Um padre com cheiro de ovelhas: o Pe.Cicero Romão Batista

Nos dias 20-24 de março se realizou em Juazeiro do Norte, Ceará, o V­º Simpósio Internacional Padre Cícero com o tema “Reconciliação…e agora?”

Fiquei admirado pelo alto nível das exposições e das discussões com a presença de pesquisadores nacionais e estrangeiros. Tratava-se da reconciliação da Igreja com o Pe. Cícero que sofreu pesadas penas canônicas, hoje questionáveis, sem jamais se queixar, num profundo respeito às autoridades ecclesiasticas e reconciliação com os milhares de romeiros que o consideram um santo.

Indiscutivelmente o Pe. Cícero Romão Batista (1844-1034), por suas múltiplas facetas, é uma figura polêmica. Mas mais e mais as críticas vão se diluindo para dar lugar àquilo que o Papa Francisco através do Secretário de Estado Card. Pietro Parolin, numa carta ao bispo local Dom Fernando Panico de 20 de outubro de 2015, expressamente diz que no contexto da nova evangelização e da opção pelas periferias existenciais a “atitude do Pe. Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os, constitui, sem dúvida, um sinal importante e atual”.

O Pe. Cicero corporifica o tipo de padre adequado à fé de nosso povo, especialmente nordestino. Existe o padre da instituição paróquia, classicamente centrada no padre, nos sacramentos e na transmissão da reta doutrina pela catequese. É um tipo de Igreja que se autofinaliza e com parca incidência social em termos de justiça e defesa dos direitos humanos especialmente dos pobres.

Entre nós surgiu um outro tipo de padre como o Pe. Ibiapina (1806-1883), que foi magistrado e deputado federal, tendo abandonado tudo para, como sacerdote, colocar-se a serviço dos pobres nordestinos, como o Pe. Cícero, o Frei Damião, Pe. José Comblin entre outros. Eles inauguraram um outro tipo ação religiosa junto ao povo. Não negam os sacramentos, porém, mais importante é acompanhar o povo, defender seus direitos, criar por toda parte escolas e centros de caridade (de atendimento), aconselhá-lo e reforçar sua piedade popular. Esse é o tipo de padre adequado à nossa realidade e que o povo aprecia e necessita.

Esse era também o método do Pe. Cícero que se desdobrava em três vertentes: primeiro conviver diretamene com o povo, cumprimentando e abraçando a todos; em seguida visitar todas as casas dos sítios, abençoando a todos, a criação dos animais e as plantações; por fim orientar e aconselhar o povo nas pregações e novenas; ao anoitecer reunia as pessoas diante de sua casa e distribuía bons conselhos e encaminhava para o aprendizado de todo tipo de ofícios para tornarem independentes.

Neste contexto o Pe. Cícero se antecipou ao nosso discurso ecológico com seus 10 mandamentos ambientais, válidos até os dias de hoje (“não derrube o mato nem mesmo um só pé de pau” etc).

O Pe. Comblin, eminente teólogo, devoto do Pe. Cícero e que quis ser enterrado ao lado do Pe. Ibiapina escreveu com acerto: ”O Padre Cícero adotou amorosamente os pobres e advogou a causa dos nordestinos oprimidos, dedicando-lhes incansavelmente 62 anos de vida. E o povo pobre o reconheceu, o defendeu e o consagrou, continuando a expressar-lhe o seu devotamento, porque viu e vê nele o Pai dos Pobres. Antecipou em muitos anos as opções da Igreja na América Latina. É impossível negar a sincera opção pelos pobres, como foi dito por um deles:”Meu padrinho é padre santo/como ele outro não há/ pois tudo o que ele recebe/ tudo de esmola dá”(O Padre Cícero de Juazeiro, 2011 p.43-44).

