discursou o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Britto. Segundo ele, aqueles que são favoráveis ao impeachment ilegítimo e sem justificativa de uma presidenta eleita pelo povo querem “atacar os direitos da classe trabalhadora através de projetos de lei que estão no Congresso Nacional, como o PLC 30 – antigo PL 4330, na Câmara –, que precariza as relações de trabalho; o PLP 257, que abre o capital das empresas estatais ao setor privado; além do ataque às conquistas da sociedade e aos direitos das minorias sociais, que sempre foram perseguidas e marginalizadas e, agora, correm o risco de perder tudo que foi conquistado”.

Para o dirigente nacional da CUT, Ismael José Cesar, “mesmo sendo consumado o golpe de Estado, a vida dos golpistas não vai ser fácil”. “Será um período de muita luta, com greves, atos, paralisações, ocupações de terra. A gente não vai deixar eles fazerem o que querem; não aceitamos nenhum passo atrás”, afirma o dirigente sindical.

Dirigentes de movimentos dos trabalhadores do campo também manifestaram temores quanto aos retrocessos avistados com a implementação do golpe. “Para nós que somos do campo, um dos principais entraves à nossa luta caso o golpe se consolide será o fim do diálogo. Tudo que foi conquistado por nós até hoje foi viabilizado pelo diálogo. Para somarmos força contra o retrocesso, chegamos a suspender o Grito da Terra, que traz pautas específicas dos nossos trabalhadores, para, junto com outros segmentos da Frente Brasil Popular, dizermos não ao golpe. Para além da luta pelos trabalhadores do campo, está a luta pela democracia”, disse a dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alessandra Lunas.

A deputada Érika Kokay (PT-DF) e a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) também marcaram presença no ato deste 1º de maio, em Brasília. Elas denunciaram o jogo escuso para que o processo de impeachment fosse aceito pelo plenário da Câmara, no dia 17 de abril.

“No último dia 17, naquele circo dos horrores, nós mostramos como eles articularam as trevas neste país, a partir de um acordo que pressupõe, entre outras coisas, a retirada de direitos e a manutenção daquele que fere o decoro parlamentar, a democracia e a própria República. A manutenção de Eduardo Cunha na Câmara foi fruto da negociação para golpear Dilma Rousseff. É por isso que nós vimos que eles mudaram o conceito do crime cometido por Cunha, para dizer que ele não mentiu, apenas omitiu informações, o que não enseja cassação de mandato. Nós vimos que tão logo houve um golpe no dia 17, eles disseram que Eduardo Cunha também não teve direito de defesa. É muito paradoxal: um país onde corruptos tentam cassar uma mulher honesta, sem crime algum provado”, discursou a deputada Érika Kokay.

Erro que não justifica o golpe

Figura histórica nos governos petistas, o ex-ministro Gilberto Carvalho participou do Ato Unificado Contra o Golpe em Brasília, neste 1º de maio. Ele disse que tanto o governo Lula quanto o governo Dilma não acertaram ao aplicar uma política que favorecesse à elite e a classe trabalhadora. “Talvez nossa ilusão foi achar que eles eram aliados. Eles foram nos apoiando, ou pelo menos nós achávamos que era assim, e nós esquecemos da luta de classe e de desenvolver uma comunicação junto à sociedade, uma comunicação que despertasse a consciência. Mas isso não justifica o golpe”, avaliou.

O caos almejado pela direita, segundo Gilberto Carvalho, aponta para retrocessos, mas também indica mudanças necessárias para dar seguimento à luta em defesa de um Brasil mais justo e igualitário. “Antevejo a possibilidade de uma nova Primavera, através da convergência das forças de esquerda. Precisamos continuar unidos, superando nossas divergências. A crise está gerando um processo de purificação, de correção dos nossos erros. Assim poderemos avançar nas conquistas”, analisou.

Neste processo de renovação, o dirigente da Fetec Centro-Norte, Jacy Afonso, avalia que “a luta sindical deverá realizar um aprofundamento da discussão política”. “Nossa luta deverá ir além da ação sindical. Durante os governos democráticos, erramos em termos nos sentido confortáveis e não pressionado o suficiente. Da mesma forma, o governo errou em não ter feito mudanças estruturais”, disse.

Luta incessante

A agenda de ações que se contrapõem ao golpe de Estado e defende a democracia reserva pelo menos mais duas atividades importantes na atual conjuntura.

No próximo dia 3, terça-feira, Brasília receberá a tocha olímpica. Para dar visibilidade à luta em defesa da democracia, neste dia, os trabalhadores estarão às 7h, na Praça dos Três Poderes. “Temos que aproveitar o momento de mídia internacional para denunciar o golpe”, explica o dirigente da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues.

Já no dia 10 de maio, a classe trabalhadora do DF vai promover o dia nacional de paralisações, chamado pela CUT e frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. As atividades serão divulgaras em breve.

A atividade do dia 10 precede a análise do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff pelo Senado Federal. Na Casa, primeiro haverá o reconhecimento da denúncia, que, para passar, precisa de maioria simples (41 senadores). Neste caso, Dilma é afastada por 180 dias, inicia-se um julgamento comum, conduzido pelo presidente do STF. Caso a denúncia não seja aceita, o processo é arquivado. Na segunda fase, para um impeachment, é preciso que dois terços da Casa (54 senadores) votem favoráveis ao processo.

A programação do Dia do Trabalhador em Brasília foi marcada com uma Virada Cultural, com participação de mais de 300 integrantes do movimento Artistas pela Democracia de Brasília, que vem dando apoio às manifestações de rua contra o golpe promovidas nos últimos meses pelas Frentes e pela CUT. Por quase dez horas, os artistas realizaram atividades teatrais e musicais entre a tarde de sábado e a madrugada de domingo, estimulando a luta democrática. O ato Unificado Contra o Golpe foi encerrado também com manifestações artísticas, com uma roda de samba, ditando ritmo para a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores.

Fonte: Frente Brasil Popular
http://frentebrasilpopular.com.br/noticias/ato-unificado-contra-o-golpe-897c/

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