Curiosamente, se recolhermos os muitos pronunciamentos do Papa Francisco sobre o tipo de padre que projeta e quer, veremos que o Pe. Cícero se enquadra. à maravilha, ao modelo papal. Não há espaço aqui para trazer a farte documentação que se encontra no meu blog (www.leonardoboff.wordpress.com) que recolhe minha intervenção em Juazeiro: “O Padre Cícero à luz do Papa Francisco”.

Repetidas vezes enfatiza o Papa Francisco que o padre “deve ter cheiro de ovelha”, quer dizer, alguém que está no meio de seu “rebanho” e caminha com ele. Cito apenas dois textos emblemáticos, um proferido ao episcopado italiano no dia 16 de maio de 2016 onde diz:”O padre não pode ser burocrático mas alguém que é capaz de sair de si mesmo, caminhando com o coração e o ritmo dos pobres”. O outro aos bispos recém sagrados no dia 18 de setembro de 2016:”o pastor deve ser capaz de escutar e de encantar e atrair as pessoas pelo amor e pela ternura”.

Estas e outras qualidades foram vividas profundamente pelo Pe. Cícero, tido como o Grande Patriarca do Nordeste, o Padrinho Universal, o Intercessor junto a Deus em todos os problemas da vida, o Santo cuja intercessão nunca falha. Os romeiros e devotos sabem disso. E nós secundamos esta convicção.

(16-04-2017)

El desatino de los análisis económicos actuales

Sigo con atención los análisis económicos que se realizan en Brasil y en todo el mundo. Con raras y buenas excepciones, la gran mayoría de los analistas son rehenes del pensamiento único neoliberal mundializado. Es raro que hagan una autocrítica que rompa la lógica del sistema productivista, consumista, individualista y anti-ecológico. Y aquí veo un gran riesgo ya sea para la biocapacidad del planeta Tierra o para la supervivencia de nuestra especie.

El título del libro de Jesse Souza La insensatez de la inteligencia brasileña (2015) inspiró el título de mi reflexión: “El desatino de los análisis económicos actuales”.

Mi sentido del mundo me dice que podemos conocer cataclismos ecológicos y sociales de dimensiones dantescas si no tomamos absolutamente en serio dos factores fundamentales: el factor ecológico, de carácter más objetivo, y la recuperación de la razón sensible, de sesgo más subjetivo.

En cuanto al factor ecológico: la mayoría de la macroeconomía todavía alimenta la falsa ilusión de un crecimiento ilimitado, en el supuesto ilusorio de que la Tierra dispone igualmente de recursos ilimitados y tiene una capacidad de recuperación ilimitada para soportar la explotación sistemática a que es sometida. La maldición del pensamiento único muestra un soberano desprecio por los efectos negativos en términos de calentamiento global, la devastación de los ecosistemas, la escasez de agua potable y otros considerados como externalidades, es decir, datos que no entran en la contabilidad de las empresas. Este pasivo se deja para que lo resuelva el estado. Lo que debe ser garantizado en cualquier forma son las ganancias de los accionistas y la acumulación de riqueza a niveles tan inimaginables que dejarían loco a Karl Marx.

La gravedad radica en el hecho de que los órganos que se ocupan del estado de la Tierra, desde las organizaciones mundiales como la ONU, a los nacionales que denuncian la creciente erosión de casi todos los elementos esenciales para la continuidad de la vida (alrededor de 13), no se tienen en cuenta. La razón es que son antisistémicos, perjudican el crecimiento del PIB y los grandes beneficios de las empresas.

Los escenarios proyectados por centros de investigación serios son cada vez más perturbadores. El calentamiento, por ejemplo, no para de aumentar como se afirmó ahora en la COP 22 de Marrakesch. La temperatura global en 2016 ha sido 1,35º C por encima de lo normal para el mes de febrero, la más alta de los últimos 40 años. Los propios científicos como David Carlson, de la Organización Meteorológica Mundial, un organismo de la ONU, declaró: “Esto es increíble… la Tierra es ciertamente un planeta alterado”.

Tanto la Carta de la Tierra como la encíclica de Francisco Laudato Si: cómo cuidar de la Casa Común advierten de los riesgos que corre la vida sobre el planeta. La Carta de la Tierra (grupo animado por M. Gorbachov, en el que he participado) es contundente: «o formamos una alianza global para cuidar la Tierra y unos de otros o corremos el riesgo de destruirnos y destruir diversidad de la vida».

En los debates sobre economía, en casi todas las instancias, los riesgos y los factores ecológicos ni siquiera se nombran. La ecología no existe, incluso en las declaraciones del PT, en las que no aparece siquiera la palabra ecología. Y así, inconscientemente, hacemos un camino de no retorno, a causa de la ignorancia, irresponsabilidad y ceguera producidas por el deseo de acumulación de bienes materiales.

Donald Trump ha dicho que el calentamiento global es un engaño y que cancelará el acuerdo de París, ya firmado por Obama. Paul Krugman, Nobel de Economía, ha advertido de que tal decisión significaría un daño grave para EE.UU. y para todo el planeta.

Conclusión: o incorporamos los datos ecológicos en todo lo que hacemos, o nuestro futuro no estará garantizado. La estupidez de la economía sólo nos ciega y nos perjudica.

Pero este dato científico, resultado de la razón instrumental analítica, no es suficiente, ya que analiza y calcula friamente y entiende al ser humano fuera y por encima de la naturaleza. A la que puede explotar a su voluntad. Tenemos que completarla con el rescate de la razón sensible, la más antigua en nosotros. En ella se encuentra la sensibilidad, el mundo de los valores, la dimensión ética y espiritual. Ahí residen las motivaciones para el cuidado de la Tierra y para comprometernos en un nuevo tipo de relación amistosa con la naturaleza, sintiéndonos parte de ella y sus cuidadores, reconociendo el valor intrínseco de cada ser e inventando otra manera de satisfacer nuestras necesidades y el consumo con una sobriedad compartida y solidaria.

Tenemos que articular los dos factores, el ecológico (objetivo) y el sensible (subjetivo): de otro modo difícilmente escaparemos, tarde o temprano, de la amenaza de un colapso del sistema-vida.

(27-11-2016)

Traducción de Mª José Gavito Milano

A mão pesada do Estado sobre os mais pobres

Há quatros anos, a cidade do Rio de Janeiro foi surpreendida pela maior manifestação desde a redemocratização do país na metade da década de oitenta. O estopim foi o aumento das passagens de ônibus e outras reivindicações. Calcula-se que mais de cinquenta mil pessoas estavam espalhadas pelas principais ruas do centro da cidade. A cidade estava fora de controle: lojas, pontos de ônibus e praças foram danificadas. No final do balanço e de tanto caos, a polícia conseguiu prender uma pessoa: Rafael Braga. Sua foi o fato de ele estar portando uma embalem de pinho (detergente para limpeza doméstica) .O Estado armado tinha que mostrar sua eficiência.
Rafael Braga é morador de rua, não sabe ler e escrever, mal consegue expressar as palavras corretas. No entanto, o Estado o escolheu para ser o bode expiatório das manifestações do Rio. Ele foi sentenciado na semana passada a onze anos de prisão.
Esse exemplo da polícia dá a dimensão de como o Estado trata os desiguais desse país. Fazendo um paralelo, lembro-me que quando estudei o período Regencial, no Brasil Império, houve muito derramamento de sangue. A Regência tratou com mão de ferro as revoltas de caráter popular (Malês, Balaiada,Cabanagem e outras). Essas revoltas não chegaram a mais de quatro anos de conflito, pois o Estado agiu brutalmente. Por outro lado, a Revolta Farroupilha durou exatos dez anos de conflitos.
Aonde quero chegar ao fazer esta comparação? Conforme citado acima, o Estado sabe tratar de maneiras desiguais os atores sociais envolvidos. Quando se trata de grupos sob condições adversas, ele sabe até onde pode apertar. Rafael Braga faz parte desse grupo social que o Estado armado sabe como tratar. Aproveitando-se da pouca escolaridade do rapaz, simplesmente o poder cai em cima dele sem perdão.
Isto é uma pequena amostra. Agora amplie a sua mente, e imagine quando este aparelho opressor chega às favelas? O artigo 5º da constituição é rasgado. Nem sempre o favelado é tratado com os mesmos direitos de igualdade. Quando o problema é criminalizar a pobreza, a favela e os moradores são assistidos pelo poder .
O caso Rafael Braga é a síntese de outros descasos do poder com os mais pobres desse país. Sinto medo do Estado policialesco. Nada contra aqueles homens e mulheres que vestem a farda, sabemos que estes também são vítimas iguais aos demais. Tenho críticas sim à instituição e aos que a polícia presta serviços. Sabemos como seremos tratados.
Torço para que Rafael Braga e outros com a mesma condição tenham seus casos resolvidos. Torço também para que um dia o Estado trate todos com igualdade.

Livros nas Praças circula pela cidade nos próximos dias

Divulgação
O “ônibus-biblioteca” vermelho do projeto “Livros nas Praças”, patrocinado com exclusividade pela Lojas Americanas e pela Americanas.com, vai circular pela cidade durante a semana e estacionar em Madureira, Mangueira, Tijuca, Saúde e Triagem para emprestar livros gratuitamente.
Com um acervo formado 80% por livros de autores brasileiros, o veículo oferece 60 livros com ilustrações em braile para crianças, livros em fonte ampliada para pessoas com baixa visão, audiobooks para deficientes visuais e 30 livros em braile para adultos. E ainda conta com acervo de 50 livros específicos de literatura afro-brasileira e indígena. A biblioteca sobre rodas oferece ainda cadeira de transbordo, própria para cadeirantes e idosos com dificuldades de subir a escada de acesso, além de banheiro e água mineral para os leitores que utilizarem o ônibus como espaço de leitura.
A ação acontece das 10h às 16h, nos seguintes locais:
Parque de Madureira (Madureira)
29/04;
Vila Olímpica da Mangueira (Mangueira)
02/05;
Praça Comandante Xavier de Brito (Tijuca)
03/05;
Praça Mauá (Saúde)
04/05;
Nave do Conhecimento (Triagem)
05/05

Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver

Hoje, eu quero a rosa mais linda que houver. E a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu Bem”…

É essa música de Dolores Duram que me vem ao coração ao iniciar esse Sábado Santo. Um dia de espera e de esperança.

No mundo atual, Jesus e o próprio Deus (o Espírito) parece estar sepultado, morto… A quase cada dia um atentado terrorista, um presidente dos Estados Unidos que parece doido para ver o mundo pegar fogo. No Brasil, a Globo e os meios de comunicação continuando a dirigir o povo contra os interesses da imensa maioria da população… E no plano da Igreja, um papa que fala a profecia como João Batista gritando no deserto.

Nesse sábado à noite, basta irmos às celebrações nas paróquias e catedrais e perceberemos que a mensagem do papa ainda não chegou na maioria das comunidades locais. As celebrações continuam engessadas por uma concepção de Igreja hierárquica que o papa está tentando mudar (É só ler a sua carta Evangelii Gaudium) e a liturgia ainda muito comprometida com o que o papa chamou de “mundanismo sagrado”, uma capa de sagrado em uma concepção de ministério que é mundana, autoritária e narcisista. Isso em nome de Deus.

Ainda ontem (sexta-feira santa), na Via Sacra que dirigiu no Coliseu de Roma, com milhares de pessoas, o papa no final da celebração pediu perdão a Jesus pelos pecados do mundo. Mas, não deixou de dizer em voz alta e clara que tinha vergonha também pelos pecados nossos da Igreja (quando nós bispos, padres e religiosos/as abandonamos o primeiro amor, a primeira fidelidade). Nesse ano, se completam 50 anos da Conferência dos Bispos Latino-americanos em Medellin quando eles propuseram que nossa Igreja se tornasse mais uma Igreja pascal, isso é, uma Igreja do Êxodo, ou seja, “servidora de toda a humanidade – consagrada à libertação de todos e de cada ser humano por inteiro” (Med 5, 15).

De todo modo, mesmo em meio a todas essas contradições atuais, a fé nos faz esperar e crer…

Como as mulheres amigas de Jesus. Na hora em que todos os homens amigos desertaram, elas foram ao sepulcro e o evangelho conta: “Maria Madalena e Maria, a mãe de Jesus ficaram olhando, contemplando o túmulo no qual Jesus tinha sido colocado” (Mc 15, 45). Fiquemos nós também olhando, contemplando o túmulo ou os túmulos onde até hoje os homens tentam aprisionar Jesus sem saber que o Espírito já o tirou do mundo da morte e lhe deu uma vida nova. Vivamos esse Sábado Santo como o tempo da nossa esperança.

(15-04-2017)

Greve Geral marcará Dia em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho

Nesta sexta-feira, 28 de abril, dia em que o Brasil vai parar contra as propostas de reformas da Previdência e trabalhista, além de diversas outras ameaças aos direitos dos trabalhadores que tramitam no Congresso Nacional, também se celebra, o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.

A data foi estabelecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para lembrar a morte de 78 trabalhadores na Virgínia, nos Estados Unidos, após a explosão de uma mina, no dia 28 de abril de 1969.

No Brasil, as centrais sindicais celebram o dia e chamam a atenção para o aumento dos casos de doenças e mortes relacionadas à rotina estressante de trabalho, que tende a aumentar com a aprovação da nova lei que libera a terceirização irrestrita.

Sancionada por Michel Temer, a lei libera a terceirização do trabalho em todas as atividades. Especialistas ressaltam que não é coincidência que a terceirização esteja associada ao maior número de acidentes, muitas vezes fatais, e ao adoecimento de trabalhadores.

A médica e pesquisadora da Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), Maria Maeno, abordou o assunto da terceirização e a sua relação com o aumento dos acidentes de trabalho.

Segundo Maeno, pesquisas mostram que a terceirização aumenta a probabilidade de se morrer no trabalho, e é totalmente compreensível que a segurança e a saúde dos trabalhadores terceirizados sejam mais vulneráveis em uma relação de desigualdade crescente entre os donos do capital e os trabalhadores, em que mais do que nunca, os interesses econômicos prevaleçam sobre a vida e a saúde dos que trabalham. “Com a nova Lei das Terceirizações, que permite a contratação de trabalhadores terceirizados até para as atividades-fim das empresas de todos os setores, e a possibilidade de aprovação da reforma trabalhista (PL 6787/2016) e da reforma da Previdência, que obrigará as pessoas trabalhar até no mínimo 65 anos, os riscos de acidentes de trabalho devem aumentar ainda mais”, alerta Previtale.

É por isso que o tema das mobilizações e dos debates promovidos pelos trabalhadores este ano será A Reforma Trabalhista Aumentará Acidentes, Doenças e Mortes no Trabalho.

A proposta de reforma trabalhista revoga 18 pontos da CLT e prevê terceirização, flexibilização da jornada, fatiamento das férias e enfraquecimento do movimento sindical.

O texto permite, inclusive, que grávidas ou mulheres que estão amamentando trabalhem em condições insalubres – aquelas que podem fazer mal à saúde, como barulho, calor, frio ou radiação em excesso.

“O dia 28 de abril não é uma data de comemoração, mas de reflexão sobre a falta de segurança no ambiente de trabalho e este ano temos muito a lamentar. Um ano de golpe contra a trabalhadora e o trabalhador brasileiro com a reforma trabalhista que ao invés de proteger, tira direitos trabalhistas conquistados com muita luta. Por isso este ano vamos marcar a data com uma Greve Geral para mostrar o descontentamento do povo brasileiro”, afirmou Elgiane Lago, secretária da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora da CTB.

Fonte: CTB
http://ctb.org.br/site/secretarias-da-ctb-nacional/saude-e-seguranca-no-trabalho/32345-28-de-abril-greve-geral-marca-dia-em-memoria-das-vitimas-de-acidentes-e-doencas-do-trabalho

Dom Pedro Casaldáliga: governo Temer está em ‘posição de guerra contra os pobres’

O bispo Dom Pedro Casaldáliga, de São Félix do Araguaia é um dos criadores da Comissão Pastoral da Terra, que surgiu na, na década de 70. Nota enviada pela Prelazia de São Félix, afirma que “Vivemos um clima de “Terra sem lei”, uma verdadeira guerra civil em nosso país”.

Aqui a íntegra da nota:

EM MATO GROSSO O CAMPO JORRA SANGUE

A Prelazia de São Félix do Araguaia, em reunião com suas/seus agentes de pastoral, seu bispo dom Adriano Ciocca Vasino e o bispo emérito dom Pedro Casaldáliga, na cidade de São Félix do Araguaia – MT, manifesta sua dor, indignação e solidariedade com as famílias assassinadas na Gleba Taquaruçu, município de Colniza – MT, no dia 20 de abril.

Este massacre acontece num momento histórico de usurpação do poder político através de um golpe institucional, com avanços tão graves na perda de direitos fundamentais para o povo brasileiro que coloca o governo do atual presidente Temer numa posição de guerra contra os pobres, isso refletido de forma concreta nos projetos, como as Medidas Provisórias 215 e 759, que violam direitos dos povos do campo e comunidades tradicionais, como também no acirramento do cenário de violações contra as/os defensores de direitos humanos. Diversos políticos expõem abertamente seus discursos de ódio e incitação à violência contra as comunidades que lutam pelos seus direitos. Vivemos um clima de “Terra sem lei”, uma verdadeira guerra civil em nosso país.

Como consequência, o ano de 2016 foi o mais violento dos últimos 13 anos, apontando para uma perspectiva desoladora no campo. E esta situação de Colniza, onde assassinaram inclusive crianças, nos expõe diante dos objetivos de ruralistas que não temem nada para conseguir as terras que buscam.

As famílias de agricultores da Gleba Taquaruçu vêm sofrendo violência desde o ano de 2004. Neste período, em decisão judicial, a Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt ganha reintegração de posse concedida pelo juiz de Direito da Comarca de Colniza, como anunciada na Nota da Comissão Pastoral da Terra, de 20 de abril deste ano. Em 2007, ao menos 10 trabalhadores foram vítimas de tortura e cárcere privado e, neste mesmo ano, três agricultores foram assassinados.

Como estão, neste momento, as famílias que vivem em Colniza? O município já foi considerado o mais violento do país. Sabemos que na região existem outros conflitos de extrema gravidade, como o da fazenda Magali, desde o ano 2000, e o conflito na Gleba Terra Roxa, desde o ano de 2004. A população teme que outros massacres possam acontecer.

Clamamos justiça e que os autores desses crimes sejam processados e punidos. A conseqüente impunidade no campo, fruto da omissão dos órgãos públicos, perpetua a violência.

Na semana em que lamentamos o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1997, que vitimou 19 lutadoras e lutadores do povo, somos surpreendidos por outro massacre no campo, que quer amedrontar, calar as vozes e submeter a dignidade do povo brasileiro.

Temos a certeza que o massacre ocorrido jamais roubará os sonhos e as esperanças do povo. E jamais calará a voz das comunidades que lutam.

O sangue dos mártires será sempre semente de JUSTIÇA e VIDA!

São Félix do Araguaia, 21 de abril de 2017

Fonte: Jornalistas Livres
https://jornalistaslivres.org/2017/04/dom-pedro-casaldaliga-governo-temer-esta-em-posicao-de-guerra-contra-os-pobres/

“Modernização” à brasileira: de volta à senzala?

Neste momento (manhã-tarde do dia 25/04/2017), estamos a acompanhar, indignados, a sessão da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, ultimando acertos (na verdade, desacertos) para a votação de sua famigerada “Reforma Trabalhista”, destinada, conforme apregoam Governo e setores dirigentes e dominantes da sociedade brasileira, a “modernizar” a legislação trabalhista do Brasil, especialmente alterando profundamente a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ainda que esta venha sendo, há vários anos, e em diversos de seus artigos, alterada.

O que, de fato, pretendem os dirigente, as grandes empresas e os demais segmentos componentes do Capitalismo no Brasil, e que condições têm permitido tal desfecho? Eis o que, em breves linhas, tratamos de refletir.

Uma primeira observação a assinalar: a chamada “Reforma Trabalhista” forma apenas uma parte da sanha “reformista” das forças dominantes no atual contexto nacional e internacional. No caso da sociedade brasileira, este componente “reformista” só pode ser melhor entendido, se e quando situado num contexto mais amplo de “Reformas”, a incluir a “reforma”, previdenciária, a “reforma” educacional, a “reforma” política e a “reforma” tributária, sem esquecermos outros pontos fulcrais em disputa (reforma agraria, reforma urbana, medidas de proteção sócio- ambiental…). Por mais aguerrida que venha a ser qualquer resistência pontual aos crescentes ataques dos setores dominantes e dirigentes aos direitos sociais, conquistados a duras penas, não apenas resulta ineficaz e insuficiente, como ainda pode acabar transformando-se numa armadilha da sanha capitalista, posto que, sendo o objetivo central do modelo vigente o de manter-se e ampliar-se indefinidamente, a mera reação pontual não lhe constitui barreira maior. Ademais, por outro lado, a alternativa de saída das classes subalternizadas cada vez mais se revela, mais do que em reações pontuais, em seu empenho de construir um novo modo de produção, um novo modo de consumo e um novo modo de gestão societal, alternativos ao Capitalismo, o que deve ser ensaiado, desde já, ainda que num processo molecular.

Com efeito, os desafios se têm revelado cada vez mais complexos, em sua tessitura integral. Por exemplo, as lutas em defesa da natureza e dos humanos já não se limitam ao plano meramente socioambiental, à medida que combater, a sanha do hidro-agronegócio se acha organicamente articulada a diversos outros projetos seus. Tais como a avidez privatista, a sobrevivência dos paraísos fiscais, ao controle crescente dos aparelhos de Estado, o desmonte dos direitos sociais, ainda que constitucionalmente assegurados, etc. Uma simples ilustração desta tese: No presente ainda que nos fosse possível enfrentar exitosamente as reformas em curso (trabalhista, educacional, previdenciária, política, tributária…), ainda assim, outros tantos desafios se acham igualmente em curso: A reforma agrária segue paralisada; os códigos florestal, de mineração e outros se revelam tímidos ou inócuos; o deficit habitacional continua crescente, enquanto se constata maior o número de residências fechadas do que o número de famílias sem teto…

(cf. https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=869985579826255&id=164188247072662)

Antes de reavivarmos a memoria de iniciativas experiências moleculares grávidas de alternatividade, que já se acham em processo, tratamos de chamar a atenção para algumas condições que propiciaram este estado de coisas, em especial, no caso da sociedade brasileira, e o fazemos, perguntando-nos:

– Teriam as forças dominantes e dirigentes, seja no âmbito do Estado, seja no âmbito do Mercado, tamanha facilidade de organização e de implementação de sucessivos ataques às classes subalternizadas, se estas tivessem mantido seu ritmo organizativo, formativo e de mobilização, como foram capazes de manter nas décadas dos anos 70 e 80?
– A correlação de forças profundamente desigual, nos dias correntes tem ou não a ver com este abandono pelas forças e movimentos populares, de seu compromisso transformador e de fidelidade aos interesses da Classe Trabalhadora?
– O massacrante desempenho das forças dominantes e dirigentes seria o mesmo, se os movimentos sociais e as demais organizações de base se tivessem mantido enraízadas, no campo e na cidade, nos núcleos, nas pequenas comunidades, nos conselhos populares, etc., gozando da confiança e do apoio das massas populares?
– Hoje, se queixa, com razão, do alto nível de alienação reinante, tornando populações inteiras reféns da saga midiática, inclusive nas redes sociais, se as experiências formativas tivessem sido mantidas ao longo das últimas décadas?
– Se o compromisso de classe e o estilo de vida de dirigentes e coordenadores de nossas organizações de base e movimentos populares se revelassem convincentes, as camadas populares revelariam forte descrença nas lideranças e nos próprios movimentos sociais, em grande parte?
– Em que medida deixamos de testemunhar nosso apreço pelo exercício da autonomia, frente ao Mercado e instâncias governamentais, de modo a arrefecer nossa capacidade de denúncia aos malfeitos, preferindo certo silenciamento frente aos desmandos cometidos por governos aliados?

Tratemos, enfim, de considerar pistas de superação do atual estado, a partir da imperiosa necessidade de exercitarmos a auto-crítica, não tanto em palavras, mas em gestos concretos, coletivos e pessoais. Aqui, não se trata de uma verborragia de auto-culpabilidade, mas de uma auto-avaliação prospectiva, com ênfase em nossos compromissos de retomada, em novo estilo de nossa presença e participação cotidianas junto às comunidades do campo e da cidade, de modo a reconquistar a confiança da Classe Trabalhadora e das Massas Populares, em função de cujas lutas nos dizemos comprometidos.

Nesse sentido, nem precisamos partir da estaca zero. Em nossas próprias organizações de base, podemos encontrar, ainda que molecularmente, experiências de alternatividade, no campo e na cidade, às quais devemos nos voltar, não tanto como “professores”, mas como parceiros a nos somarmos a essas iniciativas, nas perspectiva da construção processual de um novo modo de produção, de um novo modo de consumo e de um novo modo de gestação societal, por meio da retomada de nossos compromissos organizativos, formativo e de mobilização.

João Pessoa, 26, de abril de 2017.

O poder dos corruptores

Por Roberto Malvezzi (Gogó)

A Odebrecht montou um esquema estruturado de propina. Um delator denunciou que “havia um certo prazer de comprar”. Já não era sequer a velha prática das empresas de comprar agentes públicos conforme seus interesses, mas a satisfação de ver tanta gente “comer na mão”.

A prática existe há trinta anos, segundo Emílio. Ele fala rindo, sabendo que tem nas mãos a cabeça de muita gente. Portanto, outros governos também sucumbiram ao poder dos corruptores.

Estamos falando apenas de uma empresa. Não há como detalhar o que acontece nos estados e nos municípios. Só sabemos que nenhuma esfera do poder público escapa ao conluio dos corruptores com os agentes públicos, com as exceções de sempre.

Porém, para os corruptores a propina é investimento, mesmo que seja alta. Só pode investir centenas de milhões de reais em propina quem tem certeza de seu retorno através de obras financiadas pelo dinheiro público.

Mas, a ação corruptiva não terminou, para a desgraça do povo brasileiro. Quem ganhou para que a dívida de 25 bilhões do Itaú fosse perdoada agora? Quem está pagando para que a Reforma de Previdência seja feita, favorecendo a previdência privada? Quantas empresas e empresários estão financiando a mudança na legislação trabalhista? Quem da educação pagou pela mudança no currículo escolar? E quem ali naquele Congresso está se vendendo para operar essas mudanças?

O poder dos corruptores é medonho, do tamanho do capitalismo e não faltarão corruptos para aceitar os subornos, mesmo que seja para condenar o povo ao pão que o diabo amassou, se é que ele amassa o pão para alguém.

(17-04-2017)